Cientistas analisam a genética de cães selvagens que vivem na Zona de Exclusão de Chernobyl e encontram sinais inesperados de adaptação, sugerindo possíveis alterações evolutivas em ambientes com radiação, mas sem confirmar mutações diretamente causadas pelo acidente nuclear.
Um estudo genético realizado com 302 cães selvagens que vivem próximos à Usina Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, identificou diferenças marcantes em comparação a cães de regiões próximas, levantando a hipótese de um processo de evolução acelerada em áreas com contaminação radioativa.
A pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade da Carolina do Sul e do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, com publicação na revista Science Advances em 2023.
O principal objetivo foi investigar de que forma a exposição prolongada à radiação poderia afetar o DNA desses animais.
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Os cães analisados habitam a chamada Zona de Exclusão de Chernobyl, área isolada desde o acidente nuclear de 1986.
Evolução genética em áreas irradiadas
Segundo os dados, os cães que vivem nas proximidades imediatas da usina apresentaram variações genéticas distintas em relação aos cães encontrados a 16 quilômetros de distância, na cidade de Chernobyl.
Os pesquisadores identificaram diferenças genéticas em mais de 390 regiões do genoma, algumas relacionadas a mecanismos de reparo celular e resposta ao estresse ambiental.
Essas informações reforçam a hipótese de que cães de Chernobyl estão passando por uma rápida evolução ao longo de gerações, possivelmente influenciada pelo ambiente hostil e pelo isolamento geográfico.
Radiação não é a única explicação
Apesar das variações observadas, não foi comprovado que a radiação seja o fator determinante das alterações genéticas.
Outro estudo, publicado em 2025 por cientistas da Universidade Estadual da Carolina do Norte e da Universidade de Columbia, utilizou uma abordagem mais abrangente, avaliando os genomas em níveis cromossômicos, genômicos e de nucleotídeos.
Essa análise não encontrou indícios de mutações típicas induzidas por radiação, como instabilidade cromossômica ou modificações que confeririam vantagem evolutiva evidente.
Conforme os autores, as características genéticas podem ser explicadas por isolamento reprodutivo, deriva genética e seleção natural em ambientes extremos.
Fatores ambientais e isolamento genético
Além da radiação, os cientistas consideram outros elementos ambientais que atuam na região desde o desastre de 1986, como metais pesados e resíduos industriais.
Esses fatores também podem exercer pressão seletiva sobre os animais que permanecem na área.
O isolamento da população de cães dentro da Zona de Exclusão, com reduzido intercâmbio genético com cães de outras localidades, é apontado como um fator relevante para o surgimento de um grupo geneticamente distinto.
Contexto histórico e efeitos ecológicos do acidente nuclear
O acidente de Chernobyl ocorreu em 26 de abril de 1986, quando o Reator 4 da Usina Nuclear, então localizada na União Soviética, sofreu uma explosão que liberou grandes quantidades de radiação.
A área foi evacuada, e milhares de animais domésticos ficaram para trás.
Desde então, diversas espécies passaram a habitar a região, aproveitando a ausência humana.
Estudos anteriores com outras espécies, como rãs e aves, também identificaram traços genéticos possivelmente relacionados à adaptação ao ambiente contaminado.
Um exemplo citado por pesquisadores é a presença de pigmentação escura em algumas espécies de anfíbios, o que poderia atuar como defesa contra a radiação.
Investigação contínua sobre evolução acelerada
Embora não tenha estabelecido uma relação causal direta com a radiação, o estudo de 2023 fornece um modelo importante para futuras investigações sobre os impactos ambientais em mamíferos expostos a condições extremas.
Os dados genéticos obtidos podem servir de base para entender processos adaptativos em áreas contaminadas e os limites da plasticidade genômica.
As equipes envolvidas continuam investigando as regiões do genoma que apresentaram maior diferenciação, especialmente aquelas associadas a reparo de DNA e função celular.
Também estão previstas análises sobre doenças e resistência imunológica dos cães da região.
Cães de Chernobyl estão passando por uma rápida evolução, segundo os critérios genéticos avaliados, mas os mecanismos por trás desse fenômeno ainda estão em análise.
A ausência de uma conclusão definitiva mantém o tema em aberto para estudos futuros.
Quais fatores ambientais você considera mais decisivos para explicar as mudanças genéticas nesses cães: isolamento, radiação ou seleção natural?