O caça iraniano Qaher-313 foi anunciado há mais de uma década, mas nunca conseguiu levantar voo. Entenda o caso do avião militar do Irã acusado de ser uma tecnologia falsa
Em 2013, o Irã chamou a atenção do mundo ao revelar o Qaher-313, um caça stealth apresentado como um divisor de águas na indústria de defesa iraniana. Segundo as autoridades do país, tratava-se de um avião de combate de quinta geração, equipado com tecnologia avançada, design furtivo e capacidade de operar em ambientes hostis com total autonomia.
Porém, pouco tempo após o anúncio, análises técnicas e imagens divulgadas colocaram em xeque a veracidade das alegações. Especialistas apontaram inconsistências estruturais, ausência de testes reais de voo e uma série de indícios que indicavam que o modelo exibido era, na melhor das hipóteses, uma maquete. O projeto acabou se tornando um símbolo de tecnologia falsa e propaganda militar, sem qualquer comprovação operacional até os dias de hoje.
O que era o Qaher-313?
O Qaher-313, também conhecido como F-313, foi apresentado pelo então presidente Mahmoud Ahmadinejad como um caça revolucionário que colocaria o Irã no seleto grupo de países com aeronaves stealth de quinta geração, como os Estados Unidos (com o F-22 Raptor) e a Rússia (com o Su-57). O projeto foi atribuído à Organização da Indústria Aeronáutica do Irã (IAIO), um braço do Ministério da Defesa do país.
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Segundo declarações oficiais, o caça teria capacidade de evadir radares, operar a baixas altitudes, atacar alvos com alta precisão e ser completamente produzido em território iraniano. Porém, especialistas logo notaram problemas técnicos e estruturais no que foi exibido publicamente.
Design questionável e ausência de testes do avião militar do Irã
O design do Qaher-313 levantou suspeitas imediatas. A fuselagem apresentava linhas angulares, características comuns em aeronaves stealth, mas a construção era visivelmente rudimentar. As tomadas de ar do motor eram pequenas demais para fornecer empuxo adequado. O trem de pouso parecia frágil, mais adequado a aviões leves civis do que a jatos supersônicos militares.
O cockpit, exposto em imagens oficiais, continha painéis e instrumentos similares aos encontrados em aviões experimentais ou ultraleves, como os das marcas Garmin e Dynon Avionics. Isso sugeria que o protótipo não tinha sistemas de voo sofisticados ou aviônicos militares. Além disso, não havia sinais de compartimentos internos para armamentos, que são fundamentais em caças stealth para manter a furtividade.
Outro ponto crítico foi a total ausência de registros de voo real. Nenhuma imagem ou vídeo mostrou o Qaher-313 decolando, voando ou pousando. Os únicos registros visuais envolviam o avião estacionado em hangares ou manobrado em solo.
Os vídeos de teste divulgados em 2013 mostravam apenas um modelo em escala reduzida, não tripulado, voando de forma remota — muito diferente do que se esperaria de um protótipo funcional.
Especialistas apontam falhas e propaganda do caça iraniano
Diversos especialistas internacionais em aviação militar reagiram com ceticismo. O site The Aviationist descreveu o Qaher-313 como “implausível”, afirmando que o design parecia mais adequado para filmes de ficção científica do que para uso real. Segundo o especialista David Cenciotti, “não havia absolutamente nada naquele modelo que sugerisse que ele poderia voar”.
Outros analistas chegaram a afirmar que o caça iraniano mais se parecia com uma maquete de fibra de vidro do que com um avião funcional. A revista Flight Global também criticou duramente o projeto, ressaltando que as proporções da aeronave indicavam problemas sérios de estabilidade, sustentação e empuxo.
Essa discrepância entre o discurso oficial e os fatos observáveis levou muitos a classificarem o Qaher-313 como um exemplo clássico de tecnologia falsa, usada para fins de propaganda interna e intimidação externa, especialmente em um momento de tensão política e sanções internacionais.
O retorno como drone: tentativa de reaproveitamento
Após anos de silêncio, o Irã voltou a exibir o projeto, desta vez sob uma nova forma. Em 2023, foi anunciado que o Qaher-313 seria reaproveitado como um drone de combate. A nova versão, batizada de JAS 313, foi apresentada como um Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) naval, com capacidade de reconhecimento e ataque.
O novo modelo foi exibido a bordo do navio Shahid Bagheri, um cargueiro convertido em porta-drones. No entanto, as imagens e vídeos divulgados novamente geraram dúvidas sobre a funcionalidade do sistema. O drone parecia uma réplica reduzida do modelo original e, mais uma vez, não houve demonstrações de voo.
Especialistas ocidentais voltaram a criticar o projeto, afirmando que a apresentação servia mais para impressionar a opinião pública do que para introduzir um novo armamento funcional ao arsenal do país. A falta de informações técnicas, desempenho, alcance, armamento e autonomia indicava que o avião militar do Irã seguia sem qualquer aplicação prática.
Impactos na imagem militar do Irã
O episódio do Qaher-313 teve impacto negativo na credibilidade da indústria bélica iraniana. Apesar dos avanços pontuais em drones de ataque e mísseis balísticos, o fracasso em desenvolver um caça funcional evidenciou os limites tecnológicos enfrentados pelo país, especialmente sob sanções que restringem o acesso a componentes de alta tecnologia.
Ainda que o Irã tenha buscado posicionar-se como uma potência militar autossuficiente, casos como o do Qaher-313 expõem o abismo entre ambição e realidade. Além disso, a tentativa de reaproveitar a plataforma como drone reforça a narrativa de improvisação e falta de consistência técnica.
Do ponto de vista estratégico, o episódio também prejudica o poder de dissuasão iraniano. Em um cenário onde países como Israel, Turquia e Arábia Saudita investem pesadamente em sistemas modernos de defesa e ataque, a presença de projetos não funcionais pode ser vista como um sinal de fraqueza, não de força.
O caso do Qaher-313 é um exemplo emblemático de como propaganda política pode se sobrepor à realidade técnica. O caça iraniano, anunciado com pompa como um avanço revolucionário, revelou-se incapaz de realizar sequer um voo básico, tornando-se um símbolo de tecnologia falsa no campo militar.
Mesmo com a tentativa de reaproveitamento como drone, o projeto permanece cercado de dúvidas e descrédito. Para observadores internacionais, o episódio reforça a importância de avaliações baseadas em evidências concretas e demonstrações práticas, especialmente em um setor tão crítico quanto o da defesa.
A lição deixada pelo Qaher-313 é clara: a credibilidade de um país na arena militar depende não apenas da narrativa, mas da capacidade real de entregar o que promete. E, até o momento, o avião militar do Irã permanece apenas como uma promessa não cumprida.