Britânico rejeita conforto e cruza toda a África correndo: Russ Cook percorre 16 000 km em 352 dias por 16 países, enfrenta assaltos, envenenamento e calor extremo em uma jornada histórica de coragem e superação.
Ele não pegou atalhos, não buscou fama imediata nem apoio milionário. Apenas decidiu correr — e não parou mais. Russ Cook, um britânico de 27 anos conhecido como “Hardest Geezer” (“o sujeito mais duro”), se tornou o primeiro homem da história a correr todo o continente africano de ponta a ponta, atravessando 16 países, enfrentando 352 dias de estrada, 16 000 quilômetros de distância, ataques, doenças, roubos e um calor que faria qualquer atleta profissional desistir.
Em um mundo onde a maioria busca conforto e conveniência, Cook fez exatamente o oposto: rejeitou o conforto moderno para atravessar o continente mais desafiador do planeta a pé, movido por uma mistura de propósito, resistência e caridade.
Uma corrida impossível: 352 dias e 16 mil quilômetros entre a África do Sul e a Tunísia
A aventura começou em abril de 2023, na cidade do Cabo, extremo sul da África. O destino final: o Cabo Branco, na Tunísia, o ponto mais ao norte do continente. Entre o ponto de partida e a chegada, havia montanhas, selvas, desertos e 16 fronteiras internacionais, cada uma com seus próprios riscos, burocracias e climas extremos.
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Russ atravessou países como Namíbia, Angola, República Democrática do Congo, Nigéria, Chade e Egito. Dormiu em tendas improvisadas, correu sob sol de 40 °C e enfrentou terrenos completamente inóspitos — de estradas de terra a trilhas desérticas sem água por centenas de quilômetros.
A logística foi outro desafio monumental. Em vários trechos, Cook dependia de comunidades locais para conseguir água e alimentos. Ele contou com um pequeno grupo de apoio que o acompanhava em um carro, mas muitas vezes o veículo quebrou, e ele seguiu sozinho, literalmente correndo entre aldeias desconhecidas, com o corpo coberto de feridas e bolhas.
Roubos, sequestros e envenenamento: os dias mais sombrios da jornada
Em agosto de 2023, já em plena África Ocidental, Russ foi assaltado e sequestrado por homens armados, que levaram equipamentos e ameaçaram sua equipe. Dias depois, ele foi envenenado em um pequeno vilarejo — a causa nunca confirmada e precisou de tratamento médico emergencial para sobreviver.
Mesmo debilitado, ele voltou à estrada.
Em alguns dias, corria mais de 60 quilômetros sob 42 °C; em outros, enfrentava chuvas torrenciais e lama até os joelhos. O britânico dormia em condições precárias, usava o mesmo tênis até se desintegrar e registrava cada momento em vídeos compartilhados nas redes sociais.
“Eu poderia ter voltado para casa centenas de vezes, mas toda vez que pensei em desistir, lembrei que o motivo era maior do que o sofrimento”, escreveu ele em um dos posts durante a travessia.
Correr por um propósito maior: arrecadar fundos e inspirar resistência
A jornada de Cook não foi apenas uma façanha física. Desde o início, ele decidiu que toda a corrida serviria para arrecadar fundos para instituições beneficentes no Reino Unido, voltadas à saúde mental e apoio a jovens em situação de vulnerabilidade.
No fim da jornada, ele já havia levantado mais de £700 000 (cerca de R$ 4,6 milhões) em doações, conquistando a admiração do público e de grandes atletas ao redor do mundo.
Sua filosofia era simples: “O corpo humano é muito mais capaz do que a maioria imagina. O que falta é acreditar e seguir, mesmo com medo.”
Uma travessia que testou o limite humano
A travessia africana exigiu que Russ enfrentasse altitudes superiores a 2 000 m nos planaltos da Etiópia, insegurança em zonas de conflito, e o temido deserto do Saara, onde o calor diurno ultrapassa 50 °C.
Em alguns trechos, ele corria completamente sozinho por centenas de quilômetros, ouvindo apenas o som do próprio fôlego e o vento cortante.
Ao chegar à Tunísia, no início de abril de 2024, Russ caiu de joelhos, emocionado. “Foram 352 dias, 16 000 quilômetros e incontáveis vezes em que achei que não conseguiria. Mas cada passo valeu. A África me destruiu e me reconstruiu ao mesmo tempo.”
O “Hardest Geezer” que virou símbolo mundial de coragem
A história de Russ Cook não é apenas uma conquista esportiva é um manifesto humano sobre resiliência, propósito e superação.
Enquanto muitos enxergam a África como um continente de obstáculos, ele viu nela um caminho de transformação. A cada cidade, aldeia e deserto, deixou rastros de determinação e humanidade.
Sua façanha entrou para a história das maiores travessias já realizadas a pé e inspirou uma nova geração de aventureiros, atletas e sonhadores que entenderam, com ele, que o impossível é apenas uma questão de persistência.



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