Expansão acelerada de montadoras chinesas no Brasil levanta preocupações no mercado automotivo e alerta autoridades dos Estados Unidos sobre possíveis riscos de coleta de dados e vigilância
Uma publicação oficial do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos (SOUTHCOM), a revista Diálogo Américas, que divulga conteúdos estratégicos voltados à América Latina, revelou preocupações sobre a rápida expansão das montadoras chinesas BYD e GWM no mercado automotivo brasileiro.
Segundo o artigo, além dos impactos econômicos, há alertas de especialistas sobre possíveis riscos que podem ser caracterizados como “espionagem” e uso de dados coletados por veículos elétricos e conectados fabricados na China.
A reportagem detalha que, em 1º de julho de 2025, a BYD iniciou a produção em sua fábrica na Bahia, com capacidade para 300 mil veículos por ano. Já a GWM, que adquiriu a antiga planta da Mercedes-Benz em Iracemápolis, São Paulo, prevê o início das operações ainda em 2025. Enquanto isso, cargueiros chineses, como o BYD Shenzhen, já desembarcam milhares de unidades prontas em portos brasileiros.
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Dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que, de janeiro a maio deste ano, 58.118 veículos de origem chinesa foram vendidos no Brasil, representando um aumento de 35,9% em relação a 2024 e respondendo por mais da metade do crescimento total nas vendas.
Pressão econômica e disputa por mercado
O setor automotivo brasileiro denuncia distorções tributárias. A Anfavea afirma que as importações chinesas, especialmente de veículos elétricos e híbridos, chegam ao país com impostos muito menores que os aplicados a outros fabricantes. Essa diferença teria criado uma situação de “concorrência desleal”, com potencial de reduzir a produção local e provocar demissões.
A entidade defende o retorno antecipado do imposto de importação de 35% sobre modelos híbridos e elétricos, previsto apenas para meados de 2026. O presidente da Anfavea, Igor Calvet, declarou que “no caso de modelos vindos da China, temos visto um fluxo atípico, beneficiado por tributos muito menores do que os praticados para outros países produtores, o que cria uma perigosa distorção no nosso mercado”.
Em 2024, o Brasil importou 466.505 automóveis, alta de 33% em relação a 2023, sendo a maior parte composta por veículos elétricos importados. A GWM, por exemplo, desembarcou em abril um navio com 900 unidades do modelo Haval H6, que liderou as vendas em seu segmento no primeiro trimestre.
Preocupações do Comando Sul dos EUA
Além da questão econômica, a reportagem da Diálogo Americas destaca que especialistas em segurança da informação veem riscos adicionais na entrada massiva de veículos chineses. Esses automóveis funcionam como plataformas de coleta de dados, registrando geolocalização em tempo real, rotas percorridas, voz, imagens, dados biométricos e perfis de condução.
“O perigo aumenta quando esses dados são processados por sistemas em nuvem hospedados fora do país ou controlados por empresas estrangeiras com baixa transparência sobre práticas de segurança”, afirmou Thiago Guedes, CEO da empresa Deserv, ouvido pela publicação. Ele reforçou que a capacidade de coleta e transmissão dessas informações pode representar um risco para a privacidade e até para a segurança nacional.
O texto também menciona que, segundo o Comando Sul, há precedentes que indicam que o Partido Comunista Chinês pode se valer de informações obtidas por empresas privadas para fins de inteligência e vigilância.
Essa capacidade de coleta de dados levanta sérias preocupações para a segurança nacional, dada a conhecida capacidade e disposição do Partido Comunista da China (PCC) de aproveitar informações de empresas privadas para fins de inteligência e vigilância. publicou a revista.
Lacunas na legislação brasileira
O Brasil possui a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que impõe regras rígidas para o tratamento e a transferência internacional de dados pessoais. No entanto, especialistas ouvidos apontam que a eficácia da lei depende de fiscalização ativa e cooperação técnica entre órgãos reguladores.
Para Guedes, seria necessário adotar critérios técnicos mais rigorosos antes de aprovar veículos conectados no país. Ele defende auditorias obrigatórias de cibersegurança, maior transparência nos fluxos de dados, exigência de servidores localizados no Brasil e contratos com cláusulas robustas de proteção.
Embora o Marco Civil da Internet ofereça cobertura parcial sobre o tema, a Diálogo Americas indica que o país ainda carece de um marco regulatório setorial para a segurança cibernética automotiva, estabelecendo padrões mínimos e certificações internacionais obrigatórias.
Um desafio de dupla frente para o Brasil
O avanço das montadoras chinesas no Brasil representa um duplo desafio para autoridades e para a indústria: proteger a economia nacional contra práticas comerciais consideradas desleais e, ao mesmo tempo, blindar o país contra riscos de espionagem e uso indevido de dados sensíveis.
Para o Comando Sul dos EUA, essa expansão está diretamente relacionada ao contexto geopolítico do BRICS, bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e que busca aumentar sua influência econômica e tecnológica em países emergentes.
A informação foi divulgada pelo Diálogo Americas, veículo oficial do Comando Sul que acompanha de perto a presença chinesa na América Latina e alerta para potenciais implicações na segurança regional e nas relações comerciais internacionais.