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Brics é mais ameaçador do que você pensa e união entre Brasil, China e Rússia pode tornar maior medo de Trump em realidade: o fim da hegemonia do dólar, diz especialista

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 15/08/2025 às 13:40
Brics expande influência, ameaça dólar e enfrenta tarifas de Trump. Lula reage, e tensão comercial com EUA ganha novo capítulo.
Brics expande influência, ameaça dólar e enfrenta tarifas de Trump. Lula reage, e tensão comercial com EUA ganha novo capítulo.
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Expansão do Brics, uso de moedas locais e tensão com os EUA ampliam debate sobre o futuro do dólar e movimentam a geopolítica global, com reações diretas de Donald Trump e respostas firmes do presidente Lula.

A ascensão do Brics e sua aproximação em torno de alternativas ao dólar podem colocar em risco um dos principais pilares do poder dos Estados Unidos.

A avaliação é do professor de finanças e empresário José Kobori, em entrevista publicada no Flow Podcast.

Segundo ele, a articulação entre Brasil, China, Rússia e demais membros do bloco representa um movimento “contra-hegemônico” capaz de acelerar a perda da supremacia da moeda norte-americana no comércio internacional.

Origem e objetivos do Brics

O grupo surgiu em 2009, inicialmente com Brasil, Rússia, Índia e China — a sigla era apenas “Bric”.

A entrada da África do Sul no mesmo ano transformou o nome para Brics.

Conforme explicou Kobori, o termo foi cunhado por um economista norte-americano, mas ganhou corpo a partir de iniciativas de cooperação, em especial com participação ativa do Brasil na época.

O objetivo, segundo ele, já era se contrapor à ordem unipolar liderada pelos Estados Unidos desde o fim da Guerra Fria.

No início, Washington não via o bloco como uma ameaça concreta. “Até a posse do Trump, os americanos não entendiam direito o que era o Brics”, comentou.

José Kobori, professor de finanças e empresário em entrevista publicada no Flow Podcast. (Imagem: reprodução)

Mas, quando assumiu a presidência, Donald Trump passou a mencionar o grupo de forma crítica, sobretudo por conta da criação do Novo Banco de Desenvolvimento, apelidado de “Banco do Brics”.

Um dos pontos centrais que incomodam os EUA, destacou Kobori, é a intenção de realizar transações internacionais sem usar o dólar.

O impacto da hegemonia do dólar

Para o professor, essa mudança mexe diretamente com a engrenagem que sustenta o poderio norte-americano.

“Perder a hegemonia do dólar é como perder uma guerra mundial”, disse, citando declaração do próprio Trump.

Kobori explicou que o status privilegiado do dólar permite aos Estados Unidos emitir dívida em larga escala e vendê-la globalmente.

Caso o mercado internacional deixe de comprar esses títulos, Washington teria de se financiar internamente — algo que considera inviável na escala atual.

Além dos cinco países fundadores, o Brics vem ampliando sua influência com a entrada de novas nações, incluindo o Irã.

“Hoje, o bloco já reúne mais de 50% da população mundial e cerca de 40% do PIB global”, apontou.

A China, sozinha, já possui produção industrial superior à dos Estados Unidos e da União Europeia juntos.

Esse peso econômico fortalece iniciativas como a ampliação das transações bilaterais em moedas locais, evitando a conversão em dólar.

Moedas locais e swaps cambiais

Kobori também mencionou acordos como os “swaps cambiais” realizados fora da moeda norte-americana.

A recente viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, segundo ele, reforçou esse tipo de cooperação.

Para o professor, faz mais sentido que países protejam suas economias e empresas usando as próprias moedas, sem a necessidade de passar pelo dólar.

Na visão de Kobori, essa estratégia explica por que Washington vê o fortalecimento do Brics como uma ameaça direta.

Atacar economicamente países como Brasil, Irã ou Rússia, disse, é também uma forma de enfraquecer o bloco.

Ele ressaltou ainda que a ascensão econômica da China “é irreversível” e que Pequim amplia sua rede de parcerias com África, Ásia Central e Oriente Médio, especialmente por meio da “Nova Rota da Seda”.

Postura do Brasil e tensões políticas

Na última cúpula do Brics, sediada no Rio de Janeiro, o Brasil teve papel relevante na definição da pauta.

De acordo com Kobori, a expectativa era de que o governo brasileiro adotasse um tom mais neutro, priorizando temas como saúde pública e governança da inteligência artificial.

No entanto, a resolução final incluiu críticas diretas a ações de Israel e dos Estados Unidos contra o Irã, além de condenar tarifas comerciais impostas por Trump.

Até a Índia, que geralmente busca se manter neutra, aderiu a esse posicionamento.

Essas posições levaram senadores norte-americanos, como Lindsey Graham, a sugerir possíveis retaliações comerciais contra Brasil, China e Índia.

Kobori observou que medidas como essas teriam alto custo para a economia dos EUA, que já enfrenta inflação acima da média histórica.

A imposição de tarifas elevadas sobre esses três mercados, avaliou, poderia agravar o cenário interno e dificultar os planos de Trump de reduzir juros antes das eleições legislativas de meio de mandato.

Conflito comercial ganha novo capítulo

Nesta quinta-feira (14), a CNN Brasil divulgou que o presidente Donald Trump voltou a justificar o tarifaço contra o Brasil, desta vez relacionando-o à ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado político.

Ele acusou o país de práticas comerciais injustas e confirmou a taxação de 50% sobre produtos brasileiros.

O presidente Lula respondeu afirmando que o Brasil não se ajoelhará diante da Casa Branca, embora mantenha abertura para negociações.

Em declaração, disse ter dito a Trump que, se ele tivesse feito no Brasil o mesmo que fez nos Estados Unidos durante a invasão ao Capitólio, também seria julgado e, se condenado, iria para a prisão.

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Brics expande influência, ameaça dólar e enfrenta tarifas de Trump. Lula reage, e tensão comercial com EUA ganha novo capítulo.

Mais cedo, o deputado Eduardo Bolsonaro, em entrevista à agência Reuters, afirmou esperar mais sanções de Washington a autoridades brasileiras e possivelmente novas tarifas contra o país.

Diante do impasse, o governo Lula aposta no fortalecimento das relações com países do Brics e do chamado “sul global” para ampliar mercados e adotar uma postura conjunta em defesa do multilateralismo.

Lula tenta organizar uma reunião virtual com líderes internacionais para articular uma resposta comum à diplomacia norte-americana.

Até o momento, não há confirmação oficial, e poucos chefes de governo manifestaram disposição para criticar publicamente Trump.

Resiliência do agronegócio brasileiro

No comércio, no entanto, o agronegócio brasileiro demonstrou resiliência.

Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária, as exportações cresceram 1,5% em julho de 2024 em comparação ao mesmo mês do ano anterior.

Entre os destaques está o café, que registrou alta de 25% no valor exportado.

Para José Kobori, a disputa em torno do dólar e do comércio global segue como o eixo central da tensão entre o Brics e os Estados Unidos.

Ele concluiu que, enquanto a moeda norte-americana sustentar o financiamento da política externa e militar de Washington, o país fará de tudo para evitar que blocos como o Brics ganhem força suficiente para mudar as regras do jogo.

Diante desse quadro, a pergunta que fica é: estamos testemunhando o início do fim da supremacia do dólar no sistema internacional?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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