Chanceleres do BRICS, reunidos à margem da ONU em Nova York, criticam tarifas unilaterais, pedem reforma urgente da OMC, citam Gaza e Sudão e deixam a Ucrânia fora do comunicado.
Os ministros de Relações Exteriores do BRICS realizaram reunião nesta sexta-feira (26), em Nova York, na semana de alto nível da 80ª Assembleia Geral da ONU. O encontro terminou com um comunicado que critica a “proliferação” de tarifas e barreiras e pede a restauração do sistema de solução de controvérsias da OMC, com nomeações imediatas para o Órgão de Apelação. O texto aborda conflitos no Oriente Médio e na África, mas não menciona a guerra na Ucrânia.
Participaram o chanceler brasileiro Mauro Vieira e o russo Sergey Lavrov, entre outras delegações do bloco. Registros oficiais e de chancelarias confirmam a agenda à margem da ONU.
A atual configuração do BRICS inclui os cinco membros originais e países que aderiram recentemente, como Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia. No início de 2025, o Brasil, na presidência do bloco, confirmou a entrada da Indonésia.
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Recado indireto aos EUA critica as tarifas, sanções e cobra por reforma na OMC
O comunicado critica a alta de tarifas e medidas não tarifárias unilaterais, alerta para o risco de fragmentação das cadeias globais e defende o combate ao protecionismo. Os ministros pedem “sem mais atrasos” a nomeação de novos membros do Órgão de Apelação e a plena restauração do mecanismo da OMC.
A cobrança mira um impasse que perdura desde 2019: os Estados Unidos têm bloqueado a nomeação de juízes, o que paralisou o sistema de apelação. Organismos e governos registraram que a crise segue sem solução em 2025.
No pano de fundo, está a escalada recente de tarifas dos EUA contra parceiros. Em agosto, o Brasil pediu consultas à OMC para contestar sobretaxas impostas por Washington, primeiro passo de uma disputa formal. AP, WTO e Reuters registraram o movimento.
Mensagem a Washington e à UE: CBAM e coerção econômica
O BRICS rejeita “mecanismos unilaterais e discriminatórios de ajuste de carbono nas fronteiras (CBAMs)” e outras regras ambientais que, segundo o grupo, distorcem a concorrência e disruptem cadeias de fornecimento. A posição atinge iniciativas em debate na União Europeia.
O texto também condena o uso de “medidas como forma de coerção” na política comercial. A mensagem ecoa a tensão Brasil–EUA: além das tarifas, Washington sancionou o ministro do STF Alexandre de Moraes em julho e, nesta semana, alcançou sua esposa e entidades ligadas a ele sob a Lei Magnitsky.
Ao vincular tarifas, sanções e CBAM, o BRICS tenta construir uma narrativa de coerção econômica que penaliza o Sul Global e fere o multilateralismo liderado pela ONU e pela OMC, eixo reiterado no comunicado.
Crises citadas: Gaza e Sudão, mas teve silêncio sobre a guerra na Ucrânia
Os ministros expressam “grave preocupação” com a situação no Território Palestino Ocupado e com os ataques israelenses em Gaza, defendendo “cessar-fogo imediato e permanente”, retirada das tropas, libertação de reféns e acesso humanitário em larga escala.
O documento condena o ataque de Israel ao Catar e as investidas contra o Irã desde 13 de junho de 2025, citando violações do direito internacional e riscos à segurança regional, inclusive a instalações nucleares civis.
Sobre Sudão, o BRICS pede cessar-fogo imediato, acesso humanitário e alerta para a proliferação do extremismo. A Ucrânia não é citada no texto, o que foi apontado por analistas consultados como um sinal de foco em outras crises.
Reforma do Conselho de Segurança e o papel do Brasil
O grupo volta a defender a reforma do Conselho de Segurança da ONU com mais representação de emergentes. China e Rússia reiteram apoio a Brasil e Índia para um papel “mais relevante”, inclusive no Conselho. Para Lula, é uma prioridade de política externa de 2025.
A nota reafirma o multilateralismo e condena tentativas de enfraquecer instituições por meio da retenção de contribuições ou bloqueios políticos. O alvo implícito são iniciativas que paralisam órgãos da ONU e da OMC.
Em paralelo, países do BRICS articulam no G4 e em fóruns regionais para destravar negociações que há décadas não avançam. Registros da semana em Nova York mostram encontros coordenados com esse objetivo
Você acha que os ministros do BRICS fizeram certo em criticar tarifas, rechaçar o CBAM e cobrar a reativação do Órgão de Apelação da OMC, enquanto ignoraram a guerra na Ucrânia? Ou isso revela seletividade política? Deixe seu comentário.