O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) dos BRICS prepara um mecanismo inédito de garantias para impulsionar a infraestrutura no Brasil. A iniciativa promete reduzir riscos e baratear financiamentos
O encontro de líderes do BRICS no Rio que aconteceu em 06 de julho de 2025, validou diretrizes para incubar, dentro do New Development Bank, um mecanismo multilateral de garantias pensado para reduzir risco e baratear o custo de capital de grandes obras. A novidade agora consta na Declaração do Rio, que cita explicitamente a criação piloto do instrumento no NDB.
A ideia segue a trilha de experiências internacionais e mira um gargalo prático do financiamento, muitos projetos de infraestrutura no Brasil têm retorno robusto, mas esbarram em percepção de risco regulatório, cambial e político. O “escudo de garantias” atua justamente nesses pontos, elevando a bancabilidade e abrindo espaço para PPPs e concessões com participação de fundos e bancos comerciais.
Fontes de mercado detalham que o mecanismo, apelidado de BMG, foi priorizado pela presidência brasileira do BRICS e que sua primeira versão será operada pelo NDB. A sinalização é de arranque com arcabouço já aprovado tecnicamente pelos países e desenho inspirado na MIGA, agência de garantias do Banco Mundial, de acordo com a Reuters.
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Como vai funcionar o “escudo de garantias” do NDB
Na prática, o BMG deve oferecer garantia parcial de crédito e coberturas de risco político em formatos flexíveis, inclusive com camadas de first-loss compartilhadas. Isso permite diluir riscos que encarecem o financiamento, alongar prazos e atrair investidores institucionais para projetos elegíveis de logística, energia, saneamento e clima. As próprias diretrizes oficiais indicam o NDB como “plataforma ideal” para testar e calibrar os instrumentos antes de escalar.
O desenho dialoga com a tendência global. Em 2024, o Grupo Banco Mundial emitiu cerca de US$ 10,3 bilhões em garantias, sendo US$ 8,2 bilhões via MIGA, um recorde que comprova o poder de mobilização dessas ferramentas quando bem estruturadas. Para o leitor, isso significa mais capital privado entrando onde antes só o crédito público alcançava.
Em termos de comunicação, é crucial entender que garantia não é gasto a fundo perdido. Trata-se de uma cobertura técnica, precificada, que reduz o risco percebido do projeto e multiplica cada dólar público alocado ao de-risking. É por isso que organismos internacionais usam garantias para alavancar investimento em escala.
Onde o Brasil entra primeiro
O Brasil já tem um pipeline concreto no NDB e vem assinando operações e memorandos em energia, transporte e infraestrutura social. Em julho, durante a 10ª Reunião Anual do NDB no Rio, o banco firmou memorando com a State Grid Brazil para reforçar a transmissão elétrica, sinalizando projetos prontamente elegíveis a garantias. Energia de transmissão costuma ser um campo clássico para esse tipo de instrumento.
Além disso, o NDB já registrou no país operações relevantes, como empréstimos verdes firmados em 2023, e mantém carteira ativa em setores onde a previsibilidade de receita facilita a estruturação de concessões e PPPs. Esse histórico é peça-chave para uma primeira safra de garantias que ganhe tração rápida.
A sinalização vinda de agentes do setor elétrico no Brasil reforça a janela de investimento. Após avanços regulatórios e licenças ambientais, novas linhas de transmissão tendem a demandar grande volume de capital, um terreno ideal para coberturas que baixem o risco e atraiam financiadores privados.
Quanto pode alavancar e quando começa
Segundo fontes consultadas pela imprensa internacional, o BMG pode alavancar de cinco a dez vezes o valor coberto em garantias, dependendo do risco do projeto e do arranjo contratual. Na prática, cada unidade de capital público destinada ao de-risking pode multiplicar a entrada de capital privado. O plano é formalizar e detalhar a operacionalização a partir do ciclo aberto no Rio.
A expectativa é de fase piloto com projetos selecionados e, em seguida, ampliação conforme a avaliação de impacto. A imprensa especializada confirma que as discussões foram endossadas pelos ministros de Finanças do BRICS, com o NDB preparado para conduzir a estrutura operacional.
No calendário, fontes relatam que primeiras garantias podem aparecer a partir de 2026, após os ajustes finais de governança e padronização. Para os proponentes brasileiros, é hora de acelerar estudos, organizar dados e estruturar projetos bancáveis para entrar na fila.
Por que isso importa para o Brasil
Para quem acompanha infraestrutura sabe que garantias reduzem risco, ampliam prazos e baixam o custo financeiro, o que tira projeto do papel mais rápido. Em um país com déficit histórico de logística e saneamento, isso significa obra iniciando antes, serviço entrando mais cedo e impacto econômico chegando à ponta.
Do ponto de vista macro, colocar o NDB como hub de garantias aproxima o Brasil de um ecossistema global onde o crédito público faz alavancagem inteligente do capital privado. É a combinação de política pública e engenharia financeira para reduzir gargalos de investimento.
E ao ancorar o modelo em padrões já testados por instituições como a MIGA, o BRICS sinaliza governança e mensuração de risco compatíveis com o que grandes investidores procuram. Em resumo, é uma oportunidade para infraestrutura no Brasil ganhar escala com menos custo e mais previsibilidade.