O comércio de garrafas de uísque vazias em sites como Shopee, OLX e Enjoei movimenta centenas de reais por unidade e preocupa autoridades e fabricantes, que alertam que os vasilhames originais estão sendo usados em golpes de falsificação que enganam até especialistas e colocam a saúde do consumidor em risco
O que começou como um mercado “inocente” de itens para decoração e colecionismo virou um canal de risco para fraudes: garrafas de uísque vazias estão sendo vendidas por até R$ 400 em marketplaces populares e já preocupam a indústria e órgãos de fiscalização.
Segundo especialistas, esses vasilhames originais vendidos com tampas, rótulos e selos intactos alimentam o mercado ilegal de bebidas falsificadas, em que criminosos reutilizam as garrafas para envasar líquidos adulterados. O resultado são produtos visualmente idênticos aos originais, capazes de enganar até quem trabalha no setor.
O mercado paralelo das garrafas vazias
Segundo a reportagem da Folha, anúncios de garrafas de uísque vazias de marcas como Johnnie Walker, Jack Daniel’s e Blue Label proliferam em plataformas como OLX e Shopee.
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Um kit com três unidades comuns, por exemplo, é ofertado por R$ 40, enquanto modelos premium chegam a R$ 400 apenas pelo vasilhame.
Em alguns casos, as tampas originais são vendidas separadamente, custando até R$ 150 o conjunto.
Esses valores chamam atenção por um motivo simples: em supermercados, uma garrafa lacrada do mesmo produto custa cerca de R$ 100 a R$ 150.
Isso significa que o frasco vazio passou a valer tanto quanto o próprio uísque, uma distorção movida pelo interesse de falsificadores.
Como as garrafas são usadas nos golpes
O chamado refil ilegal é hoje um dos principais métodos de falsificação de destilados no país.
Fraudadores reaproveitam garrafas autênticas e tampas originais, preenchem-nas com líquidos de baixo custo muitas vezes com álcool impróprio para consumo humano e recolocam rótulos e selos para simular autenticidade.
“Essas garrafas são compradas para enganar o consumidor.
Há um mercado ilegal por trás delas, e é preciso que as plataformas retirem os anúncios imediatamente”, afirma Eduardo Cidade, presidente da Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD), que reúne empresas como Diageo (dona de Johnnie Walker e Smirnoff) e Pernod Ricard (Absolut, Chivas Regal).
Ele defende ação de fiscalização integrada entre polícias e órgãos de saúde.
A reação das plataformas e das autoridades
Após serem questionadas pela imprensa, Shopee e Enjoei retiraram diversos anúncios do ar.
A Shopee declarou que atua para remover conteúdos irregulares e exige o cumprimento da legislação por parte dos vendedores.
O Enjoei informou que aderiu ao guia do Conselho Nacional de Combate à Pirataria (CNCP) e passou a adotar novas medidas proativas de bloqueio.
O Procon-SP explica que, embora a venda de garrafas vazias não seja ilegal por si só, há risco de irregularidade quando existe indício de uso fraudulento ou oferta sem homologação.
O órgão orienta consumidores a denunciar anúncios suspeitos e comunicar autoridades policiais sempre que houver possibilidade de adulteração.
Os riscos por trás da bebida falsificada
A indústria de destilados alerta que o consumo de bebidas adulteradas pode ser fatal.
Em casos investigados recentemente, amostras de uísque falsificado apresentaram contaminação por metanol, substância tóxica usada para baratear a produção clandestina e associada a quadros graves de intoxicação.
Além dos danos à saúde, o golpe atinge bares, distribuidores e marcas legítimas, reduzindo arrecadação fiscal e prejudicando a confiança do consumidor.
“Quando uma garrafa falsa circula com a marca de uma empresa séria, todos perdem, inclusive o Estado”, afirma um executivo do setor.
Um crime que se disfarça de comércio comum
Muitos anúncios tentam disfarçar a intenção de fraude, usando descrições como “para decoração” ou “uso artesanal”.
No entanto, a presença de tampas, rótulos e selos originais levanta alerta sobre o real destino dos produtos.
Na prática, é o material perfeito para montar um falso original, pronto para enganar o mercado.
O Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), afirmou que acompanha o caso e notifica conteúdos suspeitos em plataformas digitais.
A pasta destacou que o comércio de garrafas e tampas pode facilitar a adulteração e revenda fraudulenta e orientou marketplaces a reforçar a rastreabilidade e a identificação dos vendedores.
O desafio da fiscalização e da educação do consumidor
Especialistas apontam que, enquanto houver demanda por bebidas baratas de origem duvidosa, haverá espaço para golpes com garrafas de uísque vazias.
A fiscalização, por mais rigorosa que seja, não substitui a conscientização do público.
Comprar destilados em fontes oficiais e embalagens lacradas continua sendo a forma mais segura de evitar prejuízo e risco à saúde.
“Se o preço for bom demais para ser verdade, provavelmente é fraude”, reforçam as associações do setor.
O comércio de garrafas de uísque vazias escancara um elo entre o consumo de luxo e o crime de falsificação que cresce silenciosamente nas redes.
E você, acha que a venda desses vasilhames deveria ser proibida em sites de e-commerce, mesmo para quem alega uso decorativo? Como equilibrar liberdade de venda e proteção do consumidor? Deixe sua opinião nos comentários e conte se já presenciou casos parecidos.