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Pela primeira vez desde 2000, a Argentina superou os Estados Unidos como destino mais buscado por brasileiros em viagens internacionais de avião, revelando mudança no comportamento turístico e crescimento do interesse por países da América do Sul.
A Argentina assumiu em 2025 a liderança entre os destinos internacionais acessados por voos que partem do Brasil, superando os Estados Unidos pela primeira vez em ao menos 25 anos.
De janeiro a julho, 1,42 milhão de passageiros desembarcaram em aeroportos argentinos, ante 1,38 milhão nos EUA, segundo dados da Anac tabulados a partir da movimentação de passageiros pagantes.
É a primeira quebra da hegemonia norte-americana desde o início da série, no ano 2000. A ultrapassagem ocorre após um 2024 ainda dominado pelos EUA.
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Naquele ano, entre janeiro e julho, 1,24 milhão de viajantes saíram do Brasil rumo ao território norte-americano, enquanto a Argentina recebeu 1,10 milhão.
Em 2025, ambos os fluxos cresceram, porém o avanço foi mais intenso para o país vizinho, consolidando a inversão do ranking no acumulado dos sete primeiros meses.
Virada histórica nas rotas Brasil–exterior
A troca de posições é reforçada por indicadores mensais. A Argentina superou a marca de 200 mil passageiros partindo do Brasil em quatro dos sete primeiros meses de 2025.
Os Estados Unidos atingiram esse patamar em apenas dois meses do mesmo período. Em 2024, o cenário foi o oposto: os EUA foram mais procurados em 11 dos 12 meses. O movimento evidencia uma reorientação do fluxo aéreo brasileiro no curto prazo.
No recorte anual até julho, o volume de passageiros com destino a aeroportos argentinos cresceu 29,6% frente a igual intervalo de 2024.
Para os EUA, a alta foi de 11,7%. A diferença de ritmo ajuda a explicar por que a Argentina alcançou a primeira posição da série, mesmo com os dois mercados em expansão.
Ganho de fôlego da Argentina em 2025
Além do incremento absoluto, aumentou a participação da América do Sul no total de viagens internacionais saindo do Brasil.
Em 2022, apenas 28,7% dos passageiros escolheram um destino sul-americano. Em 2025, até julho, essa fatia subiu para 40,9%.
Em paralelo, países vizinhos ao Brasil reforçaram a oferta de serviços ao turista — fator citado por especialistas como estímulo à repetição de viagens e à descoberta de novos roteiros dentro do continente.
No topo do ranking por países, o Chile se mantém em terceiro lugar entre os destinos internacionais acessados por via aérea a partir do Brasil em 2025.
Em 2022, os chilenos ocupavam a quinta posição e avançaram gradualmente até a colocação atual, já observada em 2024.
O Panamá, por sua vez, saiu do top 5 neste ano, movimento influenciado pelo seu papel de hub de conexões para outros destinos.
Isso torna o fluxo mais sensível a ajustes de malha aérea e preferência final do passageiro.
Mudança no comportamento dos viajantes
A dinâmica recente do mercado, segundo análise da professora Bianca Dramalli, da ESPM, está associada a uma valorização do entorno regional.
Ela aponta uma tendência de maior atenção ao “mercado latino”, que, nas palavras da pesquisadora, “está na moda”.
O argumento combina fatores de acessibilidade e variedade de experiências, com destaque para a sofisticação de serviços, abertura de novos hotéis e o avanço de nichos como o enoturismo.
Outra mudança relevante se dá no perfil do viajante. De acordo com Dramalli, uma parcela do crescimento vem de turistas de primeira viagem ao exterior.
“No passado havia a ideia de que ir a um país vizinho não era uma viagem internacional ‘de fato’; isso acabou”, afirma.
Para esse grupo, o custo total comparado a alternativas como EUA e Europa pesa mais do que a inflação local recente.
Como resume a professora, “o que importa é a comparação com outros destinos”, em linha com a percepção de valor que guia decisões de consumo.
Por que a região atrai mais brasileiros
A retomada das conexões dentro da América do Sul ocorre junto à recuperação do tráfego aéreo brasileiro.
Embora a liderança argentina derive do fluxo internacional, o ambiente de demanda aquecida também se manifesta no volume total de passageiros transportados em 2025.
Com sucessivos recordes mensais em julho, a expansão fortalece a malha e amplia a oferta.
Esse contexto favorece rotas de curta e média distância, nas quais tarifas, tempo de voo e facilidade de documentação se combinam para reduzir barreiras de entrada ao viajante brasileiro.
Roteiros urbanos em Buenos Aires, Mendoza e Córdoba, além de atrativos naturais na Patagônia, somam-se à proximidade geográfica e à oferta cambial em alguns períodos.
O efeito prático é uma curva de demanda que se consolidou no primeiro semestre e se manteve no início do segundo, sustentando a vantagem em relação aos Estados Unidos no acumulado até julho.
Mais brasileiros saem do que turistas entram
Os dados de movimentação aérea também mostram um saldo negativo entre saídas e entradas no Brasil.
Em 2024, 12,6 milhões de passageiros deixaram o país rumo ao exterior por via aérea, enquanto 4,6 milhões de turistas internacionais chegaram por aeroportos brasileiros no mesmo período.
A diferença de 8 milhões não equivale à contagem de pessoas únicas, já que um mesmo viajante pode sair e voltar mais de uma vez.
Ainda assim, indica mais brasileiros viajando para fora do que estrangeiros vindo ao Brasil em 2024. A Anac ressalta que o levantamento considera passageiros pagantes e não distingue nacionalidade.
Essa leitura contextualiza a guinada para destinos regionais: com mais gente disposta a voar e a preços relativamente competitivos, a Argentina converte a intenção em volume efetivo e retoma a dianteira perdida desde o início da série histórica.
O desempenho reforça o papel do país vizinho na rede de viagens do brasileiro e tende a influenciar a distribuição de assentos, frequências e tarifas nas próximas temporadas.
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