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Brasil vive ‘guerra’ sem precedentes com os EUA, diz Financial Times. Jornal expõe bastidores de tarifa e articulação de Lula com líderes dos Brics

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 18/08/2025 às 13:53
Brasil enfrenta tarifas de 50% dos EUA e busca apoio dos Brics. Conflito inclui sanções a Moraes e pressiona comércio bilateral.
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Disputa comercial e política entre Brasil e Estados Unidos ganha contornos inéditos, com tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, sanções a autoridades e articulação de Lula com líderes dos Brics para enfrentar a crise diplomática.

O jornal britânico Financial Times descreveu nesta terça-feira, 12 de agosto de 2025, uma “disputa sem precedentes” entre Brasil e Estados Unidos após a decisão do presidente americano Donald Trump de aplicar tarifa de 50% sobre importações brasileiras.

Segundo a reportagem, o embate tende a se prolongar e pode se intensificar, enquanto o governo Luiz Inácio Lula da Silva busca coordenação com parceiros dos Brics.

Tarifa dos EUA e escalada diplomática

A medida tarifária entrou em vigor na quarta-feira, 6 de agosto, e atinge a maior parte dos produtos de origem brasileira, com exceções listadas pelo governo americano.

O texto do FT relata que, em vez de procurar o autor das tarifas, Lula conversou com líderes do bloco dos Brics, como o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente russo, Vladimir Putin, em busca de respaldo político e econômico.

A avaliação do jornal é que a resposta brasileira reforça o caráter atípico do confronto com Washington e diminui as chances de solução rápida.

Brasil enfrenta tarifas de 50% dos EUA e busca apoio dos Brics. Conflito inclui sanções a Moraes e pressiona comércio bilateral.
Brasil enfrenta tarifas de 50% dos EUA e busca apoio dos Brics. Conflito inclui sanções a Moraes e pressiona comércio bilateral.

O que fica fora da taxa e o que é afetado

Apesar do tarifaço, a Casa Branca divulgou um anexo com cerca de 700 exceções, preservando segmentos estratégicos.

Entre os itens poupados, o FT e análises setoriais citam aeronaves civis e parte da pauta agroindustrial, como suco e polpa de laranja.

Ao mesmo tempo, cadeias relevantes, como café e carnes, foram apontadas por entidades empresariais como impactadas pelo novo patamar de 50%.

O desenho final das exceções, segundo especialistas, reduz parte do choque imediato, mas mantém pressão sobre exportadores.

Pressões sobre o STF e sanções a Moraes

No pano de fundo do atrito, estão críticas do governo americano à atuação do Supremo Tribunal Federal e, em particular, do ministro Alexandre de Moraes em processos envolvendo desinformação e ataques às instituições.

De acordo com o FT, Washington exigiu a reversão de ordens judiciais que afetaram plataformas digitais de origem americana, sob a alegação de “ordens de censura secretas e ilegais”.

Em 30 de julho, o Departamento do Tesouro sancionou Moraes com base na Lei Magnitsky, após o Departamento de Estado revogar vistos do ministro, de aliados no STF e de familiares.

As medidas ampliaram o desgaste entre os países.

Caso Bolsonaro entra no radar de Washington

A reportagem do FT sustenta que Trump “se identificou pessoalmente” com a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por acusações relacionadas à tentativa de reverter o resultado da eleição de 2022.

O governo americano tem classificado o julgamento como “caça às bruxas” e usou o caso para justificar parte das restrições.

Assessores citados pelo jornal apontam que a postura do Planalto de não interferir em assuntos do Judiciário reduziu a margem de negociação direta entre os governos.

Comércio exterior e números do superávit

Outro ponto destacado pelo FT é a divergência sobre o saldo bilateral. Enquanto Trump fala em “déficits insustentáveis”, dados oficiais mostram que os Estados Unidos tiveram superávit no comércio de bens com o Brasil no ano passado.

Levantamentos do governo americano indicam um saldo positivo próximo de US$ 7,4 bilhões em 2024, contrariando o discurso do Executivo dos EUA e servindo de argumento para Brasília em foros internacionais.

Estratégia de Lula com os Brics

Brasil enfrenta tarifas de 50% dos EUA e busca apoio dos Brics. Conflito inclui sanções a Moraes e pressiona comércio bilateral.
Brasil enfrenta tarifas de 50% dos EUA e busca apoio dos Brics. Conflito inclui sanções a Moraes e pressiona comércio bilateral.

Sem sinais de recuo imediato em Washington, o governo brasileiro intensificou conversas com países dos Brics para avaliar respostas coordenadas e mitigar impactos.

O FT registra que Lula procurou Modi e Putin em sequência e reforçou o diálogo com outros parceiros do grupo.

A orientação do Planalto tem sido valorizar a autonomia do Judiciário brasileiro e, ao mesmo tempo, abrir canais técnicos para mapear efeitos da tarifa por setor, sem precipitar retaliações que possam elevar custos para consumidores e empresas.

Possíveis desdobramentos

O jornal britânico observa que Trump costuma mudar de posição com rapidez, o que não elimina a chance de um acordo.

Ainda assim, considera “difícil” a solução no curto prazo, dado o componente político do impasse.

O Brasil tenta separar o contencioso judicial das discussões comerciais, mas a combinação de tarifas, sanções e pressão pública nos dois países cria um ambiente volátil.

Interlocutores dos dois lados avaliam que, sem uma trégua narrativa, qualquer gesto técnico esbarra em custos políticos domésticos.

Polarização no Brasil e calendário eleitoral

No diagnóstico do FT, o embate chega em fase sensível da política brasileira.

A população segue altamente polarizada e o nome de Lula aparece como potencial candidato em outubro de 2026, quando o país volta às urnas para a Presidência.

O quadro tende a manter o tema nas campanhas, enquanto setores produtivos pressionam por previsibilidade regulatória e redução de incertezas.

Como ficam os próximos passos

A curto prazo, exportadores monitoram regras transitórias e listas de exceção para reprogramar embarques.

Em paralelo, diplomatas buscam interlocução técnica para reduzir danos em áreas sensíveis, como agro, energia e aviação.

A prioridade brasileira, segundo auxiliares, é evitar uma espiral de retaliações que encareça insumos, pressione a inflação e comprometa investimentos, ao mesmo tempo em que sustenta a independência das instituições.

Diante de uma disputa que mistura comércio, política e Justiça, qual deve ser a estratégia do Brasil: intensificar a articulação com os Brics, insistir em uma negociação direta com Washington ou apostar nas duas frentes em paralelo?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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