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Brasil vetou a entrada da Venezuela como ‘parceiro’ do BRICS, frustrando os esforços dos líderes russos e chineses de expandir o bloco

Publicado em 25/10/2024 às 15:52
Brasil vetou a entrada da Venezuela como 'parceiro' do BRICS, frustrando os esforços dos líderes russos e chineses de expandir o bloco
Brasil não concordou com a adesão da Venezuela no BRICS (Imagem: Reprodução)

A 16ª Cúpula do BRICS, encerrada em Kazan, na Rússia, trouxe à tona um impasse diplomático intenso: o Brasil vetou a entrada da Venezuela como “parceiro” do bloco de emergentes, contrariando os desejos de aliados como Rússia e China. Esse veto marcou um desdobramento estratégico importante, destacando divergências internas e reações que prometem esquentar as relações entre Brasil e Venezuela, países que já vivem uma situação diplomática marcada por tensões e trocas de críticas.

O presidente russo Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping, desejosos de incluir Venezuela e Nicarágua no círculo de nações emergentes do BRICS, esbarraram na resistência da delegação brasileira, que optou por excluir essas nações da lista de novos parceiros do bloco. Em seu discurso, Putin defendeu o “tratamento objetivo” entre os países, mas foi claro ao apontar a necessidade de consenso para a admissão de novos associados no BRICS. “É impossível sem acordo entre todos os membros,” declarou o presidente russo, deixando claro que o veto brasileiro era o fator decisivo.

Apesar de uma visita inesperada de Nicolás Maduro ao evento, o Brasil manteve seu posicionamento, o que resultou em uma resposta acalorada do governo venezuelano. Em comunicado oficial, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela condenou o veto como um “gesto hostil” e uma “agressão”, acusando o Brasil de manter as mesmas diretrizes de exclusão que eram aplicadas durante o governo de Jair Bolsonaro. Para a Venezuela, a entrada no BRICS é vista como parte de uma luta por “soberania” e de fortalecimento de alianças no Sul Global.

Rancores e nada de ‘inclusão’ no BRICS: uma relação tensa entre Brasil e Venezuela

Brasil e Venezuela vêm enfrentando uma relação repleta de desencontros diplomáticos e acusações públicas. Embora as relações tenham sido retomadas oficialmente em janeiro de 2023 após a ruptura diplomática ocorrida em 2019, os recentes desentendimentos indicam um desgaste na relação entre o presidente Lula e o governo Maduro.

Em diversas ocasiões, Lula manifestou preocupação com o processo eleitoral venezuelano, posição que levou Maduro a ironizar publicamente a atitude do líder brasileiro. O presidente venezuelano chegou a sugerir que os críticos de seu governo “tomem um chá de camomila”, em resposta às inquietações manifestadas pelo Itamaraty.

As tensões foram ampliadas com declarações de Tarek William Saab, procurador-geral venezuelano, que insinuou, sem provas, que Lula e o presidente chileno Gabriel Boric seriam “agentes da CIA”. Esse tipo de retórica inflamou ainda mais o cenário, adicionando uma dose de desconfiança entre as nações.

O contexto do Sul Global e as apostas futuras do BRICS

A exclusão da Venezuela e da Nicarágua da lista de novos parceiros do BRICS ocorre num momento em que o bloco busca consolidar uma aliança estratégica com países do Sul Global, aqueles que compartilham desafios comuns e a busca por independência econômica. Com isso, o BRICS dá sinais de seu comprometimento em confrontar práticas que seus líderes veem como “sanções ilegais” e um “esvaziamento de valores tradicionais”, conforme destacado por Putin na coletiva de encerramento.

Os países do BRICS continuam a fortalecer seus planos para uma arquitetura financeira independente do dólar. Putin apresentou um protótipo da moeda comum do BRICS, chamada “R5”, em referência às moedas de seus membros: o real, o rand, o yuan, o rublo e a rupia.

O objetivo é criar um sistema de pagamentos robusto e um mercado financeiro mais resistente a influências externas, como as sanções. No entanto, o lançamento efetivo ainda depende de etapas de longo prazo, com o Brasil assumindo um papel central na presidência do bloco a partir de 2025, planejando impulsionar o desenvolvimento de uma infraestrutura de pagamento internacional integrada.

Os próximos passos

Para o Brasil, o veto à Venezuela sinaliza uma abordagem cautelosa e uma defesa do consenso no BRICS, embora possa trazer consequências. Com o país prestes a assumir a presidência do bloco, o governo Lula visa liderar a criação de um sistema de pagamentos que valorize as moedas locais e agilize o comércio entre os membros. Esse plano promete diminuir os custos comerciais e garantir mais autonomia às economias do grupo, que busca desvincular-se da hegemonia do dólar.

Ao reforçar seu posicionamento sobre as regras de consenso, o Brasil demonstra que sua política externa busca evitar tensões com os EUA e manter relações equilibradas no cenário global. No entanto, a reação venezuelana ao veto não será facilmente esquecida, prometendo manter aceso o debate sobre a ampliação do BRICS e o real alinhamento de seus membros.

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Bruno Castilho Barreto

Jornalista com foco em petróleo e gás, investimentos e oportunidades no mercado nacional.

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