Em operação autorizada pelo Ibama, uma equipe de manejo registrou o maior abate de javalis da história do Brasil. A ação chama atenção pelos números e reforça o impacto da espécie invasora na agricultura e na fauna nativa.
Na madrugada de 15 de agosto de 2025, uma ação de manejo em Campo Alegre de Goiás registrou o maior abate de javalis em uma única noite no Brasil. 65 animais foram removidos na Fazenda JM8, do produtor João Mesquita Junior.
A operação, conduzida pela equipe Limpa Palhada, de Ipameri (GO), ocorreu com autorização do Ibama e seguiu os protocolos previstos na legislação ambiental, com controladores credenciados no enfrentamento da espécie invasora.
Segundo o portal Compre Rural, todas as etapas foram formalizadas antes e depois do manejo, do cadastro à destinação das carcaças.
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O grupo cita registro no Cadastro Técnico Federal (CTF), emissão da autorização via SIMAF e cumprimento das regras de descarte.
“Além de proteger as plantações, estamos preservando o equilíbrio ambiental. Cada ação é planejada para ser segura e legal”, afirmou Danilo, um dos controladores envolvidos.
Recorde em Goiás e estratégia de execução
O abate concentrou-se em áreas de maior incidência, com foco em pontos de alimentação e deslocamento do animal em vida livre.
A equipe relatou conhecimento de rotas e hábitos dos javalis, o que aumentou a eficiência da ação noturna.
Participaram do manejo os controladores Danilo, Renan, Ricardo e Alan, todos com a documentação validada e em conformidade com as exigências para manejo da espécie.
De acordo com o Compre Rural, o objetivo foi mitigar danos à produção agrícola local e reduzir a pressão sobre ambientes nativos.
A intervenção se soma a iniciativas que, em regiões produtoras, buscam conter prejuízos recorrentes em milho, soja, feijão, cana-de-açúcar e hortaliças.
Impactos dos javalis na agricultura e biodiversidade
A presença de javalis e híbridos (javaporcos) tem sido associada a perdas em áreas agrícolas e a alterações em ecossistemas.
Em propriedades com alta infestação, produtores relatam danos às lavouras, ao solo e a estruturas de contenção.
Há também registros de competição por alimento e perturbação de ninhos e abrigos de fauna nativa, com impacto sobre espécies ameaçadas.
Estimativas setoriais citam perdas que podem chegar a 40% em cenários críticos, especialmente em culturas suscetíveis como o milho.
A magnitude do problema varia conforme a densidade populacional, o estágio da safra e a capacidade de resposta dos produtores e órgãos ambientais.
Riscos sanitários associados ao javali
Do ponto de vista sanitário, o javali pode atuar como reservatório de doenças de interesse pecuário, com destaque para a peste suína clássica.
Autoridades e entidades de defesa agropecuária mantêm atenção aos riscos e às rotas de transmissão, sobretudo em regiões com produção intensiva de suínos.
Há alertas também para enfermidades de notificação obrigatória e para a necessidade de vigilância contínua, integrando produtores, serviços veterinários oficiais e manejadores autorizados.
A orientação técnica inclui reforço de medidas de biossegurança nas propriedades, limitação do acesso de animais silvestres às áreas de criação, controle de fontes de alimento e comunicação com órgãos responsáveis em caso de suspeitas clínicas.
Legislação e regras para o manejo do javali
No Brasil, o controle do javali em vida livre é autorizado desde 2013, com base na Instrução Normativa nº 03/2013 do Ibama, que declara a nocividade da espécie Sus scrofa e permite o manejo em todo o território nacional.
As regras proíbem a comercialização de produtos e subprodutos do abate e determinam que animais capturados sejam abatidos no local, vedado o transporte de indivíduos vivos.
O uso de armas de fogo e demais instrumentos deve obedecer às normas específicas, e métodos capazes de ferir espécies não alvo são proibidos.
Em 2019, a IN nº 12 instituiu o Sistema Integrado de Manejo de Fauna (SIMAF) para declarações, relatórios e autorizações.
Ela detalha documentos obrigatórios durante as operações, como documento de identidade, autorização emitida pelo SIMAF e Certificado de Regularidade do CTF.
A partir de 2022, a validade das autorizações passou a ser de até seis meses, condicionada à entrega de relatórios e à observância das demais exigências.
Em julho de 2023, o Ibama suspendeu temporariamente novas autorizações para adequação ao Decreto nº 11.615/2023.
As análises foram retomadas em dezembro do mesmo ano, com ajustes aos procedimentos.
Números de javalis abatidos no Brasil
Conforme o Compre Rural, dados divulgados por entidades do setor indicam elevado volume de abates em 2022, na casa de centenas de milhares de animais.
Esse aumento foi impulsionado por maior adesão de controladores e ampliação de áreas de ocorrência.
Para 2025, dirigentes de associações de manejadores estimam a necessidade de abater mais de 1 milhão de javalis para reduzir impactos econômicos e ambientais.
São números que refletem uma pressão contínua da espécie, com expansão para novas fronteiras agrícolas e áreas de conservação.
Essa situação exige coordenação entre Ibama, secretarias estaduais, defesa agropecuária e produtores.
A operação em Goiás indica que a erradicação total da espécie não é considerada viável. A redução de danos depende de manejo sistemático, monitoramento e resposta rápida a focos.
Equipes treinadas e regularizadas, somadas a boas práticas de campo, elevam a eficiência do controle e diminuem riscos colaterais à fauna nativa.
Importância das operações autorizadas pelo Ibama
A conformidade legal garante rastreabilidade, padroniza métodos e facilita a aferição de resultados.
Exigências como relatórios de manejo, comprovação de regularidade no CTF e apresentação de autorização no SIMAF permitem que o poder público acompanhe a intensidade do controle e ajuste políticas regionais.
No plano prático, isso também auxilia na prevenção de irregularidades que possam comprometer o status sanitário ou afetar espécies não alvo.
Produtores e técnicos apontam a importância de combinar barreiras físicas, técnicas de manejo e inteligência territorial.
Com apoio de mapas de ocorrência, relatos padronizados e cooperação entre propriedades vizinhas, é possível aumentar a eficiência.
Em áreas com alta densidade de javalis, operações coordenadas apresentam resultados mais consistentes do que ações isoladas.
Perspectivas para o controle da espécie invasora
A continuidade de autorizações regulares, a fiscalização e o apoio técnico são apontados como fatores essenciais para manter o controle em patamar eficaz.
Além disso, a comunicação com o serviço veterinário oficial e a notificação de ocorrências colaboram com a vigilância de doenças e com o planejamento de novas ações.
A disseminação de boas práticas e a capacitação de manejadores também contribuem para operações mais seguras e alinhadas às normas.
Qual medida técnica, aliada ao marco legal vigente, pode garantir maior efetividade no controle do javali e reduzir de forma mensurável os prejuízos agrícolas no Brasil?