Primeira concessão hidroviária do Brasil transforma o Rio Paraguai em eixo estratégico de logística sustentável, com leilão previsto para 2025 e investimentos voltados à competitividade e preservação ambiental.
O Brasil está prestes a inaugurar um modelo inédito em sua matriz de transportes: a primeira concessão hidroviária do país. O Ministério de Portos e Aeroportos já enviou ao Tribunal de Contas da União (TCU) o projeto que prevê o leilão do Tramo Sul do Rio Paraguai, entre Corumbá (MS) e a foz do Rio Apa, na fronteira com o Paraguai.
Esse trecho soma 600 quilômetros de extensão em território nacional e ocupa posição estratégica para o escoamento da produção do Centro-Oeste, principalmente grãos e minério de ferro.
De acordo com o ministro Silvio Costa Filho, a concessão inaugura um novo ciclo para a logística brasileira:
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“Investir em hidrovias é prioridade estratégica. Reduz custos, integra regiões, aumenta a competitividade e ajuda a descarbonizar o transporte”.
Logística mais eficiente e investimentos previstos
O transporte hidroviário pelo Rio Paraguai enfrenta limitações, sobretudo em períodos de estiagem. Em 2023, o rio permitiu o transporte de 7,9 milhões de toneladas de cargas. Contudo, em 2024, o volume caiu para 3,3 milhões, refletindo a falta de previsibilidade.
Com a concessão, o governo projeta triplicar o transporte até 2035. O contrato terá validade inicial de 20 anos, podendo se estender por até 70 anos.
Nos primeiros cinco anos, estão previstos R$ 43,2 milhões em investimentos, dos quais 20% irão para ações de preservação e monitoramento ambiental. A empresa vencedora também deverá executar dragagem, balizamento, sinalização, monitoramento hidrográfico e gestão ambiental.
Sustentabilidade como eixo central
O transporte hidroviário emite 27 vezes menos poluentes que o rodoviário, conforme apontam estudos do setor. Assim, ao transferir parte do transporte de cargas para a hidrovia, o Brasil reduz emissões de gases de efeito estufa e reforça seu compromisso com o Acordo de Paris.
Além disso, a mudança diminui impactos colaterais. Apenas em Mato Grosso do Sul, o Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) registrou 13 mil atropelamentos de animais silvestres em estradas nos últimos três anos. Portanto, ao reduzir a dependência do modal rodoviário, o país também contribui para preservar a fauna local.
Com isso, a concessão do Rio Paraguai combina eficiência logística e preservação ambiental, tornando-se referência em transporte sustentável.
Atualmente, o Rio Paraguai permanece interditado em média 65 dias por ano, o que compromete a confiabilidade do transporte. A expectativa com a concessão é reduzir esse número para apenas oito dias anuais.
Esse resultado virá de medidas estruturais, como:
- dragagem permanente para manter o leito navegável durante todo o ano;
- sinalização moderna e balizamento contínuo, permitindo inclusive navegação noturna;
- monitoramento em tempo real, elevando a segurança de embarcações e cargas.
Com maior previsibilidade, empresas e produtores terão mais confiança no uso da hidrovia, o que tende a aumentar sua participação na matriz de transportes brasileira.
Expansão futura das hidrovias brasileiras
Hoje, o Brasil aproveita 20 mil quilômetros de rios navegáveis, mas especialistas estimam que o potencial chegue a 60 mil quilômetros. Por isso, a concessão do Rio Paraguai é vista como um projeto-piloto, capaz de abrir caminho para iniciativas semelhantes em outros trechos estratégicos.
Segundo o governo federal, a medida traz ganhos além da redução de custos. A concessão fortalece a integração regional e amplia a competitividade do agronegócio brasileiro nos mercados internacionais.
No Mato Grosso do Sul, o Tramo Sul do Rio Paraguai será o primeiro a receber o modelo, mas já existe expectativa de novas concessões em diferentes bacias hidrográficas.
A primeira concessão hidroviária do Brasil, no Rio Paraguai, simboliza um passo decisivo para a modernização da logística nacional. O projeto alia infraestrutura, sustentabilidade e competitividade, criando condições para um transporte mais eficiente e menos poluente.
Com investimentos previstos, menor impacto ambiental e ganhos de eficiência, a iniciativa tende a transformar a forma como o Centro-Oeste se conecta aos portos e mercados globais. Assim, a hidrovia deixa de ser uma alternativa secundária e assume papel central na integração logística brasileira.