Documento interno do governo revela que o Ministério da Defesa vê risco de perda de contratos, tecnologias sensíveis e investimentos no setor de defesa caso o Brasil adote medidas de retaliação ao tarifaço dos Estados Unidos
Um documento interno do governo brasileiro aponta que o Ministério da Defesa teme fortes prejuízos econômicos e estratégicos caso o país decida reagir ao tarifaço imposto pelos Estados Unidos. A pasta alerta que a adoção da chamada Lei de Reciprocidade pode levar à perda de bilhões em contratos, restrições a tecnologias militares e fuga de investimentos no setor de defesa.
A reportagem da Folha de S. Paulo revela que a análise foi enviada à Câmara de Comércio Exterior (Camex) e mostra preocupação com o impacto direto sobre empresas brasileiras que mantêm acordos com o mercado americano. Segundo o documento, uma retaliação comercial colocaria em risco cadeias de suprimento e parcerias estratégicas com companhias dos Estados Unidos, que fornecem componentes essenciais para produtos militares fabricados no Brasil.
O que diz o documento interno do governo
O documento interno do governo foi encaminhado ao secretário-executivo da Camex, Rodrigo Zerbone, e servirá de base para o relatório de impacto econômico da guerra tarifária aberta por Donald Trump.
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O texto afirma que a aplicação da Lei de Reciprocidade “não será, necessariamente, benéfica para o setor de defesa” e destaca que muitos equipamentos usados pelas Forças Armadas brasileiras dependem de peças de origem norte-americana.
A Defesa argumenta que, se o Brasil optar por retaliar as medidas dos Estados Unidos, o custo de produção e desenvolvimento de projetos militares aumentará consideravelmente.
Isso afetaria tanto o consumo interno quanto as exportações de produtos estratégicos, como armas, munições e componentes aeronáuticos.
Exportações e dependência tecnológica
De acordo com a Defesa, a base industrial de defesa brasileira, que reúne empresas estatais e privadas — exportou cerca de US$ 940 milhões para os Estados Unidos no último ano.
O setor já sente os efeitos do tarifaço de 50% imposto pelo governo americano sobre produtos brasileiros, o que reduziu a competitividade de companhias nacionais no mercado internacional.
Empresas como Embraer, CBC, Nitro Química e RJC foram diretamente afetadas, registrando queda nas vendas e dificuldades para manter contratos em andamento.
O ministério também cita que, em caso de retaliação, companhias do setor aeronáutico poderiam perder contratos de fornecimento e sofrer restrições tecnológicas, especialmente nas áreas de motores, sensores e sistemas de precisão.
Riscos à indústria de defesa e aos acordos bilaterais
O documento interno do governo destaca que uma reação brasileira ao tarifaço poderia desencadear respostas imediatas de Washington.
A Defesa avalia que os Estados Unidos poderiam restringir o acesso de empresas brasileiras a tecnologias sensíveis, como as reguladas pelo Regulamento Internacional de Tráfego de Armas (ITAR) e pelo Regulamento de Administração de Exportação (EAR).
Além disso, o texto alerta que seria necessário reconfigurar cadeias de suprimento e buscar alternativas na Europa e na Ásia, o que elevaria custos e atrasaria projetos em andamento.
A pasta também teme que o país seja obrigado a renegociar acordos bilaterais de cooperação, como o Acordo de Aquisição de Defesa Recíproca, para mitigar os efeitos da crise comercial.
O peso político do tarifaço e a cautela do governo
Embora a retaliação ainda esteja em debate dentro do governo, a tendência atual é de moderação diplomática.
Após o aceno de Donald Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a Assembleia-Geral da ONU, a pressão por uma resposta imediata perdeu força.
Fontes do Itamaraty e da Camex indicam que qualquer decisão será precedida por uma análise técnica detalhada, levando em conta o impacto sobre setores estratégicos.
O relatório econômico da Camex deve ser apresentado ao Comitê Executivo de Gestão (Gecex) nas próximas semanas, com prazo de até 60 dias para conclusão.
Enquanto isso, a Defesa reforça que “as cadeias de suprimento do setor são extremamente complexas” e que os Estados Unidos detêm liderança tecnológica em áreas críticas para o Brasil, o que exige cautela em qualquer decisão de retaliação.
O documento interno do governo escancara o dilema do Brasil diante do tarifaço americano: retaliar significaria reafirmar soberania, mas também colocar em risco bilhões de dólares, parcerias estratégicas e o acesso a tecnologias militares essenciais.
Você acha que o Brasil deve reagir ao tarifaço de Trump mesmo com o risco de perder contratos e tecnologia militar? Deixe sua opinião nos comentários e participe do debate sobre o futuro da defesa brasileira.