1. Início
  2. / Economia
  3. / Brasil tem ‘carta na manga’ que o pode transformar em uma potência mundial
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

Brasil tem ‘carta na manga’ que o pode transformar em uma potência mundial

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 10/07/2025 às 15:36
Brasil pode se tornar potência mundial com minerais críticos. Descubra como terras raras impulsionam economia, energia limpa e tecnologia nacional.
Brasil pode se tornar potência mundial com minerais críticos. Descubra como terras raras impulsionam economia, energia limpa e tecnologia nacional.
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

A exploração dos minerais críticos pode alavancar a economia, posicionando o Brasil como referência global em tecnologias sustentáveis e transição energética. Reservas nacionais atraem investimentos e ampliam a importância estratégica do país no cenário internacional.

A exploração dos chamados minerais críticos, em especial as terras raras, pode representar um divisor de águas para a economia brasileira nos próximos anos.

Projeções recentes indicam que o potencial desses insumos estratégicos pode adicionar até R$ 243 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ao longo de 25 anos, conforme estimativas da economista Solange Srour.

O valor, calculado a partir de cenários detalhados sobre a cadeia produtiva dos minerais, reforça o papel do país como detentor de 23% das reservas mundiais, ficando atrás apenas da China em volume disponível.

As terras raras se consolidaram como recursos essenciais para o desenvolvimento tecnológico global.

Esses minerais, compostos por 17 elementos químicos, são indispensáveis na fabricação de componentes eletrônicos de alto valor agregado, motores de veículos elétricos, turbinas eólicas, trens de alta velocidade e dispositivos presentes em celulares, televisores, equipamentos médicos e sistemas de defesa nacional.

A presença estratégica dessas reservas no território brasileiro abre caminho para que o Brasil assuma uma posição de destaque no cenário internacional da transição energética.

Apesar da magnitude das reservas, a produção nacional ainda é incipiente.

Dados oficiais apontam que, em 2023, o Brasil respondeu por apenas 0,02% do volume global, realidade atribuída à ausência de etapas avançadas de beneficiamento e refino mineral em solo nacional.

Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), o país concentra aproximadamente 21 milhões de toneladas de terras raras distribuídas entre os estados de Goiás, Bahia, Minas Gerais, Amazonas, Pará, Rio de Janeiro, Roraima e São Paulo.

Projetos de exploração e mapeamento seguem em expansão nessas regiões, com destaque para o Centro-Oeste.

Goiás desponta como polo de minerais críticos

No contexto da transição energética mundial, Goiás se consolida como polo estratégico para a produção de terras raras.

O estado concentra um dos maiores depósitos fora da Ásia e avança no desenvolvimento de tecnologias essenciais para veículos elétricos e geração de energia limpa.

O município de Minaçu, ao norte do estado, abriga o projeto Serra Verde, considerado o único empreendimento fora da Ásia capaz de extrair simultaneamente os quatro elementos magnéticos indispensáveis para a produção de superímãs: neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy).

Esses insumos são fundamentais para a indústria de motores elétricos e turbinas de alta eficiência.

A operação da Serra Verde Pesquisa e Mineração iniciou sua produção comercial em 2024, com capacidade anual estimada em 5 mil toneladas de óxido de terras raras até 2026.

O investimento acumulado ultrapassa R$ 760 milhões.

A planta industrial adota práticas de mineração sustentável, como uso exclusivo de energia renovável, processos de baixo impacto ambiental e eliminação de reagentes químicos perigosos.

O objetivo é consolidar a empresa como a terceira maior produtora mundial do segmento até 2030.

Novos investimentos e avanços em terras raras

Outro avanço relevante ocorre em Nova Roma, também em Goiás, onde a mineradora Aclara Resources, ligada ao grupo Hochschild Mining, projeta investir cerca de R$ 2 bilhões no desenvolvimento de terras raras em argilas iônicas.

O projeto, chamado “Módulo Carina”, já realizou 238 furos de sondagem, abrangendo uma área de aproximadamente 1,4 mil hectares e identificando elementos pesados de alto valor agregado.

Além disso, a canadense Appia Rare Earths & Uranium Corp. planeja investir mais R$ 550 milhões no estado nos próximos quatro anos, reforçando o protagonismo goiano no setor.

O protagonismo de Goiás se justifica não apenas pelo volume de reservas, mas também pelo contexto internacional.

A crescente disputa geopolítica pelo domínio de minerais críticos, evidenciada por recentes tensões entre grandes potências globais, eleva a importância estratégica do Brasil como fornecedor alternativo à hegemonia chinesa.

Em 2023, a Serra Verde se tornou referência ao fornecer elementos magnéticos para o mercado global, expandindo as oportunidades de exportação e atração de investimentos.

Crescimento nacional e cadeia produtiva

O cenário brasileiro para a mineração de minerais críticos está em rápida transformação.

O Ministério de Minas e Energia divulgou, em março de 2025, o “Guia para o Investidor Estrangeiro em Minerais Críticos”, documentando a existência de 48 projetos em andamento distribuídos em nove estados, com Minas Gerais, Bahia e Pará entre as regiões com maior número de iniciativas.

Minas Gerais concentra 13 projetos, Bahia 12 e Pará 10, enquanto Goiás lidera em potencial produtivo com infraestrutura industrial consolidada.

A demanda por minerais críticos está diretamente relacionada ao avanço tecnológico e à busca global por energia limpa.

Esses insumos são indispensáveis para baterias de lítio, painéis solares, supercondutores, chips de alta tecnologia, além de integrarem equipamentos militares e dispositivos médicos de última geração.

Entre os elementos mais requisitados estão cério, lantânio, európio, além dos já citados neodímio, praseodímio, térbio e disprósio.

Desafios e oportunidades econômicas

O desafio brasileiro passa pela necessidade de agregar valor à produção.

Especialistas destacam que a simples extração das terras raras representa apenas uma fração do potencial econômico.

O desenvolvimento de etapas de beneficiamento e refino, aliado à instalação de fábricas de componentes eletrônicos, poderia elevar o impacto econômico para patamares semelhantes aos principais polos internacionais, como China e Estados Unidos.

De acordo com Solange Srour, caso o Brasil avance nessas etapas, o impacto estimado sobe dos atuais R$ 47 bilhões (cenário mais pessimista) para R$ 243 bilhões no período até 2050.

A corrida global pelos minerais críticos também envolve cobre, lítio e níquel, fundamentais para baterias recarregáveis e sistemas de armazenamento de energia.

No cenário internacional, episódios recentes, como a proposta dos Estados Unidos em garantir reservas estratégicas na Groenlândia, ilustram o peso geopolítico desses insumos na nova economia verde.

Além de Goiás, outras regiões brasileiras apresentam iniciativas robustas, como Minas Gerais e Bahia, ampliando a diversificação de fontes e fortalecendo a segurança energética do país.

A entrada de novas empresas e investimentos estrangeiros no setor, aliada à criação de marcos regulatórios específicos, tem potencial para transformar o Brasil em potência mundial no segmento dos minerais críticos.

O papel do Brasil na transição energética global

Com a ampliação da demanda mundial, a posição brasileira se torna cada vez mais estratégica.

O protagonismo do país no fornecimento de terras raras e outros minerais críticos pode influenciar diretamente a matriz tecnológica global e promover a transição para uma economia de baixo carbono.

Diante desse panorama, resta a dúvida: o Brasil conseguirá transformar essa ‘carta na manga’ em liderança efetiva no cenário internacional de energia limpa e tecnologia?

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x