Produção agrícola brasileira atinge 345 milhões de toneladas em 2025, antecipando em quatro anos projeções oficiais; carnes, etanol e produtos florestais também batem recordes, mas gargalos de crédito e logística ameaçam ritmo de crescimento
O Brasil colheu em 2025 o maior volume de grãos de sua história, com 345,2 milhões de toneladas, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O resultado representa um avanço de 15,6% em relação à safra anterior e ultrapassa em quatro anos as projeções oficiais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que esperavam tal marca apenas para 2029.
A produção recorde é resultado direto da combinação entre clima favorável, expansão da área plantada e uso de tecnologia. Produtos como soja, milho, algodão, sorgo e amendoim foram os principais responsáveis pelo salto, consolidando o país como um dos maiores fornecedores de alimentos do planeta.
Safra recorde antecipa futuro
De acordo com o documento de projeções do agronegócio nacional elaborado em 2024 pelo Mapa em parceria com 13 entidades do setor, a expectativa para a temporada 2024/25 era de 319 milhões de toneladas de grãos. O patamar alcançado em 2025, quase 345 milhões, só estava previsto para ocorrer em 2028/29.
-
Produtores brasileiros perdem contratos após tarifa de Donald Trump sobre exportações
-
Exportações bilionárias do Brasil entram no radar: soja, café, carne bovina, cacau, madeira, borracha e óleo de palma só terão acesso à União Europeia com rastreabilidade total e prova de origem sem desmatamento
-
Ibama acende sinal de alerta e prepara região do Brasil para ataques de javalis e onças após registros alarmantes e riscos à agropecuária
-
Nova lei libera abate de 1 milhão de javalis no Brasil e pagamento para caçadores que contenham ‘praga’ que ameaça lavouras e rebanhos no Brasil
Na soja, a estimativa aponta crescimento de 15% em relação à safra anterior. O milho deve avançar 19%, o algodão 7% e o sorgo 23%. O destaque é o amendoim, com aumento de 45% e superando pela primeira vez 1 milhão de toneladas produzidas.
Esse desempenho também reflete a intensificação do sistema de três safras ao ano, prática cada vez mais comum em regiões como São Paulo, Mato Grosso e Goiás. Produtores como Mário Sérgio Silvério, de Guaíra (SP), exemplificam a mudança: em 1997, cultivava apenas 90 hectares; hoje, são mil hectares alternando milho, soja e feijão.
Carne, etanol e produtos florestais também avançam
O setor de carnes também registrou recordes em 2024: 10,2 milhões de toneladas de carne bovina, 14,2% acima de 2023; 13,6 milhões de toneladas de frango (+2,4%); e 5,3 milhões de toneladas de carne suína (+1,2%). Para 2025, apenas a bovina deve apresentar leve queda, devido à menor oferta de novilhas, mas frango e suínos seguem em crescimento.
No setor de energia, a produção de etanol atingiu 34,96 bilhões de litros no ciclo 2024/25 da cana-de-açúcar, alta de 4,06% em relação à temporada anterior. O biodiesel também deve crescer 10% em 2025, chegando a 9,9 bilhões de litros.
Produtos florestais acompanham a tendência, com avanço de pelo menos 11% sobre 2024, segundo entidades especializadas. Esses resultados ampliam a presença brasileira em cadeias globais de exportação, reforçando a imagem do país como fornecedor estratégico.
Exportações em ritmo histórico
As vendas externas confirmam a força do setor. Em 2024, o Brasil exportou 2,89 milhões de toneladas de carne bovina, 5,3 milhões de frango e 1,35 milhão de suína. Apesar de uma leve queda esperada para o frango em 2025, devido a casos de gripe aviária no Rio Grande do Sul, bovinos e suínos devem crescer mesmo sob barreiras como a tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre a carne bovina.
Dados da BTG Pactual e da Cogo Inteligência em Agronegócio apontam que o Brasil é líder mundial nas exportações de soja, algodão, café, açúcar, tabaco e suco de laranja. Também ocupa o segundo lugar em etanol e o terceiro em milho, consolidando o país entre os maiores players globais.
Soja e milho devem encerrar 2025 com volumes recordes embarcados: 109 milhões e 45 milhões de toneladas, respectivamente. Conforme José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro, o Brasil aproveita condições geográficas, clima tropical e tecnologia para desenvolver sistemas de plantio adaptados que atendem à demanda internacional.
Crédito e logística como gargalos
Apesar dos avanços, desafios estruturais ameaçam o ritmo de crescimento. O financiamento anual necessário para a produção agropecuária brasileira é estimado em R$ 1,3 trilhão, mas o Plano Safra 2025/26 disponibilizou R$ 605,2 bilhões — apenas 46% da demanda.
Segundo Hausknecht, o crédito no Brasil é caro, burocrático e pouco amparado por políticas de seguro rural. Soma-se a isso a falta de infraestrutura logística adequada, que encarece e atrasa o escoamento da produção. Esse cenário pressiona os produtores a aumentarem volume como forma de compensar preços em queda por unidade colhida.
Cooperativismo em expansão
A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) estima que 50% da colheita de grãos do país já passa por cooperativas agrícolas. No crédito, a participação dessas entidades pode alcançar 48% do total em 2025, superando os valores liberados pelo governo.
Márcio Lopes de Freitas, presidente da OCB, aponta que o crescimento das cooperativas é reflexo da busca por equilíbrio financeiro no campo. O aumento de 10% ao ano no número de associados reforça esse movimento.
Segundo Matheus Marino, presidente da Coopercitrus, além do crédito, o cooperativismo contribui na diversificação da produção e na sucessão familiar no campo, envolvendo novas gerações por meio de tecnologia e educação.
Perspectivas futuras
A informação foi publicada pelo portal Brasil Agro em 3 de setembro de 2025, que destacou ainda que o Brasil é um dos países com menor índice de subsídios no setor agro. Entre os grandes produtores, apenas a Argentina apresenta menos apoio governamental proporcional.
Especialistas afirmam que a tendência é de continuidade no crescimento. Com demanda global em alta por alimentos e energia, o Brasil segue como um dos principais fornecedores estratégicos.
Assim, mesmo diante de gargalos, o agro nacional projeta avanços em produção, exportação e inovação tecnológica, consolidando-se como pilar da economia e da segurança alimentar mundial.