Tarifas de Trump impactam exportações brasileiras e China não pode absorver excedente; especialistas apontam consequências econômicas graves.
O governo brasileiro corre contra o tempo para evitar a entrada em vigor das novas tarifas de Trump sobre produtos nacionais. A medida, que pode elevar para 50% os tributos sobre mercadorias exportadas aos Estados Unidos a partir de 1º de agosto, tem gerado intensa movimentação diplomática.
Uma comitiva de senadores esteve em Washington nesta semana, enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin articula com o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, buscando uma lista de exceções.
No entanto, com os prazos se esgotando e incertezas no ar, cresce a preocupação com os impactos sobre a economia brasileira e com a falta de alternativas — especialmente em relação à China, que, apesar de ser o maior parceiro comercial do Brasil, não absorve os mesmos tipos de produtos.
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EUA e China: parceiros distintos com demandas diferentes
Apesar de serem os dois principais destinos das exportações brasileiras, EUA e China demandam perfis de produtos completamente diferentes.
Segundo Livio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, o mercado americano importa do Brasil principalmente bens manufaturados, como aviões, autopeças e produtos intermediários como lingotes de aço.
Já a China concentra sua pauta de importações em commodities: entre janeiro e junho, 40% das compras foram de soja, seguidas por petróleo (19%) e minério de ferro (17%).
Essa divergência dificulta qualquer tentativa de redirecionamento. “A nossa pauta para os Estados Unidos é muito peculiar dentro do universo de produtos que vendemos para o mundo”, explica Ribeiro.
Commodities podem ser redirecionadas, mas a preços menores
Mesmo com algumas commodities sendo exportadas tanto para os EUA quanto para a China, como petróleo, carne bovina e minério de ferro, o cenário ainda é desafiador. Guilherme Klein, economista da Universidade de Leeds, alerta que o excesso de oferta no mercado internacional já tem pressionado os preços para baixo.
Embora a China possa, por questões geopolíticas, absorver parte desse excedente, isso não compensaria o impacto das tarifas impostas por Trump. “É difícil separar o que vai ser geopolítica do que vai ser por interesse econômico”, afirma Klein.
Setores industriais são os mais vulneráveis às tarifas
Entre os mais afetados pelas tarifas de Trump estão os setores que dependem fortemente do mercado norte-americano. O suco de laranja, por exemplo, exporta 41,7% de sua produção para os EUA. A CitrusBR afirmou que a nova tarifa criaria uma “condição insustentável” para o setor, que já enfrenta uma sobretaxa histórica. “Colheitas são interrompidas, o fluxo das fábricas é desorganizado”, diz a associação.
Outro setor em alerta é o de autopeças e equipamentos agrícolas, que envolvem comércio intrafirma e padrões técnicos específicos difíceis de adaptar a novos mercados. “Ainda não tem muito como transferir [esses itens] para outros mercados”, observa Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.
Indústrias de alta tecnologia também sentem os efeitos
A indústria de aviação é outro setor sob forte risco. A Embraer, cuja receita depende em 60% do mercado da América do Norte, pode ter até 46% de sua receita afetada pelas tarifas. A Weg, fabricante de eletroeletrônicos, também estaria exposta, embora em menor grau — cerca de 7% de sua receita poderia sofrer impactos diretos.
Essas empresas não apenas vendem para os EUA, mas também importam peças e componentes de lá. Em um cenário de guerra comercial, o aumento dos custos operacionais pode travar investimentos e afetar toda a cadeia produtiva.
Café brasileiro: difícil de substituir, mas ainda ameaçado
Mesmo produtos de forte demanda, como o café, não escapam da preocupação. O Brasil responde por cerca de um terço das importações americanas do grão, o que dificulta a substituição. O Cecafé alertou que, caso as tarifas se confirmem, os americanos terão de escolher entre pagar mais caro ou reduzir o consumo.
“Estamos na esperança de que o bom senso prevaleça, porque sabemos que quem vai ser onerado é o consumidor americano”, disse Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé.
Tarifa com motivação política?
O argumento de Trump para aplicar a nova tarifa se baseia no déficit comercial americano. Contudo, a balança entre Brasil e EUA é superavitária para os americanos, o que levanta suspeitas sobre motivações políticas.
Em carta a Lula, Trump citou o processo judicial contra Bolsonaro, acusando o Brasil de perseguir o ex-presidente e de restringir a liberdade de expressão.
“O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira”, respondeu Lula em comunicado oficial, afirmando que o país não aceitará ameaças à sua soberania.