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Brasil se une à China nos Brics e desafia o dólar: economista alerta que fala de Lula pode acionar de graça retaliações dos EUA e custar até R$ 30 bi ao PIB; tensão com Trump reacende guerra comercial

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 17/08/2025 às 17:51
Brasil desafia o dólar nos Brics, Lula provoca reação dos EUA e risco de retaliações pode custar até R$ 30 bi ao PIB brasileiro.
Brasil desafia o dólar nos Brics, Lula provoca reação dos EUA e risco de retaliações pode custar até R$ 30 bi ao PIB brasileiro.
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Defesa de Lula por moeda alternativa no Brics reacende tensão comercial com os EUA, amplia risco de retaliações bilionárias e pressiona diplomacia brasileira em meio à guerra tarifária e disputas com Trump.

A defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de alternativas ao dólar nas negociações do Brics teve “peso importante” para a sobretaxa aplicada pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, afirma Gabriel Leal de Barros, 39, economista-chefe da ARX Investimentos.

Em entrevista ao Poder360 neste domingo (17), ele estimou que eventuais desdobramentos podem tirar R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões do PIB anualizado e agravar o balanço de pagamentos pelo alto estoque de investimentos norte-americanos no país.

A leitura ocorre em meio ao tarifaço de 50% anunciado por Washington, com 694 itens isentos, entre eles combustíveis e fertilizantes, medida que entrou em vigor em 6 de agosto de 2025.

Moeda alternativa e o recado político do Planalto

Segundo Barros, a sequência de declarações de Lula sobre formas de “desintermediar o dólar” no comércio do Brics elevou o risco de retaliação.

Ele recorda que essa busca por meios de pagamento fora do sistema ancorado na moeda norte-americana costuma ser associada a países sob sanções ou em conflito geopolítico.

“Até então o Brasil não estava nessa lista”, disse ao Poder360, ao avaliar que o país “entrou gratuitamente nesse conflito” ao insistir no tema.

Em julho, o Rio de Janeiro sediou a cúpula dos Brics, quando o presidente reiterou que o bloco deve seguir discutindo alternativas ao dólar.

Nas semanas seguintes, Lula voltou a tocar no assunto em entrevistas, mantendo a pauta no centro do noticiário e do debate diplomático.

O que foi taxado e o que ficou de fora

A Casa Branca elevou a tarifa de importação para 50% sobre uma ampla cesta de produtos brasileiros. Ao mesmo tempo, excluiu 694 mercadorias do alcance da medida.

Entre as exceções constam suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes e aeronaves civis.

A exclusão desses itens, de alto peso comercial, atenuou o choque em setores estratégicos no curto prazo. As novas tarifas começaram a valer em 6 de agosto de 2025.

Comércio com a Rússia amplia atenção dos EUA

Enquanto isso, a Rússia consolidou-se como a maior vendedora de diesel ao Brasil desde 2023, superando os Estados Unidos.

O avanço ocorreu ao longo do terceiro mandato de Lula e alterou a geografia do suprimento de derivados no mercado interno.

Em 2023, por exemplo, 50,5% do diesel importado veio da Rússia, fatia que se manteve elevada em 2024 e 2025.

Na avaliação de Barros, esse deslocamento das compras e a manutenção de negócios com Moscou — inclusive em fertilizantes — deixam o Brasil exposto a nova rodada de retaliações, possivelmente com alíquotas iguais ou superiores a 100%, e sem exceções.

Caso um movimento assim ocorra, afirma o economista, o país terá “bastante dificuldade para se reequilibrar do ponto de vista de atividade econômica”.

Estimativas de impacto: PIB e contas externas

Barros calcula que, mesmo com a lista de isenções, o efeito do tarifaço e de novas medidas sobre o fluxo de comércio e de capitais pode reduzir a atividade em R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões em termos anualizados.

Além disso, a elevada exposição de empresas norte-americanas no Brasil teria potencial para “criar um problema” no setor externo, pressionando o balanço de pagamentos e a dinâmica do investimento direto.

A ordem de grandeza, diz, é de dezenas de bilhões de dólares.

Escalada verbal com Trump e reações diplomáticas

O economista afirma que o presidente brasileiro “instigou” reação do governo norte-americano ao insistir, em diferentes ocasiões, na tese de uma moeda do Brics ou de sistemas de pagamento paralelos ao dólar.

Paralelamente, o Palácio do Planalto intensificou contatos com parceiros do Brics e buscou diversificar mercados após o anúncio do tarifaço por parte da administração Trump.

O contexto reacendeu a retórica de guerra comercial e elevou a incerteza.

Ambiente doméstico: política fiscal, PEC dos precatórios, juros e preços

Para Barros, a política fiscal tem fornecido impulsos expansionistas recorrentes, ajudando a explicar por que o PIB vem surpreendendo e por que a inflação permanece acima da meta.

A avaliação é que a persistência do gasto mantém a economia “rodando acima do potencial”, o que dificulta a convergência do IPCA.

No campo institucional, ele classifica a PEC 66/2023 como mais um instrumento para sustentar o impulso fiscal.

A proposta altera regras de precatórios, retira parte dessas despesas do limite federal a partir de 2026 e reabre prazos de parcelamento de dívidas previdenciárias de Estados e municípios, ampliando espaço para gasto em diferentes esferas.

A matéria avançou no Congresso em julho e segue em tramitação.

Sobre a política monetária, Barros projeta que o Banco Central pode iniciar um novo ciclo de corte de juros no primeiro trimestre de 2026, possivelmente já em janeiro, caso o cenário-base se confirme.

Para a inflação do ano que vem, o economista trabalha com 4,8%, acima das projeções mais recentes do BC.

São estimativas da ARX, apresentadas em entrevista ao Poder360, que dependem do comportamento do câmbio, do fiscal e do ambiente externo.

O que observar a partir de agora

O governo brasileiro atua para preservar setores estratégicos e reduzir danos sobre a indústria exportadora diante da nova tarifa.

Em paralelo, a diplomacia tenta calibrar o discurso sobre o Brics sem recuar do objetivo de ampliar o uso de moedas locais ou de arranjos alternativos no comércio exterior.

A trajetória de curto prazo vai depender de três variáveis: a amplitude de eventuais novas retaliações, a resposta das cadeias produtivas aos custos adicionais e a efetividade das medidas internas para amortecer o choque.

No meio desse tabuleiro, a pergunta que define o humor dos agentes é simples: como o Brasil equilibra a ambição de redesenhar a arquitetura financeira do comércio sem provocar custos desnecessários à economia real?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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