Brasil assina acordo de livre-comércio com países da EFTA, criando zona econômica bilionária que promete ampliar exportações, abrir novos mercados e reduzir a dependência dos Estados Unidos em setores estratégicos da economia nacional.
O Brasil, por meio do Mercosul, assinou na semana passada um acordo de livre-comércio com os países da EFTA — Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça — que amplia o acesso a mercados para mais de 97% das exportações de ambos os lados.
O pacto cria uma área econômica com quase 300 milhões de pessoas e PIB combinado superior a US$ 4,3 trilhões, em um movimento visto como resposta à pressão tarifária dos Estados Unidos, que elevou custos de venda de produtos brasileiros e derrubou as exportações ao país em agosto.
O que foi assinado e por que importa
O tratado foi firmado no Rio de Janeiro e aguarda os trâmites internos de aprovação e ratificação para entrar em vigor.
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A EFTA e o Mercosul afirmam que haverá melhorias de acesso a mercado, com eliminação ou redução tarifária ampla, regras para serviços e investimentos e mais previsibilidade regulatória — um desenho voltado também a pequenas e médias empresas.
Na prática, o acordo sinaliza que o Brasil busca diversificar parceiros em meio ao acirramento de barreiras comerciais.
Segundo as comunicações oficiais, a melhoria de acesso para mais de 97% das exportações deverá elevar o intercâmbio e reduzir custos ao consumidor final em linhas selecionadas.
Impactos tarifários e setores beneficiados
Pelo desenho divulgado, a EFTA eliminará integralmente tarifas para bens industriais e pesqueiros logo na entrada em vigor, enquanto produtos agropecuários receberão acesso preferencial por quotas ou reduções de tarifa.
Além de carnes e café, as oportunidades incluem frutas, sucos e itens de maior valor agregado.
Para o governo brasileiro, quase 99% do valor exportado pelo país ao bloco europeu passará a ter livre-comércio quando o acordo estiver valendo.
Para Jackson Campos, especialista em comércio exterior, o acordo abre portas em mercados de alto poder aquisitivo, especialmente Suíça e Noruega.
“Os principais benefícios para o Brasil são a ampliação do acesso a mercados ricos, a redução do custo de insumos industriais, novas cotas e preferências para o agronegócio, oportunidades em serviços e compras governamentais, além do reforço da imagem de confiabilidade internacional e de compromisso com regras modernas de comércio e sustentabilidade”.
Efeito para consumidores e empresas
No varejo interno, analistas projetam efeito moderado, porém positivo sobre preços de importados à medida que tarifas caírem e a concorrência aumentar.
A expectativa é de que produtos como chocolates suíços e bens industriais cheguem com custos menores, enquanto exportadores brasileiros ganhem condições mais competitivas em nichos premium.
Para Rodrigo Provazzi, especialista em risco e governança, a competitividade tende a crescer com a redução tarifária em itens industriais e pesqueiros, mas o setor privado precisará se adequar a padrões técnicos e regulatórios rigorosos em qualidade, sustentabilidade e rastreabilidade.
Ele ressalta ainda que o país terá de avançar em logística e infraestrutura para capturar integralmente os ganhos.
Contexto: tarifas dos EUA e queda nas vendas
O avanço do acordo ocorre durante a escalada das tensões comerciais com os Estados Unidos.
A partir de agosto, o governo norte-americano aplicou sobretaxa de 50% sobre uma parcela relevante de produtos brasileiros, medida que contribuiu para uma queda de 18,5% nas exportações do Brasil aos EUA em agosto de 2025, segundo dados oficiais do MDIC.
Setores como café e carne bovina sentiram o impacto imediato; embarques de carne ao mercado norte-americano caíram fortemente nos meses seguintes.
Para Ana Beatriz Zanuni, especialista em comércio internacional, a redução gradual de tarifas e a abertura de novos mercados são caminhos para diluir a dependência de parceiros tradicionais, mitigando riscos em caso de novas restrições.
Agronegócio: portas para nichos de alto valor
No campo, entidades do setor enxergam potencial para produtos diferenciados e carnes premium, com cotas preferenciais em determinados itens e reduções tarifárias relevantes.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tem reiterado que a eliminação e a redução de tarifas podem acrescentar receita às exportações agropecuárias e estimular empregos, sobretudo onde há rastreabilidade e sustentabilidade certificada.
Estimativas divulgadas por veículos especializados, atribuídas a CNA e a dados da Secex/MDIC, falam em US$ 1,8 bilhão adicionais por ano e 18 mil vagas criadas, a depender da implementação e da resposta do mercado.
Campos pondera que o acordo também favorece serviços, inclusive digitais, e pode induzir inovação e integração produtiva.
“Em meio a uma crise com os Estados Unidos, esse acordo é importante porque diversifica mercados e mostra que o país está aberto ao comércio internacional e disposto a se alinhar a padrões de sustentabilidade e inovação valorizados na Europa”.
Desafios para transformar potencial em resultado
Apesar das perspectivas, o Brasil terá de enfrentar gargalos logísticos, custo de capital e complexidade tributária.
A adequação a requisitos sanitários e técnicos dos países da EFTA também exigirá investimentos em processos, governança e conformidade por parte de empresas exportadoras.
Especialistas lembram que o acesso para parte dos itens agropecuários virá por cotas, o que limita volumes em determinados segmentos.
Próximos passos e o cronograma de ratificação
Como em acordos dessa natureza, a validade dependerá da ratificação nos parlamentos nacionais.
Enquanto isso, governos e entidades empresariais articulam roteiros de implementação, mapeiam exigências regulatórias e detalham oportunidades por produto.
No curto prazo, o foco recai sobre setores industriais e pesqueiros, em que a remoção de tarifas será imediata com a entrada em vigor.
Ao mesmo tempo, autoridades brasileiras indicam que a aproximação com a EFTA integra uma estratégia mais ampla de diversificação, que inclui negociações com outros parceiros.
A leitura no governo é que cada novo acordo amplia o colchão de mercados e reduz a exposição a choques unilaterais, como os novos tributos dos EUA.
O que muda para o leitor agora
Até que o acordo entre em vigor, nada muda de imediato para consumidores e importadores.
Empresas, contudo, podem antecipar-se mapeando regras de origem, padrões técnicos e certificações exigidas pela EFTA, além de preparar cadeias logísticas para novos fluxos.
Provazzi resume a lição operacional: adequação regulatória e controles internos sólidos serão determinantes para aproveitar a janela aberta.
Com a reconfiguração do tabuleiro comercial e a assinatura com a EFTA, qual setor brasileiro você acredita que está mais preparado para ocupar espaço nesse mercado de alto poder aquisitivo?