O Brasil enfrenta déficit no armazenamento de grãos e precisa investir R$ 102 bilhões. A falta de armazéns impacta soja e milho!
O Brasil enfrenta um gargalo crítico na infraestrutura de armazenamento de grãos, segundo levantamento do Itaú BBA divulgado em 2025.
O estudo aponta que o país precisa investir cerca de R$ 102 bilhões para equilibrar a capacidade de estocagem com o crescimento da produção agrícola. A situação atinge diretamente produtores de soja e milho, que colhem safras recordes ano após ano, mas encontram dificuldade em guardar a produção.
O problema ocorre em todas as regiões, mas é mais grave em áreas de expansão agrícola, como o Mato Grosso e o MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), e coloca em risco a competitividade do agronegócio brasileiro nos mercados internacionais.
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Produção cresce mais rápido que os armazéns
Em 2025, a capacidade estática brasileira alcançou 213 milhões de toneladas, um aumento de apenas 0,5% em relação a 2024.
No entanto, a produção de soja e milho cresce, em média, 6% ao ano desde 2010. Esse descompasso pressiona diretamente os armazéns, que já não conseguem atender à demanda crescente.
Hoje, o Brasil conta com 11.921 unidades armazenadoras em operação. O Mato Grosso lidera em volume estocado, com 52 milhões de toneladas, enquanto o Rio Grande do Sul é o estado com maior número de estruturas, somando 3.278.
Apesar disso, nenhum deles escapa da pressão por mais capacidade de armazenamento de grãos.
Perdas financeiras para o produtor rural
A falta de espaço adequado para armazenar afeta diretamente a rentabilidade do agricultor.
De acordo com o Itaú BBA, 41% dos produtores que possuem armazéns próprios registraram ganhos entre 6% e 20% na venda dos grãos. Isso porque podem esperar o momento mais vantajoso para negociar.
Já os agricultores que dependem de terceiros são forçados a vender durante o pico da safra, quando os preços estão mais baixos, sofrendo com deságio e perda de competitividade.
Logística encarece a exportação
Outro fator que agrava o cenário é o escoamento da produção. Atualmente, 60% dos grãos brasileiros são transportados por rodovias. Esse modelo encarece e atrasa a logística.
O frete médio do Mato Grosso até o Porto de Santos, por exemplo, custa cerca de USD 84 por tonelada, valor que corresponde a 73% do gasto total para envio à China.
A dependência do transporte rodoviário aumenta os riscos e diminui o potencial competitivo do agronegócio frente a concorrentes internacionais.
Desafios nas novas fronteiras agrícolas
O problema se intensifica em estados de expansão agrícola. No Mato Grosso, mesmo sendo o maior em volume armazenado, o déficit chega a 51% da produção de soja e milho.
Rondônia opera com déficit de 75%, enquanto o MATOPIBA apresenta carência de 60%. Esses números mostram a urgência de investimentos públicos e privados para a construção de novos armazéns nessas regiões.
Diferença em relação aos Estados Unidos
A comparação com os Estados Unidos evidencia a fragilidade brasileira. Lá, a capacidade de armazenamento de grãos é de 615 milhões de toneladas, sendo 65% localizada dentro das propriedades rurais.
No Brasil, apenas 17% da estocagem ocorre em fazendas, o que torna os produtores mais vulneráveis às variações do mercado e da logística.
Especialistas defendem investimentos urgentes
Para o Itaú BBA, a solução exige ações coordenadas entre governo e setor privado.
“O Brasil precisa de investimentos maciços, políticas públicas mais robustas e condições de crédito mais favoráveis para modernizar e expandir sua infraestrutura de armazenagem, condição essencial para que o agronegócio nacional mantenha competitividade e acompanhe o ritmo do aumento da produção”, afirma Francisco Queiroz, especialista da Consultoria Agro do banco.