Estados Unidos indicam disposição para rever tarifas sobre o Brasil após encontro entre Trump e Lula na Assembleia-Geral da ONU em Nova York, reacendendo expectativas de negociações bilaterais e possíveis mudanças no comércio entre os dois países.
O governo dos Estados Unidos sinalizou abertura para discutir as tarifas de 50% aplicadas às importações brasileiras depois do encontro breve entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump na 80ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, em 23 de setembro.
A avaliação, feita por integrantes das duas delegações após o gesto cordial entre os presidentes, indica que os canais de diálogo foram reativados e que negociações técnicas podem avançar nas próximas semanas.
Estrutura das tarifas impostas
As sobretaxas hoje somam 50% e resultam da combinação de uma alíquota geral de 10% (o chamado “reciprocal tariff”) com um adicional de 40% para produtos do Brasil.
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A estrutura foi definida por ordens executivas publicadas no fim de julho e passou a valer no início de agosto, com exceções específicas.
Advogados de comércio exterior e notas oficiais detalham que a alíquota de 40% incide além da taxa de 10%, totalizando 50% para itens sem isenção.
Ainda que a Casa Branca tenha vinculado a medida a preocupações com liberdades e ao ambiente institucional no Brasil, a elevação ocorreu num contexto de tensão política entre os dois países.
O anúncio público do endurecimento tarifário foi feito por Trump em 9 de julho, em carta e postagens nas redes sociais, e veio na esteira do agravamento do contencioso bilateral.
Como se formou o impasse
Em março de 2025, o USTR publicou o relatório anual sobre barreiras comerciais e listou o Brasil entre os países com entraves considerados relevantes.
Essa leitura serviu de pano de fundo para a escalada de medidas adotadas meses depois.
No mês seguinte, o governo Trump editou ordens que redesenharam sua política tarifária.
Uma delas, de 30 de julho, citou “ações sem precedentes” do governo brasileiro e alegou impactos sobre empresas e cidadãos americanos, fornecendo a justificativa política para a ampliação de tarifas.
A deterioração das relações também coincidiu com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, decisão confirmada em 11 de setembro, com pena de 27 anos e 3 meses.
Embora o governo americano tenha tomado medidas citando razões próprias, a condenação de Bolsonaro tornou-se um ponto de fricção adicional no debate público entre Washington e Brasília.
O encontro entre Lula e Trump
Na ONU, Lula criticou a adoção de medidas unilaterais que afetam a economia brasileira e defendeu o respeito à soberania e às instituições do país.
Ao mesmo tempo, após o encontro, integrantes das duas comitivas descreveram um clima menos hostil e falaram em possibilidade de avanço nas conversas.
Trump, por sua vez, adotou tom mais conciliador e elogiou o presidente brasileiro depois do cumprimento.
Declarações do Ministério da Fazenda
Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cobrou a reversão do “tarifaço”.
Em suas palavras, o aumento “tem de acabar” e a orientação é “separar política da economia” para reconstruir a agenda bilateral.
O ministro afirmou também que o objetivo do Brasil é zerar a lista de produtos afetados, com negociação técnica e retomada do diálogo institucional.
Segundo o ministro, a Fazenda trabalha com pontos de partida que incluem exceções já previstas e discussões setoriais — como açúcar e etanol —, uma prática tradicional em tratativas com os EUA.
A expectativa do governo é obter previsibilidade para exportadores brasileiros sem desencadear uma nova rodada de retaliações.
Posição oficial dos Estados Unidos
Do lado americano, a mensagem pública recente foi de que tarifas são instrumento de pressão para corrigir desequilíbrios e garantir “reciprocidade”, mas que negociações são possíveis se houver contrapartidas.
Em Nova York, a leitura de bastidores foi semelhante: após o gesto entre os presidentes, assessores passaram a estudar trilhas de desescalada.
Além disso, relatos da imprensa registraram que Trump fez comentários elogiosos a Lula após a conversa, algo incomum no atual ciclo da relação bilateral e interpretado como sinal de abertura.
Impactos econômicos já sentidos
Setores exportadores brasileiros relatam queda de embarques para os Estados Unidos desde a vigência das sobretaxas.
Na cadeia do café, por exemplo, entidades informaram recuos expressivos em agosto e setembro, com ajuste de rotas comerciais para outros mercados.
Em paralelo, empresas afetadas pressionam por medidas de alívio no Brasil enquanto acompanham a possibilidade de um entendimento político em Washington.