Produção nacional deve estagnar, enquanto EUA ampliam liderança global com novas tecnologias e incentivos
Embora o Brasil tenha ampliado sua produção de petróleo nas últimas décadas, os sinais de alerta já começaram a soar.
Segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), divulgadas pelo Ministério de Minas e Energia em 2024, o Brasil pode se tornar importador da commodity já a partir de 2030.
Com produção estagnada prevista para o início da próxima década, os números projetam queda acentuada até 2040.
A estimativa aponta praticamente nenhuma produção até 2050.
Essa mudança contrasta fortemente com a realidade dos Estados Unidos.
O país investiu de forma agressiva em tecnologias de extração como o shale — ou gás de xisto — e abriu seu mercado ao setor privado.
Desde 2018, os EUA tornaram-se líderes globais no segmento.
Já o Brasil, com foco predominante em petróleo offshore, enfrenta desafios estruturais, regulatórios e ambientais que travam o crescimento da produção.
Diferenças geológicas e políticas travaram o avanço brasileiro
A interrupção dos leilões de petróleo entre 2008 e 2013 impactou de forma duradoura o setor.
Nesse período, o governo discutia o modelo de partilha do pré-sal.
Esse hiato reduziu drasticamente a oferta de blocos exploratórios, limitando o potencial produtivo nacional.
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Enquanto os Estados Unidos priorizavam a exploração onshore de baixo custo, o Brasil concentrou seus esforços no pré-sal.
Essa região, descoberta em 2006 pela Petrobras, representa hoje 80% da produção nacional.
Contudo, especialistas como Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), alertam para a vida útil limitada dessas reservas.
A Bacia de Campos, por exemplo, iniciada em 1977, já se encontra em fase de declínio.
O pré-sal, cuja exploração começou efetivamente em 2008, também terá queda irreversível nos próximos anos.
Falta de leilões e entraves regulatórios atrasam retomada
Existe a necessidade de novos leilões e reformas regulatórias!
Garantir a atratividade para investidores internacionais é essencial para reverter a tendência de declínio.
O potencial das bacias da Margem Equatorial, próxima à Guiana Francesa, e da Bacia de Pelotas, no sul do país.
Com base nos dados do IBP, essas áreas foram identificadas com elevado potencial de exploração e podem compensar parte das perdas esperadas.
Ainda assim, as dificuldades persistem.
Um dos maiores obstáculos, segundo o presidente da Gas Bridge, Marco Tavares, é a ausência de um ambiente de negócios mais competitivo.
Ele defende a adoção de tecnologias amplamente utilizadas no exterior, como o fracking, responsável por tornar o shale economicamente viável.
Contudo, desde 2019, o Paraná proíbe o uso dessa técnica.
O Ministério Público Federal mantém ações que dificultam sua implementação no território nacional.
Argentina e EUA ampliam protagonismo com shale
Enquanto o Brasil enfrenta limitações, outros países da América do Sul avançam.
A Argentina atraiu empresas internacionais ao liberar o uso do shale.
O país descobriu a segunda maior reserva do mundo — atrás apenas dos Estados Unidos.
Com isso, passou a exportar cerca de 50% da produção local, utilizando preços competitivos baseados no mercado americano.
Essa guinada levou gigantes do setor a se estabelecerem no país vizinho.
Agora, a Argentina compete diretamente com o Brasil na América Latina.
Segundo Ardenghy, essa concorrência é saudável, pois estimula avanços e segurança energética no continente.
Nos Estados Unidos, os resultados são ainda mais expressivos.
Em 2005, o país produzia cerca de 5 milhões de barris por dia.
Em 2024, ultrapassou 13 milhões, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Esse crescimento foi possível graças ao domínio do fracking.
A técnica permitiu à nação deixar de ser o maior importador mundial e se tornar exportador.
Caminhos para manter o Brasil como exportador relevante
Apesar do cenário desafiador, especialistas acreditam que o Brasil ainda pode se beneficiar da crescente demanda global por petróleo.
De acordo com João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia, a ampliação da agenda de leilões é urgente.
Isso garantiria previsibilidade para investidores e permitiria a realização de estudos sobre áreas promissoras.
Além disso, permitiria atrair empresas estrangeiras com interesse no mercado sul-americano.
Marques reforça que a entrada de companhias asiáticas, sobretudo chinesas, é estratégica.
O continente asiático tende a concentrar a maior demanda global nas próximas décadas.
Após a guerra na Ucrânia, a Europa também diversificou seus fornecedores.
Isso tornou o Brasil ainda mais relevante no cenário geopolítico.
Por isso, diversificar os fornecedores, investir em licenciamento ambiental e manter a confiança internacional são ações fundamentais.
Essas ações garantem que o Brasil continue sendo um player confiável e competitivo no mercado internacional de petróleo.
O tempo, contudo, está contra o país.
Caso nenhuma medida estrutural seja tomada nos próximos anos, as previsões da EPE devem se concretizar.
Assim, o Brasil passará de exportador promissor a dependente da importação de petróleo.