1. Início
  2. / Transporte Ferroviário
  3. / Brasil planeja megaforrovia de 3 mil km ligando o Atlântico ao Pacífico em parceria com a China, cruzando 4 biomas, 5 estados e integrando-se a 155 projetos ferroviários latino-americanos que somam R$ 2,1 trilhões
Tempo de leitura 6 min de leitura Comentários 0 comentários

Brasil planeja megaforrovia de 3 mil km ligando o Atlântico ao Pacífico em parceria com a China, cruzando 4 biomas, 5 estados e integrando-se a 155 projetos ferroviários latino-americanos que somam R$ 2,1 trilhões

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 09/09/2025 às 15:02
Brasil planeja megaforrovia de 3 mil km até o Pacífico em parceria com a China, parte de 155 projetos que somam US$ 384 bilhões.
Brasil planeja megaforrovia de 3 mil km até o Pacífico em parceria com a China, parte de 155 projetos que somam US$ 384 bilhões.
  • Reação
2 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo

Projetos ferroviários bilionários avançam na América Latina, com destaque para a megaforrovia entre Brasil e Peru, parceria com a China que pode transformar rotas comerciais e integrar diferentes biomas, fronteiras e cadeias produtivas no continente.

A América Latina voltou a apostar nos trilhos. Segundo o Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF), há 155 projetos ferroviários em carteira na região, com investimentos estimados em US$ 384 bilhões até 2050.

Nesse cenário, o Brasil colocou na mesa uma ligação de cerca de 3.000 km entre Ilhéus (BA) e Chancay (Peru), estudada em julho de 2025 em parceria com a China, para encurtar rotas ao mercado asiático e se conectar a obras em curso no continente.

Um corredor bioceânico no radar do Brasil

O plano brasileiro, segundo o portal UOL, prevê aproveitar trechos já existentes e concedidos, como a Ferrovia de Integração Oeste–Leste (Fiol), a Ferrovia Norte–Sul (FNS) e a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), e completar os vazios até a fronteira com o Peru.

A proposta cruza cinco estados — Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre — e atravessa quatro biomas.

A etapa atual é de estudos de viabilidade e traçado, após a assinatura de um memorando entre a estatal Infra S.A. e o China Railway Economic and Planning Research Institute.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, tem defendido a ambição do projeto. “Se este projeto for realizado, vamos transformar todo o cenário econômico do Brasil”, afirmou em julho.

Mapa do corredor bioceânico Brasil-Peru com trechos da FICO e FIOL até o porto de Chancay. (Imagem: Ministério dos Transportes)
Mapa do corredor bioceânico Brasil-Peru com trechos da FICO e FIOL até o porto de Chancay. (Imagem: Ministério dos Transportes)

Na mesma ocasião, disse que a iniciativa deixará o país “mais competitivo”, com efeitos diretos sobre o Norte, o Centro-Oeste, o interior do Sudeste e o Nordeste.

Chancay como porta de saída ao Pacífico

Do lado peruano, o porto de Chancay ganhou protagonismo após ser inaugurado em novembro de 2024, com investimento majoritário da chinesa COSCO.

A conexão ferroviária pretendida permitiria redirecionar cargas do agronegócio e da mineração brasileiras para o Pacífico, reduzindo dias de viagem em comparação a rotas pelo Canal do Panamá ou pelo Cabo da Boa Esperança.

Para especialistas em comércio exterior, essa mudança teria potencial de reposicionar corredores logísticos do Centro-Oeste no comércio com a Ásia.

Reação da indústria e as críticas ambientais

A aproximação com Pequim, contudo, divide opiniões. A Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) expressou indignação com a possibilidade de aquisição de material rodante no exterior e defendeu maior priorização da cadeia produtiva nacional.

A entidade argumenta que o setor instalado no país tem capacidade e ociosidade para atender novos pedidos e gerar emprego qualificado. Ambientalistas e movimentos sociais também apontam riscos.

Uma ferrovia dessa escala atravessa áreas sensíveis e pode induzir desmatamento indireto, ainda que a operação em trilhos seja menos emissora do que o transporte rodoviário por tonelada.

No Maranhão, por exemplo, líderes quilombolas vêm questionando um megaporto com ferrovia associada em área próxima a São Luís, citando possíveis impactos territoriais e sociais ao longo do traçado proposto.

No caso do corredor bioceânico, o governo afirma que os estudos considerarão alternativas que evitem terras indígenas e áreas de maior conservação.

Integração regional ganha tração

A reativação ferroviária não se limita ao Brasil.

O CAF mapeou que, entre os 155 projetos, 50 estão no Brasil, 21 no México e 20 na Colômbia, com diferentes estágios de maturidade e fontes de financiamento.

A própria instituição tem promovido fóruns técnicos e colocado recursos para obras estruturantes, com a tese de que trilhos reduzem custos logísticos e emissões e integram cadeias produtivas no longo prazo.

Traçado ferroviário entre Brasil e Peru, destacando Manaus, Acre e Chancay como pontos logísticos centrais. (Imagem: Centro de Estudos sobre China e Ásia-Pacífico, UP)
Traçado ferroviário entre Brasil e Peru, destacando Manaus, Acre e Chancay como pontos logísticos centrais. (Imagem: Centro de Estudos sobre China e Ásia-Pacífico, UP)

No Peru, além da conexão com o Brasil, discute-se uma ferrovia costeira, do limite com o Equador ao extremo sul na fronteira com o Chile, para descongestionar rodovias e articular portos.

A proposta é vista como complementar à expansão de Chancay e a outros terminais do Pacífico.

México: operação do Tren Maya sob escrutínio

No México, o Tren Maya é o caso mais adiantado de operação recente.

Desde a inauguração por etapas entre dezembro de 2023 e 2024, o serviço acumulou, até meados de julho de 2025, cerca de 1,36 milhão de passageiros em 7.290 viagens.

Apesar do fluxo crescente, o desempenho financeiro é negativo. Levantamentos publicados em 2025 mostram prejuízo operacional acumulado de 5,807 bilhões de pesos até junho daquele ano, com custos superando receitas.

O diretor do projeto, Óscar David Lozano Águila, relativiza as perdas iniciais, ao dizer que a infraestrutura cria um novo polo econômico com retorno de médio e longo prazo.

A repercussão regional é imediata. A Guatemala manifestou interesse em negociar uma interligação do Trem Maya até a Cidade da Guatemala e, futuramente, Belize.

Em declarações recentes, o presidente Bernardo Arévalo disse ver a ferrovia como vetor de desenvolvimento transfronteiriço e defendeu cooperação para estudos de viabilidade, com a premissa de não atravessar áreas de proteção ambiental.

Chile e Colômbia aceleram seus trilhos

No Chile, a estatal EFE toca duas frentes de passageiros na Região Metropolitana de Santiago.

O Tren Alameda–Melipilla tem custo estimado em cerca de US$ 1,9 bilhão e avança com licitações do trecho subterrâneo.

Já o Santiago–Batuco firmou em 2025 um contrato de US$ 470 milhões para as obras em superfície, com a etapa subterrânea prevista para licitação posterior.

A estratégia chilena prioriza ligações de média distância para desafogar o trânsito urbano e conectar periferias produtivas.

A Colômbia, por sua vez, segue com o projeto do Metrô de Bogotá e trens metropolitanos.

Em setembro de 2025, a capital recebeu o primeiro trem de sua Linha 1, marco simbólico de um empreendimento que pretende integrar Bogotá aos municípios de Cundinamarca e aliviar um sistema viário saturado.

O país também discute um trem interoceânico e a reativação de trechos de carga estratégicos.

YouTube Video

Geopolítica e logística no mesmo trilho

A leitura geopolítica permeia a agenda. Analistas observam que uma via terrestre ao Pacífico reduziria a dependência de rotas controladas por terceiros e aproximaria produtores brasileiros de seus principais compradores na Ásia.

Para o cientista político Mauricio Santoro, especialista em relações Brasil–China, uma ligação direta beneficiaria sobretudo os polos de commodities agrícolas e minerais, ao encurtar distâncias e prazos de embarque.

Em paralelo, persiste o debate sobre salvaguardas ambientais, consulta a comunidades e regras claras de conteúdo local para que os benefícios se materializem sem retrocessos sociais.

No balanço, a nova rodada ferroviária latino-americana combina ambição e cautela.

Governos correm para tirar do papel projetos de alto impacto econômico enquanto enfrentam questionamentos sobre governança, financiamento, salvaguardas e participação da indústria doméstica.

À medida que estudos avançam e canteiros se expandem, a pergunta central ganha urgência: qual modelo de ferrovia a região quer priorizar para equilibrar competitividade, proteção ambiental e desenvolvimento territorial de longo prazo?

Aplicativo CPG Click Petroleo e Gas
Menos Anúncios, interação com usuários, Noticias/Vagas Personalizadas, Sorteios e muitos mais!
Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x