O Brasil, terceiro maior mercado aéreo em crescimento, enfrenta turbulências severas. Com o real enfraquecido e custos dolarizados, as companhias lutam para manter-se nos céus. Rumores de fusões entre gigantes como Azul e Gol geram especulações, enquanto a infraestrutura deficiente atrasa o progresso.
O setor de aviação no Brasil vive um paradoxo. O país é o terceiro maior mercado em crescimento no setor aéreo, ficando atrás apenas de Índia e China, conforme dados recentes da International Air Transport Association (IATA).
No entanto, essa expansão enfrenta barreiras significativas causadas pela desvalorização do real em relação ao dólar.
O desequilíbrio cambial impacta diretamente os custos operacionais das companhias aéreas, que têm grande parte de suas despesas denominadas na moeda norte-americana.
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No mês de julho de 2024, o mercado doméstico transportou 8,5 milhões de passageiros, um aumento de 1% em comparação ao mesmo período de 2023.
O segmento internacional, por sua vez, cresceu 17% no mesmo intervalo, segundo dados da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Esses números mostram que a demanda por viagens aéreas segue em ritmo acelerado, mas também evidenciam os desafios impostos por um cenário econômico adverso.
Impactos da alta do dólar
Custos dolarizados: o calcanhar de aquiles das empresas aéreas
A alta do dólar encarece uma série de itens essenciais para as operações aéreas, como combustível, leasing de aeronaves, manutenção e seguros.
Segundo Willie Walsh, diretor-geral da IATA, “não importa o quão eficiente seja a gestão de uma empresa aérea, a desvalorização do real gera um impacto desproporcional nos custos operacionais”.
A afirmação foi feita durante um evento recente em Genebra, onde Walsh destacou que muitas companhias brasileiras não conseguem transferir completamente esses custos para o preço das passagens.
No Brasil, cerca de 60% dos custos das companhias aéreas são dolarizados, enquanto as receitas são majoritariamente em reais.
Essa discrepância torna o mercado altamente vulnerável às oscilações cambiais. “Com exceção das transportadoras dos EUA, quase todas as companhias aéreas globais enfrentam dificuldades financeiras, mas os mercados emergentes sentem um peso ainda maior”, acrescenta Walsh.
Crescimento sustentável ou bolha?
Recuperação pós-pandemia traz novos desafios
Desde o fim das restrições da pandemia de COVID-19, o setor aéreo brasileiro tem apresentado uma retomada notável.
Dados da ANAC mostram que os níveis de passageiros transportados em 2024 são equivalentes ou superiores aos registrados antes da pandemia. O mercado internacional se destacou com um aumento de 4,3% em relação a 2019.
No entanto, especialistas alertam para os riscos de uma bolha no setor. O aumento da demanda por viagens vem acompanhado de pressões inflacionárias e custos crescentes.
Apesar de avanços como a introdução de aeronaves mais eficientes e acordos bilaterais que ampliaram a conectividade internacional, as companhias enfrentam dificuldades para equilibrar as contas.
Fusões e aquisições: solução ou problema?
Azul e Gol: um possível casamento de gigantes
Recentemente, rumores sobre a fusão entre Azul e Gol voltaram a ganhar força. Embora a IATA não veja essa movimentação como prejudicial à concorrência, muitos analistas questionam o impacto para consumidores e pequenos players do mercado.
“Mesmo em um cenário de consolidação, sempre há espaço para novas companhias entrarem no mercado”, argumenta Walsh.
Por outro lado, fusões podem trazer benefícios, como a redução de custos e maior eficiência operacional. A entrada de novos players, como companhias de baixo custo, também contribui para manter a competitividade e melhorar a experiência do consumidor.
Infraestrutura: um entrave ao crescimento
Aeroportos brasileiros precisam de modernização
Outro desafio enfrentado pelo setor é a infraestrutura aeroportuária. Apesar dos avanços com concessões e investimentos privados, muitos aeroportos ainda carecem de melhorias significativas em capacidade e eficiência.
Segundo a consultoria Rayol, a falta de infraestrutura moderna limita o potencial de crescimento do mercado aéreo brasileiro.
A movimentação de cargas também enfrenta dificuldades. Em julho de 2024, o mercado processou 40,7 mil toneladas de carga doméstica e 75,3 mil toneladas de carga internacional. Apesar do crescimento em relação a 2023, especialistas apontam que o Brasil ainda está atrás de outros mercados globais em termos de eficiência logística.
Futuro da aviação no Brasil
Soluções para um mercado mais competitivo
Para superar os desafios, o Brasil precisará adotar uma abordagem multifacetada. Isso inclui desde políticas que mitiguem o impacto da alta do dólar até incentivos para modernização da frota e infraestrutura.
A ampliação de acordos internacionais e a desburocratização do setor também são fundamentais.
Empresas como a Embraer desempenham um papel crucial nesse cenário. Recentemente, a fabricante brasileira anunciou parcerias para o desenvolvimento de aeronaves mais sustentáveis, alinhadas à tendência global de descarbonização.
Com o crescimento do setor aéreo no Brasil, mas os desafios impostos pela alta do dólar, quais soluções você acredita que podem ser implementadas para equilibrar o mercado?