O Pix se consolidou como referência mundial em pagamentos digitais, virou pauta no BRICS, ganhou nova funcionalidade no Brasil e entrou até na investigação comercial dos Estados Unidos, evidenciando seu impacto econômico e político global.
O Pix segue consolidado como principal meio de pagamento no Brasil e ganhou recentemente a funcionalidade Pix Automático, voltada a cobranças recorrentes e integrada ao Open Finance.
Enquanto expande o alcance no varejo e entre pequenos negócios, o sistema entrou no radar político e comercial dos Estados Unidos.
O governo norte-americano abriu uma investigação comercial que cita o Pix entre práticas brasileiras que, na visão do USTR, prejudicam empresas dos EUA.
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Em meio a esse cenário, o advogado Daniel Alvarenga resume o momento: “Brasil já não é mais o país do futebol, é o do Pix”, disse ele em entrevista ao portal UOL nesta quarta-feira (28).
Pix vira vitrine internacional
A expansão do arranjo instantâneo do Banco Central transformou a experiência de pagamento do consumidor brasileiro desde 2020 e passou a despertar atenção fora do país.
Em julho, soluções de adquirência começaram a aceitar Pix em pontos de venda nos Estados Unidos, em parceria com fabricantes de maquininhas. Com isso, o método passou a ser testado em lojas físicas no exterior.
No plano geopolítico, o tema também entrou na agenda do BRICS, que discute o BRICS Pay, projeto de integração de pagamentos instantâneos entre os países do bloco, com previsão de avanços técnicos ainda em 2025.
Pix Automático: nova etapa para cobranças recorrentes
O Pix Automático foi lançado em 16 de junho de 2025 com a proposta de simplificar o pagamento de contas e serviços recorrentes, como assinaturas, mensalidades e contas de consumo.
A jornada permite que o usuário autorize uma cobrança periódica e, a partir daí, os débitos aconteçam de forma automática, com segurança e transparência.
O desenho técnico prevê oferta tanto pelos bancos quanto por iniciadores de pagamento via Open Finance, ampliando o alcance da funcionalidade para empresas de todos os portes.
Segundo o Banco Central, a novidade busca reduzir fricções típicas do débito automático tradicional, padronizar integrações e baixar custos operacionais de quem cobra mensalmente.
Na prática, recorrentistas podem adotar a ferramenta sem depender de convênios específicos com várias instituições.
Isso tende a facilitar conciliação, reduzir inadimplência e melhorar a experiência do cliente.
Especialista destaca impacto para pequenos negócios
Para o advogado Daniel Alvarenga, especialista em regulação bancária, o recurso traz ganhos diretos à gestão financeira de pequenos negócios.
“O Pix agora tem uma ferramenta nova e ela vai correr nos trilhos do Open Finance que chama Pix Automático. Isso é superinteressante para os empreendedores”, afirmou.
Ainda de acordo com ele, a cobrança recorrente por Pix tende a alcançar clientes de qualquer banco, o que elimina a necessidade de manter acordos pontuais com uma única instituição.
Alvarenga também destaca o efeito reputacional do sistema brasileiro no exterior.
“Todos já conhecem o Pix. Eu estive alguns meses atrás em Londres, e todo mundo queria conversar com os brasileiros, porque o Brasil deixou de ser o país do futebol, agora é o país do Pix”, disse, ao relatar o interesse de interlocutores estrangeiros na infraestrutura aberta que sustenta o arranjo.
Investigação nos Estados Unidos envolve o Pix
Em 15 de julho, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) abriu investigação sobre práticas brasileiras em comércio digital e serviços financeiros, incluindo o Pix.
Documentos da apuração listam o sistema entre medidas que, segundo a queixa, favoreceriam empresas locais em detrimento de concorrentes norte-americanos.
A etapa de contribuições públicas ocorreu até 18 de agosto, com manifestação de entidades brasileiras do setor produtivo. Não há decisão final.
Embora o debate tenha sido associado ao ex-presidente Donald Trump, atualmente à frente do governo que conduz a investigação, checagens independentes apontam que não há anúncio oficial de sanções específicas ao Pix nem declaração formal prometendo “taxar” o sistema.
O que existe é a inclusão do arranjo instantâneo no escopo mais amplo da análise comercial do USTR.
Banco Central defende neutralidade do sistema
Diante das críticas, o Banco Central tem reiterado que o Pix é uma infraestrutura pública neutra.
Foi desenhado para aumentar eficiência, competição e inclusão no mercado de pagamentos, sem competir com instituições privadas.
A autoridade monetária também lembra que, mesmo com o avanço do Pix, o uso de cartões seguiu crescendo.
O arranjo ajudou a trazer milhões de pessoas para o sistema financeiro desde a estreia.
BRICS discute integração com o Pix
A visibilidade do Pix dentro e fora do país impulsionou sua citação como referência em fóruns de economias emergentes.
No BRICS, a proposta do BRICS Pay busca interligar sistemas como o Pix brasileiro, o UPI indiano e outros equivalentes. A ideia é permitir liquidação instantânea entre países em suas moedas locais.
Representantes ligados ao conselho empresarial do bloco afirmam que o projeto avançou em testes técnicos e pode ter marcos de implementação ainda este ano.
O que muda para quem cobra e para quem paga
Para o empreendedor, sobretudo o de menor porte, a principal mudança do Pix Automático está na portabilidade da cobrança.
A empresa pode contratar um provedor ou iniciador e, com o consentimento do cliente, receber todo mês independentemente do banco do pagador.
Isso abre espaço para preços mais baixos de aceitação, reduz complexidade de integração e padroniza a experiência.
Para o consumidor, a autorização é clara e revogável. O modelo prevê trilhas de consentimento do Open Finance, painéis de gestão e notificações para manter controle sobre saídas recorrentes.
Enquanto o debate político segue, o cotidiano aponta para uma adoção cada vez mais ampla.
Do pagamento na maquininha de uma loja estrangeira à mensalidade da academia de bairro, o Pix se firmou como infraestrutura sobre a qual novos serviços são construídos. O Pix Automático adiciona uma camada de recorrência que faltava ao ecossistema.
No cenário internacional e na agenda doméstica de inovação financeira, qual será o próximo passo que colocará o Brasil ainda mais no centro das conversas sobre pagamentos digitais?