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Brasil inaugura a maior fábrica de mosquitos modificados do mundo e pretende proteger até 70 milhões de pessoas

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 02/08/2025 às 20:26
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Com apoio da Fiocruz e Ministério da Saúde, Brasil lidera estratégia global de combate à dengue com liberação de mosquitos modificados

O Brasil acaba de alcançar um marco inédito no combate às arboviroses. Foi inaugurada em Curitiba, no Paraná, a maior biofábrica do mundo dedicada à produção de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, uma inovação biotecnológica considerada segura, natural e altamente eficaz contra doenças como dengue, zika e chikungunya. A nova unidade da Wolbito do Brasil promete proteger até 14 milhões de pessoas por ano, atendendo exclusivamente ao Ministério da Saúde e consolidando a liderança do país nesse tipo de estratégia de saúde pública.

Com 3,5 mil metros quadrados de área construída e um sistema totalmente automatizado, a biofábrica integra o que há de mais avançado em entomologia e produção biotecnológica. O projeto é fruto de uma parceria entre o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), vinculado à Fiocruz, e o World Mosquito Program (WMP), uma organização internacional sem fins lucrativos com mais de uma década de experiência no uso da tecnologia Wolbachia.

Inovação que reforça a soberania nacional

Durante a cerimônia de inauguração, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou que a instalação da nova biofábrica é uma resposta estratégica à dependência internacional por insumos de saúde — um problema escancarado durante a pandemia da COVID-19. Para Padilha, o projeto representa um “exercício de soberania e inovação nacional”, fortalecendo a ciência, a produção tecnológica local e a capacidade do Brasil de reagir a surtos epidemiológicos com soluções próprias.

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Já o presidente da Fiocruz, Mário Moreira, ressaltou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) para viabilizar a ampla aplicação da técnica: “Essa iniciativa só é possível porque temos um SUS consolidado em todo o país. A implementação do método depende do engajamento de estados, municípios e da população, além de um sistema público que permita ações coordenadas”, afirmou.

O presidente da Fiocruz, Mário Moreira, destacou a importância da iniciativa para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (Foto: Divulgação)

Como funciona o Método Wolbachia?

A Wolbachia é uma bactéria naturalmente presente em mais de 50% dos insetos da natureza — mas não nos Aedes aegypti. A tecnologia consiste em introduzir a bactéria nesses mosquitos, impedindo que os vírus da dengue, zika ou chikungunya consigam se replicar em seus organismos. Quando um mosquito com Wolbachia se reproduz, transmite a bactéria às próximas gerações, criando uma cadeia de proteção biológica que se espalha pelas populações naturais de mosquitos.

Diferente de métodos transgênicos ou químicos, a abordagem com Wolbachia é considerada natural, segura, autossustentável e não agride o meio ambiente. A técnica já foi testada com sucesso em diversas regiões do Brasil — em Niterói (RJ), por exemplo, os casos de dengue caíram 69% após a aplicação do método, segundo estudos publicados.

Uma estratégia nacional contra as arboviroses

O Ministério da Saúde incorporou o Método Wolbachia como uma das principais frentes de combate às arboviroses. Até agora, cerca de 5 milhões de brasileiros já foram beneficiados diretamente pela estratégia. Com a ampliação da produção, a expectativa é chegar a 70 milhões de pessoas nos próximos anos.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou que a biofábrica “reafirma nosso compromisso com a ciência, com a industrialização estratégica da saúde e com a redução da dependência externa” (Foto: Divulgação)

A nova biofábrica atenderá inicialmente seis municípios prioritários, escolhidos com base em critérios técnicos do Ministério da Saúde e com apoio da Fiocruz. São eles: Balneário Camboriú, Blumenau e novas áreas de Joinville, em Santa Catarina; Valparaíso de Goiás e Luziânia, em Goiás; e o Distrito Federal. Essas regiões já estão na fase de engajamento comunitário e receberão os primeiros “Wolbitos” entre agosto e setembro.

Comunicação com a população é peça-chave

Segundo Luciano Moreira, CEO da Wolbito do Brasil e pesquisador responsável por trazer a técnica ao país, o diferencial do projeto está na comunicação com a população: “Não basta liberar os mosquitos. É fundamental informar, engajar e esclarecer as comunidades. A aceitação social amplia o sucesso da tecnologia”, explica.

A biofábrica foi planejada para operar em estreita articulação com campanhas de informação, atividades educativas e parcerias locais. Cada etapa da implantação é acompanhada por equipes especializadas em entomologia e engajamento social.

Aliança internacional em benefício da saúde pública

O projeto nasceu de uma joint venture entre a Fiocruz e o World Mosquito Program, responsável por implementar a tecnologia em 14 países. Para o CEO do WMP, o australiano Scott O’Neill — cientista que liderou os estudos pioneiros sobre a Wolbachia —, a iniciativa brasileira é um exemplo global: “Este projeto não só oferece esperança ao Brasil, mas também representa um avanço para o futuro da saúde pública mundial. Com ciência, colaboração e comprometimento, estamos desenvolvendo soluções acessíveis e eficazes para milhões de pessoas”, afirmou.

Próximos passos

Com a operação da Wolbito do Brasil a pleno vapor, o país deve acelerar a cobertura do método em regiões com altos índices de arboviroses. A meta é transformar a estratégia em uma ferramenta de longo prazo no controle dessas doenças, ao lado de vacinas, diagnósticos e ações de vigilância epidemiológica.

Mais do que uma fábrica de mosquitos, a unidade de Curitiba simboliza um modelo de desenvolvimento científico, tecnológico e estratégico, com potencial para exportação de conhecimento e liderança global no combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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