Operação Atlas mobiliza Exército, Marinha e Aeronáutica na Amazônia, próximo à fronteira venezuelana, enquanto Brasil tenta afastar ligação com crise Maduro–Trump
O Ministério da Defesa anunciou para o fim de setembro a realização de um grande exercício militar na região amazônica. A movimentação envolve deslocamento de tropas a cerca de 30 quilômetros da fronteira com a Venezuela. O governo busca deixar claro que a ação não está ligada à crise atual entre Nicolás Maduro e Donald Trump.
Operação Atlas
A atividade foi batizada de Operação Atlas. Trata-se de um exercício conjunto do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
O treinamento inclui deslocamento de militares de várias regiões para os estados do Amazonas, Pará, Amapá e Roraima. Este último faz fronteira direta com a Venezuela.
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O deslocamento das tropas começa em 27 de setembro. Os exercícios estão programados para ocorrer entre 2 e 11 de outubro.
O mais importante é que os países vizinhos e os Estados Unidos já foram comunicados com antecedência em reuniões oficiais em Brasília.
Ainda assim, com a escalada recente da crise, o ministro José Múcio Monteiro reforçou junto a autoridades venezuelanas que não há relação entre a operação e o conflito envolvendo Maduro e Trump.
Recado a Caracas e Washington
Segundo pessoas que acompanharam as tratativas, Múcio se reuniu com representantes da embaixada da Venezuela em Brasília. A mensagem foi clara: a movimentação já estava prevista há meses e não se trata de provocação.
Além disso, o ministro pediu ao chanceler Mauro Vieira que também reforçasse essa posição aos Estados Unidos.
A comunicação oficial a Washington não foi feita, mas auxiliares do governo afirmam que os americanos já tinham conhecimento da operação.
Mesmo assim, há receio de que a atividade seja mal interpretada. Múcio teme que a Operação Atlas seja vista como reação militar brasileira diante da escalada entre Trump e Maduro.
Pressão dos Estados Unidos
O governo Trump intensificou as ações contra a Venezuela. Navios de guerra americanos da classe Arleigh Burke foram enviados para a costa venezuelana.
São três destróieres equipados com sistemas de mísseis de ataque. Autoridades americanas justificaram o movimento como parte de uma ofensiva contra cartéis de drogas da América Latina.
A retórica também cresceu. A porta-voz Karoline Leavitt declarou que os EUA usarão “toda a força” contra o regime de Maduro.
Em resposta, o ditador venezuelano anunciou a mobilização de 4,5 milhões de integrantes de milícias paramilitares. Segundo ele, trata-se de uma medida de defesa contra uma ameaça externa.
Repercussões no Brasil
As tensões entre Venezuela e Estados Unidos se somam a um ambiente de alerta no governo brasileiro. A Operação Atlas ocorre justamente quando surgem sinais de desgaste na cooperação militar entre Brasil e EUA.
O ministro Múcio relatou o tema em reunião fora da agenda com o presidente Lula no Palácio da Alvorada.
Ele informou que militares americanos demonstraram insatisfação com a participação das Forças Armadas da China em exercícios conjuntos no Brasil.
Outro ponto de atrito foi o cancelamento da Conferência Espacial das Américas. O evento, que seria organizado pelo Comando Sul dos EUA em parceria com a Força Aérea Brasileira, estava marcado para 29 a 31 de julho, em Brasília. O cancelamento foi interpretado como reflexo direto das tensões políticas.
Operações suspensas
Diante desse cenário, o Ministério da Defesa avaliou que seria prudente suspender atividades que dependiam da cooperação direta com os americanos. Assim, duas operações foram paralisadas.
A primeira é a Operação Formosa. Considerada o principal exercício dos fuzileiros navais, a atividade conta há uma década com participação dos EUA.
A segunda suspensão envolve a Operação Core 2025, que seria o maior treinamento conjunto entre os exércitos dos dois países.
Essa última estava prevista para novembro, na caatinga pernambucana. Desde o início do ano, oficiais brasileiros e americanos vinham se reunindo para ajustar detalhes.
A suspensão, por tempo indeterminado, mostra o peso da crise no planejamento militar.
Contexto de tensão
Portanto, a Defesa busca separar claramente os objetivos da Operação Atlas da crise regional. O exercício amazônico segue programado, mas em paralelo, relações militares entre Brasil e Estados Unidos atravessam fase delicada.
Enquanto tropas brasileiras se deslocam para o Norte, americanos e venezuelanos intensificam demonstrações de força.
Nesse ambiente, o governo Lula tenta manter equilíbrio diplomático para não transformar um treinamento planejado em fonte de ruído internacional.
O mais importante, segundo auxiliares do ministro, é garantir que a mobilização seja entendida como atividade de rotina.
Ainda assim, autoridades brasileiras reconhecem que a conjuntura exige atenção redobrada, porque qualquer gesto pode ser interpretado como sinal político.
Com datas confirmadas, locais definidos e avisos já feitos, a Operação Atlas ocorrerá sob vigilância internacional.
A fronteira brasileira com a Venezuela, portanto, se torna mais uma vez palco de exercícios que misturam treinamento militar e sensibilidade diplomática.
Com informações de Jornal de Brasília.