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Brasil exporta centenas de milhões de toneladas de soja para a China e movimenta bilhões em divisas, mas gasta mais de US$ 2 bilhões anuais em agrotóxicos chineses, revelando um ciclo de dependência que ameaça a base do agronegócio, segundo OEC

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 15/09/2025 às 12:29
Brasil exporta centenas de milhões de toneladas de soja para a China e movimenta bilhões em divisas, mas gasta mais de US$ 2 bilhões anuais em agrotóxicos chineses, revelando um ciclo de dependência que ameaça a base do agronegócio, segundo OEC
Foto: Brasil exporta centenas de milhões de toneladas de soja para a China e movimenta bilhões em divisas, mas gasta mais de US$ 2 bilhões anuais em agrotóxicos chineses, revelando um ciclo de dependência que ameaça a base do agronegócio, segundo OEC
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Brasil exporta centenas de milhões de toneladas de soja para a China, mas gasta mais de US$ 2 bilhões por ano em agrotóxicos chineses. OEC revela ciclo de dependência que ameaça o agro.

O agronegócio brasileiro se consolidou como motor da economia nacional e protagonista no comércio global. A soja, carro-chefe da pauta agrícola, gera superávits bilionários e tem na China seu maior comprador, com embarques que superam 100 milhões de toneladas por ano. Em 2023, por exemplo, o Brasil exportou mais de 127 milhões de toneladas de soja, movimentando cifras superiores a US$ 50 bilhões.

Mas, por trás desse desempenho impressionante, existe uma contradição estrutural: para sustentar essa engrenagem, o Brasil importa quantidades gigantescas de insumos agrícolas — em especial agrotóxicos — e a maior parte deles vem justamente da China. Segundo dados do Observatory of Economic Complexity (OEC), em 2024 o Brasil gastou US$ 2,08 bilhões em pesticidas chineses, revelando um ciclo de dependência que ameaça a base produtiva do campo.

Soja para a China: a engrenagem bilionária do agro

A relação Brasil–China se consolidou como uma das mais intensas do comércio internacional. De um lado, o Brasil envia navios lotados de soja que alimentam a cadeia de proteína animal chinesa, abastecendo granjas, indústrias e supermercados. De outro, recebe divisas que fortalecem a balança comercial e sustentam parte do PIB.

O volume exportado é colossal: a soja responde por cerca de 15% de todas as exportações brasileiras e é responsável por quase 70% do fluxo agrícola para a China. Essa dependência mútua fez da oleaginosa um pilar estratégico das relações entre os dois países.

A conta que volta em forma de agrotóxicos

Para manter a produtividade da soja em altíssimos níveis — em algumas regiões chegando a mais de 60 sacas por hectare, o Brasil depende de fertilizantes e defensivos agrícolas. E é nesse ponto que a dependência externa se torna evidente.

Segundo o OEC, em 2024 o Brasil importou US$ 2,08 bilhões em agrotóxicos chineses, consolidando Pequim como principal fornecedor de pesticidas.

O montante equivale a quase um terço de todas as compras brasileiras nessa categoria, demonstrando que o país asiático não é apenas comprador de commodities, mas também fornecedor dos insumos que sustentam a produção dessas mesmas commodities.

É um ciclo paradoxal: o Brasil exporta soja bruta e importa químicos processados da China para continuar exportando mais soja.

O risco de uma dependência assimétrica

Esse modelo cria vulnerabilidades estratégicas para o agronegócio brasileiro:

  • Risco de preços – Qualquer oscilação no câmbio ou nos custos internacionais de pesticidas impacta diretamente o custo de produção no campo.
  • Risco geopolítico – Tensões comerciais ou restrições de exportação impostas pela China poderiam comprometer a oferta de insumos no Brasil.
  • Risco ambiental e sanitário – A forte dependência de químicos importados limita a autonomia nacional para transitar para modelos mais sustentáveis de produção.

Em outras palavras, o Brasil entrega commodities e, em troca, recebe a conta dos insumos que mantêm sua engrenagem funcionando.

Impactos no produtor e no consumidor

Para o produtor rural, essa dependência significa margens mais apertadas e vulnerabilidade em relação ao dólar. Em 2022 e 2023, com a disparada dos preços globais de insumos, muitos agricultores viram os custos dobrarem, corroendo parte dos ganhos obtidos com a exportação de soja.

Para o consumidor final, os efeitos são indiretos, mas igualmente relevantes. Custos maiores no campo se traduzem em alimentos mais caros na prateleira, pressionando a inflação e comprometendo o poder de compra da população.

Especialistas alertam que o Brasil precisa rever sua estratégia. Embora seja natural importar parte dos insumos, a concentração excessiva em um único país fornecedor aumenta os riscos. Além disso, a falta de uma indústria nacional robusta de defensivos e fertilizantes limita a autonomia do país em um setor vital para sua economia.

O paradoxo é evidente: o Brasil sustenta a segurança alimentar da China com sua soja, mas depende da própria China para ter acesso aos insumos que permitem produzir essa soja.

Caminhos para reduzir a dependência

Algumas alternativas estão em discussão:

  • Diversificação de fornecedores – ampliar compras de países como Índia, Alemanha e Estados Unidos para reduzir a concentração na China.
  • Indústria nacional de insumos – estimular fábricas de agroquímicos e bioinsumos no Brasil, reduzindo custos e dependência externa.
  • Pesquisa e inovação – fortalecer instituições como Embrapa para desenvolver defensivos biológicos e soluções sustentáveis.
  • Política de estocagem – criar reservas estratégicas de insumos para amortecer crises de abastecimento.

O Brasil se apresenta ao mundo como potência agrícola e fornecedor confiável de alimentos. Mas, internamente, depende de importações bilionárias de insumos para manter essa posição.

Enquanto exporta centenas de milhões de toneladas de soja, continua preso a um ciclo em que riqueza sai em navios, e a conta volta em forma de agrotóxicos chineses. Qual a sua opinião sobre isso?

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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