Brasil amplia presença no agro global ao conquistar mercado de farinhas animais no México, setor avaliado em US$ 1 bilhão, e passa a disputar espaço com os Estados Unidos nas áreas de rações e pet food.
O Brasil obteve o aval do México para iniciar exportações de farinhas de bovinos e suínos, abrindo a porta de um mercado estimado em US$ 1 bilhão e entrando na rota de insumos estratégicos para rações e pet food.
O movimento ocorre no rastro do avanço das vendas de carne bovina ao país, que em agosto de 2025 se tornou o segundo maior destino da proteína brasileira, atrás apenas da China.
A abertura foi alinhada durante a missão oficial liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e reforça a disputa com fornecedores norte-americanos que hoje dominam esse nicho.
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O que muda com a abertura ao México
A autorização mexicana alcança a chamada reciclagem animal, etapa da cadeia que transforma ossos e outras partes não comestíveis de bovinos, suínos e aves em ingredientes proteicos.
Essas farinhas entram em formulações de rações e alimentos para animais, com regra de oferta “cruzada” (farinha bovina pode compor dieta de suínos, e vice-versa), prática comum na indústria.
“O mercado mexicano de produtos de reciclagem animal é de US$ 1 bilhão… o Brasil agora começa a disputar esse mercado”, disse o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana.
A missão também pavimentou a atualização de acordos setoriais entre Brasil e México, cuja nova assinatura foi agendada para agosto de 2026, medida vista por Brasília como um passo para dar previsibilidade às trocas em agro, saúde e biocombustíveis.
Disputa com os EUA em rações e pet food
A entrada do Brasil ocorre em um mercado de pet food robusto no México, onde a base de consumo sustenta investimento de fabricantes de ração e de ingredientes.
Hoje, os Estados Unidos são os principais fornecedores de farinhas para grandes destinos, inclusive a China, que em 2024 comprou 407 mil toneladas dos fabricantes norte-americanos — um sinal do espaço que o Brasil busca ocupar também no México.
Produção brasileira e espaço para crescer
Segundo dados setoriais citados pelo governo, o país produziu 3,7 milhões de toneladas de farinhas de origem animal em 2024, exportando 9% desse total, o equivalente a US$ 211 milhões.
A leitura em Brasília é que a abertura de novos compradores permite valorizar coprodutos do abate e elevar o aproveitamento industrial.
“Quando você acha um mercado remunerador, deixa de ser subproduto para ser co-produto”, afirmou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
China abriu caminho em julho
A expansão internacional do segmento ganhou tração em 30 de julho de 2025, quando a China habilitou, de acordo com o Mapa, 46 estabelecimentos brasileiros para exportar farinhas de aves e suínos.
Outros quatro de farinha de pescado também foram autorizados.
Em paralelo, a ApexBrasil registrou 51 plantas habilitadas quando inclui proteínas processadas e óleo de pescado na conta — diferença de escopo que explica a variação entre os números oficiais.
Em ambos os casos, o efeito é o mesmo: mais portas abertas para a indústria brasileira de ingredientes.
Rastreabilidade: exigência mexicana e cronograma brasileiro
O México exige rastreabilidade bovina para assegurar continuidade das compras.
O Brasil apresentou o Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB), cujo cronograma 2025–2032 prevê etapas de implementação e o início de fases obrigatórias a partir de 2027, até a plena operacionalização no fim de 2032.
“Não vai ser da noite para o dia, são 230 milhões de cabeças a identificar”, disse Fávaro.
A diretriz do PNIB é que, ao longo das fases, a identificação individual se torne condição para movimentação e atenda às exigências dos mercados importadores.
Regionalização sanitária e fluxo comercial
Para reduzir impactos de influenza aviária sobre as vendas, o governo mexicano se comprometeu com a regionalização: diante de um foco, o país avaliará em até 10 dias o protocolo para restringir exportações apenas à área afetada, evitando bloqueios nacionais.
A medida, alinhada durante a missão, é vista pelo setor como proteção ao fluxo de produtos de aves.
No mesmo pacote de entendimentos, o Brasil autorizou a importação de derivados de atum, pêssegos e aspargos mexicanos.
Acordos setoriais, PACIC e ambiente de negócios
No campo tarifário, segue em vigor até 31 de dezembro de 2025 o Paquete Contra la Inflación y la Carestía (PACIC), programa mexicano que zera tarifas de importação para itens da cesta básica e tem ajudado a preservar a competitividade dos alimentos brasileiros no mercado local.
A equipe brasileira também relata a continuidade de discussões para modernizar acordos de complementação econômica, sem perspectiva de um livre-comércio amplo no curto prazo, já que isso demandaria aval do Mercosul.
Habilitações, auditorias e disputa por espaço
O Ministério da Agricultura informou que 14 plantas brasileiras de bovinos, suínos e aves serão auditadas por autoridades mexicanas nos próximos meses, etapa necessária para ampliar o número de estabelecimentos aptos a vender ao país.
O processo inclui critérios técnicos de equivalência sanitária e, superadas as inspeções, permite que negócios avancem por meio de habilitações individuais.
O governo também divulgou o balanço de 415 novas aberturas de mercado para produtos agropecuários desde 2023, com o México como líder em habilitações no período e principal origem do incremento de receita observado nas aberturas.
Carne bovina: México ganha protagonismo
O impulso recente nas relações comerciais aparece também na proteína in natura.
Em agosto de 2025, o México superou os Estados Unidos e se tornou o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil, segundo a Abiec.
O cenário foi acelerado por mudanças tarifárias aplicadas pelo mercado norte-americano e por uma agenda de habilitações mexicanas.
Para o Itamaraty e o Mapa, consolidar esse patamar passa por cumprir rastreabilidade e ampliar capacidade habilitada das plantas brasileiras.
Por fim, a abertura do mercado mexicano de farinhas animais coloca o Brasil em um tabuleiro de alto valor e competição acirrada, com efeitos diretos sobre rações, pet food e o aproveitamento industrial de coprodutos.
A indústria nacional terá fôlego para ganhar participação em um mercado dominado por fornecedores dos EUA?