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Brasil desperdiça bilhões em energia solar e eólica por falhas de transmissão, falta de armazenamento e cortes técnicos que jogam energia limpa literalmente no lixo

Publicado em 17/10/2025 às 15:00
O Brasil perde bilhões com energia solar e eólica por falhas de transmissão de energia, falta de armazenamento de energia, cortes de geração e ausência de baterias em larga escala.
O Brasil perde bilhões com energia solar e eólica por falhas de transmissão de energia, falta de armazenamento de energia, cortes de geração e ausência de baterias em larga escala.
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O Brasil perde valor com energia solar e eólica por limitações de transmissão, ausência de armazenamento e cortes técnicos de segurança, enquanto o sistema convive com sobreoferta em horários críticos, usinas centralizadas interrompidas e um debate urgente sobre expansão da rede, baterias e uso produtivo do excedente

A energia solar e eólica avançou rápido e colocou à prova a infraestrutura elétrica do país. Quando o vento e o sol entregam muito ao mesmo tempo, a rede não escoa tudo, e parte da geração é cortada por decisão técnica para preservar a segurança do sistema. Na prática, energia limpa é literalmente descartada, sem chegar ao consumo.

Conforme reportagem da E4, os cortes de geração, conhecidos como curtailment, cresceram com a entrada de novos parques e o aumento da variabilidade na operação. Em 2025, o setor relata perdas bilionárias e decisões de investimento sendo reavaliadas. O efeito imediato é deteriorar a confiança de quem financia usinas e pressiona por respostas coordenadas em transmissão, armazenamento e gestão de demanda.

O que é o curtailment e por que acontece

Curtailment é o corte obrigatório de geração decidido pela operação do sistema. Ele ocorre por três razões principais. A primeira é indisponibilidade externa: falta de linhas, transformadores ou equipamentos de subestações impede o escoamento. A segunda é confiabilidade: mesmo com capacidade aparente, a operação reduz a injeção para não sobrecarregar ativos críticos. A terceira é energética: há sobreoferta no instante, com mais energia entrando na rede do que a carga consegue consumir naquele momento.

Em resumo, não é um problema da usina isolada, mas do conjunto rede mais demanda. Quanto mais concentrada geograficamente a geração variável, maior o risco de excesso simultâneo. E quando a infraestrutura não acompanha o ritmo de conexão, o desligamento passa a ser a única válvula de escape.

Os cortes afetam sobretudo as usinas centralizadas de grande porte, despachadas e monitoradas pelo operador do sistema. Projetos eólicos e solares veem sua receita cair justamente nas horas em que deveriam capturar melhor preço, o que altera projeções e alonga payback.

O impacto não é apenas financeiro. Cada corte adia metas de descarbonização, reduz previsibilidade e pode paralisar novos leilões e expansões. Na outra ponta, o consumidor perde a oportunidade de preços mais baixos quando haveria abundância de geração limpa.

Por que a rede não escoa o que é gerado

A malha de transmissão foi planejada para perfis históricos de geração. A nova fronteira de vento e sol se expandiu mais rápido do que o reforço de linhas, criando gargalos entre polos de geração e centros de carga. Além disso, a variabilidade exige folgas operativas que, em certos momentos, forçam o operador a limitar injeções para manter margens de segurança.

Sem armazenamento em escala e com carga menos flexível, o sistema fica rígido. Quando o vento sopra forte e o sol está alto, mas a demanda está baixa, a consequência é o corte técnico de usinas renováveis.

Não há bala de prata. O caminho combina frentes complementares. Primeiro, acelerar e modernizar a transmissão, conectando polos de geração às regiões de consumo com folgas operativas adequadas. Segundo, destravar o armazenamento com baterias em larga escala, capazes de guardar excedentes e devolver energia nas horas de pico.

Terceiro, ativar resposta da demanda: indústrias e grandes consumidores podem deslocar processos para janelas de abundância solar e eólica. Quarto, estimular usos produtivos do excedente, como data centers e outras cargas intensivas em regiões de alta geração. Cada ponto reduz a frequência e a severidade dos cortes.

E a geração distribuída no telhado

Pelo desenho atual, a micro e a minigeração distribuída não sofrem curtailment. O foco das reduções recai nas usinas centralizadas e em ativos maiores conectados à distribuição fora do sistema de compensação. Para quem tem painel no telhado, o risco é hoje considerado improvável, mas o debate técnico sobre flexibilidade e armazenamento também interessa a esse público no médio prazo.

A discussão que importa é como transformar a abundância em benefício local. Baterias residenciais e comerciais, somadas a tarifas horárias bem desenhadas, podem elevar o autoconsumo em horas de excesso e aliviar o sistema.

Quanto mais recorrentes os cortes, maior o risco de projetos travarem, sobretudo em fases finais de financiamento. Ao mesmo tempo, há uma janela para reposicionar a política setorial: linhas entregues no prazo, sinal econômico para armazenamento e regras claras de resposta da demanda. A energia solar e eólica já mostrou escala e custo competitivo. Falta capturar esse valor todos os dias, em todas as horas.

Se a coordenação funcionar, o país reduz perdas, estabiliza receitas e acelera metas climáticas. Se não, seguirá descartando energia limpa e encarecendo o risco Brasil no segmento renovável.

O que acompanhar daqui em diante

Vale monitorar três vetores. Obras de transmissão em corredores críticos e prazos de entrada em operação. Modelos de remuneração para baterias, permitindo receita por serviços de rede e arbitragem de energia. Programas de resposta da demanda para grandes consumidores, com sinal de preço por horário que incentive deslocamento de carga.

A energia solar e eólica seguirá crescendo. A diferença entre desperdício e valor está na capacidade do sistema de absorver a variabilidade com rede, armazenamento e flexibilidade do lado do consumo.

O Brasil precisa converter picos de geração em valor. Com transmissão reforçada, baterias e demanda flexível, a energia solar e eólica deixa de ser cortada e passa a baratear a conta, reduzir emissões e sustentar novos investimentos.

Você trabalha no setor elétrico, em usina, indústria ou distribuidora? Na sua região, os cortes atingem quais horários e qual foi o impacto real em receita ou operação? Conte nos comentários cidade, perfil de carga ou geração e que medida prática teria maior efeito imediato no seu caso.

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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