Projeto inédito ligará Porto Alegre a Gramado por trem rápido, conectando 19 cidades em um trajeto de apenas uma hora, com investimento bilionário privado e expectativa de gerar mais de 22 mil empregos diretos e indiretos.
O governo do Rio Grande do Sul autorizou neste mês de agosto a implantação, operação e exploração privada de uma ferrovia de passageiros entre Porto Alegre e Gramado.
Trata-se de uma autorização estadual inédita no país para transporte de passageiros, com investimento estimado em R$ 4,5 bilhões pela SulTrens, viagem prevista de 1 hora e outorga de 99 anos.
A projeção oficial indica a criação de 22.723 empregos diretos e indiretos ao longo da implantação e da operação, e a meta é iniciar a operação em até sete anos.
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Detalhes do anúncio e traçado da ferrovia
Segundo o anúncio feito no Palácio Piratini, o traçado ligará a capital à Serra em linha direta, com duas vias férreas, uma por sentido.
O projeto foi apresentado como um novo eixo de mobilidade e turismo, reunindo intervenções civis e soluções tecnológicas para acelerar a viagem e reduzir conflitos com o tráfego rodoviário.
Na cerimônia, participaram o governador Eduardo Leite, o secretário de Logística e Transportes, Juvir Costella, e representantes da SulTrens.
Em sua fala, Leite afirmou que a iniciativa é resultado de um ambiente mais favorável ao investimento privado no Estado.
“Esse investimento privado só se viabiliza porque o Rio Grande do Sul virou a chave. Hoje, temos um Estado com estabilidade fiscal, capacidade de investimento público e segurança jurídica para atrair o empreendedorismo”, disse.
Em seguida, reforçou o caráter econômico do projeto ao mencionar que reformas recentes criaram condições para aportes de grande porte na infraestrutura.
Além do ganho de tempo entre Porto Alegre e Gramado, o empreendimento foi apresentado como uma alternativa ao transporte rodoviário em uma das rotas turísticas mais movimentadas do país.
De acordo com o governo, a ferrovia será híbrida, com composição capaz de operar a eletricidade e diesel, o que, segundo a proposta, contribuirá para reduzir emissões de CO₂ e acidentes nas estradas.
A previsão é que o modal incremente arrecadação de ICMS e tributos municipais, com efeito de arrasto sobre o turismo e os serviços ao longo do corredor.
Investimento e fiscalização do projeto
A SulTrens assumirá a integralidade do investimento e deverá cumprir cronograma de execução pactuado com o Estado.
A outorga fixa o prazo de 99 anos para exploração e impõe rotinas de acompanhamento.
A Secretaria de Logística e Transportes será responsável pela fiscalização do contrato e pelo recebimento de relatórios trimestrais com o avanço das etapas, sob amparo de pareceres da Procuradoria-Geral do Estado.
Segundo o secretário Juvir Costella, trata-se de um projeto “robusto, moderno e com grande impacto positivo para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul”, com parâmetros alinhados a boas práticas internacionais.
O traçado prevê travessias, obras de arte e túneis para garantir velocidade e segurança.
Estão programados 27 cruzamentos rodoferroviários, 15 pontes e viadutos — entre eles uma estrutura sobre a FreeWay (BR-290) — e nove túneis.
As estações terminais ficarão a cerca de 700 metros do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e na avenida das Hortênsias, entre Gramado e Canela, para facilitar a integração com o transporte aéreo e com polos de hospedagem.
Cidades atendidas e impacto no turismo
O atendimento direto alcançará 19 municípios, com 22 cidades na área de influência.
A linha conectará Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Gravataí, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Campo Bom, Dois Irmãos, Sapiranga, Araricá, Parobé, Taquara, Morro Reuter, Nova Hartz, Igrejinha, Picada Café, Santa Maria do Herval, Três Coroas, Gramado e Canela.
A expectativa oficial é de redistribuição de fluxos e de novos polos de turismo e serviços ao longo da ferrovia.
Responsável pela iniciativa, a SulTrens indicou que o objetivo é oferecer uma experiência de viagem confortável e previsível, com padrão compatível às demandas do turismo da Serra.
O administrador Renato Ely destacou que a implantação abre “uma nova era para os transportes” na região, ao integrar deslocamento rápido, conforto e um conjunto de atividades turísticas que se conectam às estações.
O governo estadual sustenta que a autorização resulta de aproximadamente um ano de análises técnicas e jurídicas, que buscaram atestar a viabilidade do empreendimento e definir mecanismos de governança para a execução.
Ainda conforme o Executivo, a modelagem por autorização à iniciativa privada cria referência nacional para outros projetos ferroviários de passageiros sob competência estadual, sem aporte direto do Tesouro.
Obras viárias complementares
Enquanto avançava a agenda ferroviária, o Estado também formalizou obras em rodovias para melhorar acessos municipais.
Na mesma data, foi assinada a ordem de início para dois acessos asfálticos: um em Quevedos, pela ERS-524, em trecho de 28 quilômetros até Toropi, com R$ 45 milhões de investimento; e outro em São José das Missões, com 2,65 quilômetros de ligação à BR-386, no valor de R$ 10,1 milhões.
A previsão de entrega dos dois acessos é 2026. Segundo o governo, desde 2019 foram concluídos 26 acessos com recursos próprios, e outros contratos seguem em execução ou em fase de início.