Área submersa equivalente à Espanha guarda minerais estratégicos e está no centro de uma disputa internacional liderada pelo Brasil, que busca ampliar sua presença no cenário global da transição energética e tecnológica.
O Brasil intensificou sua reivindicação junto à Organização das Nações Unidas pelo controle de uma vasta área submersa no Atlântico Sul, conhecida como Elevação do Rio Grande.
Com extensão semelhante à da Espanha, cerca de 500 mil quilômetros quadrados, a região concentra minerais estratégicos para a transição energética e a indústria tecnológica global, especialmente as chamadas terras raras.
Segundo reportagem publicada pelo g1, a iniciativa brasileira pode representar um passo importante para diversificar a oferta mundial desses elementos, hoje dominada pela China.
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Elevação do Rio Grande e minerais estratégicos
Localizada a aproximadamente 1,2 mil quilômetros da costa do Rio Grande do Sul e a cerca de 5 mil metros de profundidade, a Elevação do Rio Grande atrai atenção não só pelo seu tamanho, mas principalmente pelo seu potencial mineral.
De acordo com pesquisadores da Universidade de São Paulo, citados pelo g1, amostras do solo coletadas na região mostram forte semelhança com o solo do interior paulista antes do afundamento, indicando possível conexão geológica com o território continental brasileiro.
Terras raras no Atlântico Sul: potencial para o futuro
Os chamados minerais do futuro, como basalto e camadas de argila vermelha, somam-se a uma concentração expressiva de terras raras – um grupo de 17 elementos químicos fundamentais para tecnologias de ponta.
Entre esses elementos estão:
- Lantânio
- Cério
- Neodímio
- Disprósio
- Praseodímio
- Promécio
- Samário
- Európio
- Gadolínio
- Térbio
- Hólmio
- Érbio
- Escândio
- Túlio
- Itérbio
- Lutécio
- Ítrio
Todos são essenciais para a produção de equipamentos eletrônicos, energia limpa e armamentos modernos.
Conforme apuração do g1, esses minerais não podem ser produzidos artificialmente e se destacam pela capacidade de absorver e emitir luz, suportar altas temperaturas e apresentar propriedades magnéticas.
A demanda global por terras raras segue em constante crescimento.
Esses elementos são indispensáveis na fabricação de televisores, celulares, lâmpadas LED, equipamentos médicos como tomógrafos, motores elétricos e sistemas de defesa, incluindo mísseis teleguiados.
O jornal também apontou que, em função dessa relevância, o controle sobre novas reservas pode alterar a dinâmica internacional do setor, atualmente centralizada na China, responsável por cerca de 70% da produção mundial.
Reservas brasileiras e desafio da agregação de valor
Apesar de possuir a segunda maior reserva mundial de terras raras, segundo dados apresentados pelo Ministério de Minas e Energia ao g1, o Brasil ainda exporta grande parte desses minerais em estado bruto, sem agregar valor.
O potencial da Elevação do Rio Grande reacende o debate sobre a necessidade de investimentos em tecnologia e cadeia produtiva nacional para evitar a exportação primária e ampliar a competitividade brasileira.
Disputa internacional e critérios legais
A disputa pelo território submerso ocorre com base na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
O governo brasileiro apresentou, em fevereiro de 2025, um pedido oficial à Comissão de Limites da Plataforma Continental para integrar a Margem Oriental-Meridional, onde se encontra a Elevação do Rio Grande, à plataforma continental do país.
O documento, elaborado pela Marinha do Brasil, detalha os argumentos geológicos e jurídicos que sustentam a reivindicação.
Ainda segundo informações do g1, além da Elevação do Rio Grande, o Brasil disputa outras duas áreas em águas internacionais: a Região Sul e a Margem Equatorial, totalizando cerca de 1,5 milhão de quilômetros quadrados fora da atual Zona Econômica Exclusiva.
A Zona Econômica Exclusiva brasileira, estabelecida desde 1982, se estende por 370 quilômetros a partir do litoral.
O que ultrapassa essa faixa é considerado patrimônio da humanidade, não podendo ser explorado exclusivamente por um único país, a menos que haja reconhecimento internacional.
Por isso, o pedido brasileiro encontra-se em análise e ainda não há prazo definido para decisão da Organização das Nações Unidas.
História geológica e pesquisas científicas
Pesquisas científicas recentes, destacadas pelo g1, revelam que a Elevação do Rio Grande já foi uma ilha, recoberta por florestas e rodeada por recifes em clima tropical, antes de ser submersa por fenômenos geológicos e erupções vulcânicas.
Expedições realizadas pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo em 2018 confirmaram a existência de camadas de basalto e argila vermelha, além de registros de recifes e vestígios de fauna e flora antigas.
O estudo também envolveu a utilização de submarinos não tripulados, capazes de registrar imagens das profundezas e coletar amostras na chamada Grande Fenda, um cânion submerso com picos que superam quatro mil metros de altura.
Segundo o pesquisador Luigi Jovane, ouvido pelo g1, os indícios encontrados reforçam a hipótese de que a área esteve ligada ao continente até períodos relativamente recentes em termos geológicos.
Atualmente, equipes de diferentes universidades brasileiras – incluindo Universidade de São Paulo, Mackenzie, Universidade de Brasília, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade do Vale do Rio dos Sinos e Universidade Federal do Espírito Santo – concentram esforços no estudo dos aspectos ambientais, biológicos e legais relacionados à Elevação do Rio Grande.
Desafios ambientais e implicações globais
Um dos pontos centrais do debate, conforme ressaltado pelo g1, é o equilíbrio entre o potencial econômico da mineração submarina e a necessidade de proteger o patrimônio ambiental do Atlântico Sul.
Especialistas destacam a importância de aprofundar a análise sobre os impactos ambientais de eventuais explorações, especialmente diante da fragilidade dos ecossistemas marinhos de grandes profundidades e do desafio de conciliar desenvolvimento tecnológico com conservação da biodiversidade.
No cenário internacional, a possibilidade de o Brasil ampliar sua participação na cadeia global de terras raras pode trazer impactos significativos, especialmente no contexto de transição energética e segurança de suprimentos tecnológicos.
Países de todo o mundo buscam alternativas para reduzir a dependência das exportações chinesas e fortalecer cadeias produtivas nacionais em setores estratégicos.
Diante de um potencial tão vasto, a questão que fica é: o Brasil conseguirá transformar essa riqueza mineral em vantagem competitiva para a indústria nacional, ou seguirá apenas como exportador de matérias-primas estratégicas para o mundo?
Excelente matéria, aprabéns