Brasil deve surpreender o mundo com ritmo de crescimento acima das maiores economias desenvolvidas, segundo o FMI, em meio a juros altos, desafios fiscais e otimismo com a recuperação global.
O Brasil deverá ter alta de 2,4% no PIB em 2025, desempenho que o coloca entre os cinco maiores crescimentos do G20 no próximo ano, de acordo com a edição mais recente do World Economic Outlook do Fundo Monetário Internacional.
A projeção supera a dos Estados Unidos (2,0%), do Reino Unido (1,3%) e do Japão (1,1%), em um cenário de expansão global estimada em 3,2%. No ano anterior, a economia brasileira avançou 3,4%.
Brasil sobe no ranking do G20
A leitura do FMI mostra o país à frente de economias maduras e com ritmo compatível ao de emergentes relevantes.
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O quadro é liderado por Índia (6,6%) e China (4,8%), seguidas por Arábia Saudita (4,0%) e Turquia (3,5%).
Nesse grupo, o Brasil aparece com 2,4%, acima ainda da média da zona do euro (1,2%). Na avaliação do Fundo, o impulso virá de fatores domésticos e externos.
Condições financeiras internacionais mais benignas e alguma recomposição do investimento ajudam, enquanto tarifas e incertezas comerciais ainda impõem riscos.
Em paralelo, a América Latina sustenta projeção próxima a 2,4% em 2025, com Brasil e México entre os responsáveis por melhora recente nas estimativas regionais.
O que explica a revisão para cima
A projeção para o Brasil foi elevada de 2,0% para 2,4% em relação ao primeiro semestre.
Segundo economistas, o ajuste reflete um primeiro semestre mais forte, com atividade acima do esperado, e revisões metodológicas do próprio FMI.
Ainda assim, o Fundo e casas privadas preveem perda de fôlego na segunda metade do ano, efeito típico de política monetária mais restritiva e desaceleração global.
Para Rodolpho Sartori, economista da Austin Rating, a dúvida central é a intensidade desse esfriamento.
“A questão é quão forte será a desaceleração neste semestre, considerando uma taxa de juros que deve se manter em 15%”, afirmou.
A observação dialoga com o ambiente atual: a Selic em 15% mantém as condições financeiras apertadas, o que ajuda a conter a inflação, mas adia decisões de consumo e investimento.
Política fiscal e confiança dos agentes
Enquanto a política monetária segue restritiva, o quadro fiscal continua no radar.
A derrubada da medida provisória que previa taxação de aplicações financeiras aumentou a incerteza sobre as fontes de receita.
Na leitura de Sartori, a necessidade de medidas compensatórias pode influenciar a confiança do mercado e, consequentemente, o custo de financiamento do setor público e privado.
O Ministério da Fazenda, por sua vez, trabalha com expansão de 2,3% para 2025, alinhada ao intervalo previsto por organismos internacionais.
No mercado, o Boletim Focus mais recente indica 2,16% para o PIB de 2025, sinalizando cautela em meio ao juro elevado e a sinais de moderação do consumo.
Ainda que o consenso esteja abaixo da projeção do FMI, a mediana suaviza oscilações semanais e incorpora as avaliações de bancos e consultorias sobre inflação, câmbio e crédito.
Posição relativa diante das grandes economias
A comparação internacional ajuda a dimensionar o resultado.
Entre os desenvolvidos, o FMI projeta 2,0% para os Estados Unidos, com atividade sustentada por investimento e mercado de trabalho resiliente.
O Reino Unido deve crescer 1,3%, apoiado por alívio gradual da inflação, e o Japão, 1,1%, com impulso de salários reais.
Canadá aparece com 1,2%.
Na zona do euro, a média é de 1,2%, com Espanha se destacando em 2,9% e Alemanha em 0,2%, refletindo reveses industriais e ajustes fiscais.
Esse cruzamento indica que o Brasil combina crescimento acima dos pares avançados com inflação ainda acima da meta no curto prazo.
O saldo é um quadro misto: a atividade resiste, mas exige política monetária mais firme para ancorar expectativas.
Motores domésticos e gargalos estruturais
No front interno, a expansão recente foi amparada por mercado de trabalho aquecido, crédito ainda em expansão e investimento público em setores de infraestrutura e transição energética.
Porém, gargalos estruturais seguem limitando o avanço do PIB potencial.
O FMI destaca a importância de reformas microeconômicas, como melhoria do ambiente de negócios, segurança jurídica e avanço regulatório em concessões e PPPs, para sustentar taxas de crescimento próximas a 2,5% no médio prazo.
A consolidação das reformas tributária e administrativa também é citada por analistas como peça-chave para destravar investimentos e reduzir o custo Brasil.
Sem progressos consistentes nessas frentes, a economia tende a alternar anos mais fortes com períodos de desaceleração, mantendo o crescimento médio em patamares próximos de 2%.
Juros, inflação e o dilema de 2025
Com a Selic em 15%, o Banco Central indica que a estratégia é garantir a convergência da inflação à meta de 3%, ainda que ao custo de um arrefecimento maior da atividade.
A calibragem do ciclo dependerá do comportamento do IPCA, das expectativas e da dinâmica do câmbio.
Se os preços desacelerarem de forma duradoura e a inércia ceder, haverá espaço para reduzir o juro ao longo de 2026.
Caso contrário, o aperto pode se prolongar.
Para 2025, o cenário-base das instituições multilaterais pressupõe desinflação gradual e crescimento moderado.
O balanço de riscos, porém, permanece assimétrico: tarifas e tensões comerciais entre grandes economias, choques de commodities e incertezas fiscais domésticas podem alterar a trajetória projetada.
Projeções privadas e sinalização do FMI
Apesar das dúvidas, a leitura geral do FMI é considerada otimista por parte do mercado.
A Austin Rating trabalha com 1,8% para 2025, com viés de alta após as revisões do Fundo.
A diferença entre as estimativas reflete metodologias distintas e o peso dos riscos locais nos modelos das casas privadas, mais sensíveis a notícias fiscais e à evolução do crédito.
Em comum, prevalece a avaliação de que o Brasil cresce acima dos pares desenvolvidos, mas abaixo das principais economias asiáticas.
Por fim, a disputa entre cenário externo e condicionantes domésticos define o quão próximo o país ficará da estimativa de 2,4% do FMI.
Se a política fiscal ganhar previsibilidade, a inflação arrefecer e o investimento privado avançar, a projeção do Fundo tende a se materializar.
Caso contrário, prevalecerá o ritmo mais contido indicado pelo Focus e por consultorias independentes.
Diante desse quadro, qual fator você considera mais determinante para o Brasil alcançar — ou superar — os 2,4% estimados para 2025: a confiança fiscal, a queda sustentada da inflação ou a melhora do ambiente internacional?