O Brasil cresce menos que países emergentes da Ásia e até vizinhos da América do Sul. Especialistas apontam fatores históricos e estruturais que explicam a dificuldade nacional em sustentar o avanço econômico nas últimas quatro décadas.
O Brasil perdeu fôlego nas últimas quatro décadas e, desde 2000, cresce em média 2,4% ao ano, ritmo inferior ao de China (8,2%), Índia (6,3%) e até de vizinhos como Peru (4,1%), Colômbia (3,6%) e Chile (3,4%).
Segundo levantamento da CNN Brasil, a combinação de crises fiscais recorrentes, baixa poupança, produtividade estagnada, atraso educacional, investimento insuficiente em tecnologia, indexação que alimenta juros altos e instabilidade política ajuda a explicar por que o país alterna períodos de crescimento curto com novas desacelerações, sem sustentar ciclos longos de expansão.
Ainda que não exista solução única, há consenso de que o país precisa de mudanças estruturais para retomar um crescimento sólido e duradouro.
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O equilíbrio das contas públicas surge como ponto de partida para reduzir riscos, baixar o custo do crédito e destravar o investimento privado.
Crescimento do Brasil em comparação internacional
O desempenho brasileiro ficou próximo da média da América Latina e Caribe, mas distante dos emergentes que avançaram mais rápido.
Em vários momentos, a economia acelerou por alguns anos e, em seguida, perdeu tração.
De acordo com a CNN Brasil, a fragilidade fiscal e a baixa produtividade criaram um teto para o avanço do PIB.
Os 7 entraves que travam o PIB brasileiro
1) Desequilíbrio fiscal e gasto obrigatório elevado
As contas públicas carregam pressões de despesas obrigatórias e choques repetidos de endividamento.
Para Sílvia Mattos, do FGV IBRE, “o problema do Brasil é que as crises fiscais são recorrentes”.
Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, afirma que reformas — administrativa, tributária e previdenciária, além de ajustes constitucionais — são necessárias para conter a rigidez do gasto e reduzir a recorrência de desequilíbrios.
2) Poupança interna baixa e juros altos
O acúmulo de déficits reduziu a poupança doméstica, fonte essencial do investimento produtivo.
Quando o risco fiscal aumenta, o juro sobe, o crédito encarece e o investimento esfria.
Marcos Lisboa observa que “nos poucos momentos em que a questão fiscal foi enfrentada, as taxas de juros caíram”.
Alexandre Schwartsman acrescenta que o setor público gasta mais do que pares emergentes, o que pressiona a poupança e limita a capacidade de crescer.
3) Produtividade estagnada e indústria de baixo valor
A economia concentrou esforços na “velha montagem”, com cadeias de baixo valor agregado e pouca inovação.
Lisboa critica a visão restrita de indústria: segundo ele, o debate público foi capturado por lobbies que associaram produção industrial apenas a montagem de carros e eletrodomésticos, enquanto computação, IA e inovação em outros setores ficaram em segundo plano.
Países que avançaram — como Coreia do Sul, Taiwan, Singapura e China — apostaram em tecnologia, capital humano e ganho de eficiência.
4) Atraso educacional e aprendizado fraco
A qualificação da mão de obra continua sendo gargalo.
O Brasil investe uma parcela relevante do PIB em educação, mas obtém resultados inferiores em avaliações como o Pisa.
Para Armínio Fraga, é preciso tornar a carreira do professor atrativa, trazendo para o magistério quem esteve entre os melhores alunos.
A crítica se estende ao foco do debate: priorizam-se verbas e pouco se discute aprendizado, alfabetização na idade certa e práticas pedagógicas que elevem o desempenho.
5) Falta de investimento em tecnologia e inovação
Enquanto outros países montaram polos tecnológicos e cadeias de alta complexidade — de semicondutores a produtos médicos e telecomunicações —, o Brasil não consolidou uma estratégia de longo prazo que conecte universidades, empresas e governo.
Faltou continuidade em políticas de P&D, marcos regulatórios previsíveis e instrumentos de financiamento que escalem projetos inovadores.
O resultado é um hiato tecnológico que limita a sofisticação das exportações e a produtividade.
6) Indexação, inflação resistente e custo do crédito
A indexação generalizada de preços e contratos dificulta a desinflação e mantém o juro real elevado.
Meirelles defende que política monetária, metas de inflação e política fiscal precisam caminhar na mesma direção.
Quando as expectativas se desancoram e o gasto público avança sem compensações, o Banco Central tende a manter juros altos por mais tempo, encarecendo o capital e travando investimentos de maior prazo.
7) Instabilidade política e choques externos
A redemocratização foi acompanhada por episódios de crise política, impasses entre Executivo e Legislativo e dois impeachments, o que elevou incertezas.
Além das turbulências domésticas, choques externos e tensões no comércio global afetaram termos de troca, cadeias de suprimentos e confiança.
Conforme destacou a CNN Brasil, Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper, lembra que o país opera “em déficit público crônico desde 2014”, o que amplia as amarras ao crescimento ao exigir mais recursos para fechar as contas e manter juros altos.
Industrialização, milagre econômico e herança fiscal
Entre as décadas de 1930 e 1980, o Brasil adotou a substituição de importações, que expandiu o parque industrial.
O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek completou elos estratégicos e impulsionou a economia.
Em seguida, veio o milagre econômico (1968–1973), com expansão acima de 10% ao ano.
Na contramão, o ciclo foi financiado com endividamento e em ambiente internacional adverso, marcado por choques do petróleo e alta de juros americanos.
O país ingressou nos anos 1980 com dívida externa elevada e inflação em aceleração.
A década ficou conhecida como perdida, com estagnação, corrosão de renda e a necessidade, mais adiante, de uma longa luta contra a quase hiperinflação.
“A forma como o Brasil procurou crescer nos anos 1970 foi baseada em endividamento forçado num período difícil para o mundo”, resume Márcio Holland, da FGV.
O que pode destravar o futuro econômico
Para reverter a trajetória, especialistas convergem em três frentes: consolidação fiscal para reduzir o prêmio de risco e o custo do crédito; agenda de produtividade com ênfase em educação básica, formação técnica e difusão tecnológica; e abertura ao exterior com foco em competitividade.
Na avaliação de Armínio Fraga, o Brasil precisa conectar-se ao mundo, derrubar barreiras além de tarifas e perseguir acordos que ampliem mercados.
Sem previsibilidade regulatória, governança de projetos e qualidade do gasto, reformas perdem tração.
O país já mostrou capacidade de crescer; o desafio é sustentar ganhos por mais de um ciclo e reduzir a distância para economias que avançaram mais rápido nas últimas décadas.
Na sua opinião, qual deveria ser a prioridade do Brasil para voltar a crescer de forma consistente?