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Brasil bate recorde e usa mais energia renovável do que fóssil pela 1ª vez desde 1988

Escrito por Ana Alice
Publicado em 28/04/2025 às 17:53
Pela 1ª vez desde 1988, fontes renováveis superam fósseis na matriz energética do Brasil, marcando avanço inédito rumo à energia limpa.(Imagem: Reprodução/Canva)
Pela 1ª vez desde 1988, fontes renováveis superam fósseis na matriz energética do Brasil, marcando avanço inédito rumo à energia limpa.(Imagem: Reprodução/Canva)
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Em meio à crise climática e pressões internacionais por sustentabilidade, o Brasil atinge um marco inédito ao reformular sua matriz energética, colocando fontes renováveis à frente das fósseis e sinalizando um novo rumo para a economia verde no país.

Pela primeira vez em 35 anos, a matriz energética brasileira foi composta majoritariamente por fontes renováveis, alcançando 51% de participação em 2023.

O dado histórico marca um avanço significativo na transição energética do país e demonstra o potencial do Brasil em liderar o uso de fontes limpas no cenário global.

Segundo o Balanço Energético Nacional, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), essa mudança ocorreu em meio a um crescimento de 5% no consumo geral de energia em relação a 2022, mas com aumento de apenas 1% nas emissões do setor.

A intensidade de carbono caiu 3% em relação ao ano anterior, evidenciando uma matriz mais limpa, eficiente e menos poluente.

Energia limpa ganha protagonismo no Brasil

O crescimento das energias eólica, solar e de biomassa foi o motor dessa transformação.

O uso da energia solar para geração elétrica cresceu 68% entre 2022 e 2023, enquanto a produção eólica aumentou 17% no mesmo período.

Essa expansão foi favorecida por um regime hídrico positivo, que permitiu maior geração pelas hidrelétricas e reduziu a necessidade de acionar termelétricas fósseis, que têm maior impacto ambiental.

A pesquisadora do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Ingrid Graces, destacou que a combinação entre sol, vento e água garantiu uma geração limpa e estável ao longo do ano.

Além das novas fontes renováveis, o Brasil manteve o uso expressivo de suas fontes históricas, como a hidroeletricidade e o etanol de cana-de-açúcar, que seguem fundamentais na composição da matriz.

Menos poluição e mais eficiência energética

Em 2023, o setor energético brasileiro emitiu 420,1 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), resultado do consumo de 290,8 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep).

Essa relação corresponde a uma intensidade de carbono de 1,4 toneladas de CO2 por tep, um número que reflete queda contínua desde anos anteriores e reforça o ganho de eficiência.

De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), essa queda indica que o país está no caminho certo para cumprir metas climáticas e reduzir sua pegada de carbono no setor de energia.

Indústria e transportes também adotam renováveis

A indústria brasileira registrou, em 2023, o maior consumo histórico de fontes renováveis, especialmente nos setores de alimentos e bebidas, e papel e celulose.

Esse comportamento mostra que o uso sustentável da energia não está restrito à geração elétrica, mas se estende também ao setor produtivo.

Nos transportes, o setor que mais consome combustíveis fósseis no Brasil, o etanol e outras fontes limpas já representam parcela significativa do abastecimento, ajudando a reduzir a dependência da gasolina e do diesel.

Segundo o relatório Futuro da Energia, publicado pelo Observatório do Clima em colaboração com o IEMA, o Brasil pode reduzir em até 70% as emissões de seu setor energético até 2050, desde que mantenha o investimento em fontes limpas e em políticas públicas eficazes.

Desafios da transição energética justa

Apesar dos avanços, especialistas alertam para riscos e retrocessos que podem comprometer a transição energética justa no Brasil.

Felipe Barcellos e Silva, também do IEMA, aponta que iniciativas políticas como a obrigatoriedade de contratação de termelétricas a gás fósseis, incluída na Lei 14.182/2022, vão na contramão dos avanços alcançados.

Esse artigo, conhecido como “jabuti da Eletrobras”, determina a contratação de 8 gigawatts (GW) em usinas a gás a partir de 2026, mesmo com a possibilidade de suprimento via energia solar ou eólica.

“Se essa medida for levada adiante, parte da geração limpa poderá ser substituída por fontes fósseis, o que gera prejuízos ambientais, financeiros e sociais”, alerta Silva.

Além disso, é fundamental garantir que comunidades impactadas por projetos energéticos sejam ouvidas e beneficiadas, respeitando direitos e promovendo justiça socioambiental.

Caminhos para um futuro mais limpo e igualitário

Uma transição energética justa precisa considerar tanto a sustentabilidade quanto a inclusão social.

Isso significa, segundo especialistas, investir em transporte público de qualidade, fortalecer políticas de eficiência energética e desenvolver planos econômicos para regiões ainda dependentes de combustíveis fósseis.

Um exemplo citado por Felipe Silva é o caso de municípios do Rio Grande do Sul que ainda têm forte presença de termelétricas a carvão.

Para essas localidades, é necessário planejamento para garantir empregos, renda e infraestrutura compatível com uma economia de baixo carbono.

Liderança brasileira pode inspirar o mundo

O fato de o Brasil ter superado o uso de fósseis em sua matriz energética após mais de três décadas revela que a mudança é possível — e já está em andamento.

O país reúne condições climáticas, tecnológicas e naturais únicas para se tornar uma referência global em energias renováveis.

Mas para isso, é necessário garantir que os próximos passos dessa transformação sejam sustentáveis, planejados e inclusivos.

Com apoio da sociedade civil, investimentos públicos e privados e políticas consistentes, o Brasil tem tudo para liderar a transição energética no século XXI.

2023 foi um marco na história energética do Brasil.

Com mais da metade de sua matriz composta por fontes renováveis e queda nas emissões, o país mostra que é possível crescer de forma sustentável.

Resta agora garantir que essa transformação seja justa, duradoura e acessível a todos os brasileiros.

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Ana Alice

Redatora e analista de conteúdo. Escreve para o site Click Petróleo e Gás (CPG) desde 2024 e é especialista em criar textos sobre temas diversos como economia, empregos e forças armadas.

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