No coração da Bahia, o Projeto Boa Vista surge como uma promessa para inserir o Brasil na cadeia de produção de baterias, mas o sucesso dependerá de superar a concorrência global e os desafios tecnológicos
A descoberta de cobalto nesta região chega em um momento crucial. O metal é um dos componentes mais caros e polêmicos das baterias de íon-lítio que alimentam a revolução da mobilidade elétrica. A possibilidade de o Brasil explorar esse recurso em seu território pode significar um passo decisivo para fortalecer sua posição no mapa da transição energética.
Uma nova fronteira para as ambições do Brasil na indústria de veículos elétricos está sendo desenhada em Itagibá, no interior da Bahia. O “Cobalto do Sertão”, como foi apelidado o Projeto Boa Vista, representa a mais recente aposta do país na mineração de minerais críticos. Em 2025, o projeto está em fase de estudos de viabilidade e licenciamento, um estágio inicial que pode ser um divisor de águas para a indústria nacional.
O que é o projeto Boa Vista e por que essa descoberta de cobalto é estratégica?
O Projeto Boa Vista é a iniciativa que busca explorar o cobalto recém-identificado no município de Itagibá, Bahia. A fase atual, de estudos e licenciamento, é fundamental para determinar a viabilidade técnica e econômica da extração, além de garantir que a operação siga os mais altos padrões ambientais, sociais e de governança (ESG).
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Esta descoberta de cobalto é estratégica porque o Brasil possui uma vasta riqueza mineral, mas ainda participa de forma tímida na cadeia de valor das baterias. Desenvolver uma fonte doméstica de cobalto, um item de alto valor, permitiria ao país não apenas exportar a matéria-prima, mas também, futuramente, agregar valor e participar de etapas mais avançadas da produção.
O cenário global, um mercado desafiador para a descoberta de cobalto
Entrar no mercado global de cobalto não será uma tarefa fácil. A oferta é altamente concentrada, com a República Democrática do Congo (RDC) respondendo por 76% da produção mundial em 2024. Logo em seguida, a Indonésia surge como um produtor de rápido crescimento e baixo custo.
Essa dominância de poucos players gerou um excesso de oferta em 2024, derrubando os preços do metal em mais de 20%. Para um novo projeto como o da Bahia, isso significa enfrentar uma concorrência acirrada, exigindo não apenas a comprovação de reservas, mas também uma vantagem competitiva clara, seja em custo de produção ou em sustentabilidade.
Como o Brasil pode se beneficiar com uma mineração responsável?
O cobalto é um mineral controverso. Grande parte de sua má fama vem das condições de extração na RDC, frequentemente associadas a trabalho infantil e condições perigosas. Essa realidade cria uma forte demanda no mercado por um “cobalto responsável”, e é aí que o Brasil pode se destacar.
A região de Itagibá já possui operações de mineração com altos padrões ESG, como as da Atlantic Nickel. A capacidade de comprovar uma extração ética e sustentável pode se tornar o maior trunfo do cobalto brasileiro, atraindo compradores e investidores dispostos a pagar um prêmio por um material de origem transparente e que respeita os direitos humanos e o meio ambiente.
A ameaça tecnológica, o avanço das baterias sem cobalto
O futuro do cobalto não é garantido e enfrenta uma ameaça tecnológica direta: o avanço das baterias livres de cobalto. As baterias de Fosfato de Ferro-Lítio (LFP), que não utilizam o metal, estão ganhando cada vez mais mercado. Elas são mais baratas, seguras e possuem um ciclo de vida mais longo.
Embora as baterias com cobalto ainda ofereçam maior densidade de energia, ideal para carros de longa autonomia, a tecnologia LFP está evoluindo rapidamente e dominando o setor de armazenamento de energia. Essa tendência pode limitar o crescimento da demanda futura por cobalto, criando um cenário onde o metal atende a um nicho de alto desempenho, mas perde espaço no mercado de massa.
Os desafios do Brasil para criar uma cadeia produtiva completa
A descoberta de cobalto é apenas o primeiro passo. Para que o Brasil realmente se beneficie, é preciso criar uma cadeia produtiva que vá além da mineração. Um ativo estratégico nesse quebra-cabeça é a refinaria de níquel e cobalto da Jervois Global, em São Paulo. Atualmente paralisada, a unidade tem planos de reiniciar as operações e capacidade para refinar o cobalto extraído na Bahia.
Isso permitiria agregar valor ao minério dentro do país. No entanto, o desafio é grande e exige uma estratégia nacional coesa, com políticas de incentivo, investimentos em tecnologia e logística. O sucesso do “Cobalto do Sertão” dependerá da capacidade do Brasil de alinhar seus recursos naturais a uma visão industrial de longo prazo, transformando uma descoberta mineral em um motor de desenvolvimento tecnológico.