Brás enfrenta apagão de mão de obra e busca apoio do governo para recrutar trabalhadores. Maior polo de comércio popular da América Latina sofre com falta de mais de 10 mil funcionários e aposta em ações conjuntas com a Prefeitura
O Brás, região central de São Paulo conhecida como a maior feira a céu aberto da América Latina, enfrenta um desafio sem precedentes: a dificuldade para recrutar trabalhadores em número suficiente para atender à demanda. Segundo a Alobrás (Associação dos Lojistas do Brás), faltam mais de 10 mil funcionários para as cerca de 5.000 lojas do bairro, incluindo grandes redes que chegam a pedir até 400 contratações de uma só vez.
O cenário é tão crítico que lojistas relatam alta rotatividade, com empregados que permanecem apenas alguns dias e abandonam o posto sem aviso. “As pessoas até vêm, mas ficam muito pouco tempo. Tem até a piada interna de que o pessoal sai para almoçar e não volta”, afirma Lauro Pimenta, vice-presidente da Alobrás.
Prefeitura e lojistas unem forças para reverter o quadro
Para enfrentar a crise, a Prefeitura de São Paulo, por meio do Cate (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo), iniciou uma ação especial. Técnicos do órgão percorreram ruas como Oriente, Miller e Casemiro de Abreu para cadastrar vagas e apresentar o serviço de intermediação de mão de obra. Além disso, as oportunidades estão sendo digitalizadas na plataforma oficial do Cate, substituindo o tradicional método de fixar placas de “precisa-se” nas portas.
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Outro passo será o mutirão Contrata SP, previsto para setembro, que deve concentrar processos seletivos e entrevistas em um único evento. A expectativa é que a medida amplie a visibilidade das vagas e atraia candidatos de diferentes regiões.
Por que é tão difícil recrutar trabalhadores no Brás?
Entre as causas, especialistas apontam a competição com trabalhos autônomos e a rigidez da jornada no comércio. Muitos jovens rejeitam a escala 6×1 e a carga horária de 44 horas semanais, preferindo plataformas de entrega ou transporte. Ao mesmo tempo, cresce a presença de trabalhadores acima dos 60 anos que retornam ao mercado para suprir lacunas.
Há ainda questões estruturais. O bairro passou por mudanças significativas nos últimos anos, com crescimento de shoppings populares e repressão a ambulantes. Esse cenário reduziu a base tradicional de vendedores e afastou parte da mão de obra que, antes, estava inserida no comércio informal.
Violência e instabilidade afastam mão de obra
Outro fator citado por pesquisadores e associações é a insegurança. Casos de violência envolvendo trabalhadores como o do vendedor senegalês morto em abril durante uma operação policial — impactam a percepção sobre a região. Além disso, programas como o Tô Legal, que dá autorização provisória para ambulantes, oferecem pouca estabilidade, já que as permissões podem ser cassadas por detalhes burocráticos.
Para o professor Felipe Rangel, da UFSCar, essa tensão entre formal e informal prejudica a atração de profissionais. “Existe um discurso de combate ao comércio informal que, na prática, empurra parte da força de trabalho para fora do mercado”, explica.
O que esperar das próximas ações
A SMDET (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho) afirma que está em diálogo com a Alobrás para implementar novas medidas de empregabilidade ainda este ano. A meta é criar um fluxo contínuo de contratação e retenção, adaptado às demandas do polo comercial.
Enquanto isso, o Brás segue operando com equipes reduzidas, o que afeta vendas e atendimento. A capacidade de reverter essa situação pode definir o futuro da região como centro de compras de alcance nacional.
E você? Acredita que ações como o mutirão e a digitalização das vagas vão resolver o apagão de mão de obra no Brás? Ou acha que será preciso mudar a forma de contratar e trabalhar no comércio popular? Deixe sua opinião nos comentários.