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Bio-óleo produzido de palha de milho e resíduos florestais pode selar poços de petróleo abandonados e sequestrar carbono com baixo custo

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 07/09/2025 às 17:57
Bio-óleo produzido de palha de milho e resíduos florestais pode selar poços de petróleo abandonados e sequestrar carbono com baixo custo
Foto: Reprodução
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Transformar resíduos que antes não tinham valor em uma solução climática poderosa é a proposta de pesquisadores da Universidade Estadual de Iowa. Eles apostam no bio-óleo, feito de palha de milho e restos de madeira, para encher poços de petróleo abandonados e sequestrar carbono de forma eficiente e acessível

Encher poços de petróleo e gás abandonados com bio-óleo produzido a partir de restos de plantas e madeira é a proposta de uma equipe da Universidade Estadual de Iowa.

A ideia parte do professor de engenharia mecânica Mark Mba-Wright e combina dois desafios urgentes: o excesso de resíduos agrícolas e florestais e os riscos ambientais de poços abandonados.

O método sequestra carbono no subsolo, utilizando estruturas já abertas para a extração de combustíveis fósseis.

O professor resume a lógica: “temos resíduos subutilizados e poços que precisam ser tampados. É um recurso abundante que atende a uma demanda urgente”.

Como funciona a pirólise rápida

O sistema se apoia na pirólise rápida, processo que aquece biomassa seca em ambiente sem oxigênio e a transforma em bio-óleo. O aquecimento, que pode ultrapassar 475°C, dura poucos segundos. Nesse estágio, a matéria mantém o carbono capturado da atmosfera durante sua vida útil.

O processo também gera biochar e gás. O primeiro pode ser vendido como corretivo agrícola. O segundo serve de combustível para alimentar o próprio sistema, fechando o ciclo energético. Mas o principal é o bio-óleo, líquido denso e rico em carbono.

Um poço de petróleo médio, com cerca de 48 centímetros de largura e mais de 4 quilômetros de profundidade, pode armazenar quase um milhão de litros de bio-óleo.

Isso aproveita uma infraestrutura já existente e evita o gasto de até US$ 1 milhão no fechamento convencional.

Custos e viabilidade econômica

A pesquisa calculou que uma rede de 200 unidades móveis de pirólise poderia funcionar de forma viável. Cada unidade processaria cerca de 10 toneladas de biomassa por dia e custaria em torno de US$ 1,3 milhão. O bio-óleo teria de ser vendido por, no mínimo, US$ 175 por tonelada.

O estudo estimou o custo de sequestro de carbono em US$ 152 por tonelada, competitivo em comparação a outras tecnologias.

Em casos de matéria-prima de madeira, esse valor cairia para US$ 100. Considerando o valor agregado do biochar e a curva de aprendizado, o custo tende a diminuir com o tempo.

Biomassa como fonte regional

As fontes de biomassa variam conforme a região. No Centro-Oeste americano, a principal matéria é a palha de milho, que sobra após a colheita. No Oeste, a prioridade são restos de madeira retirados de florestas para reduzir riscos de incêndios. Outras possibilidades são a grama switchgrass e o painel de fibras orientadas.

As unidades móveis de pirólise depositariam o bio-óleo em terminais centralizados. Dali, o material seguiria para os poços de petróleo e gás abandonados, transformando locais antes ligados à poluição em pontos de sequestro de carbono.

Desafios e escala necessária

A lei de infraestrutura de 2021 reservou US$ 4,7 bilhões para fechar 120 mil poços abandonados. No entanto, estimativas citadas no estudo indicam entre 300 mil e 800 mil poços órfãos não documentados nos EUA. Esse cenário amplia a relevância da proposta.

Mba-Wright reforça que o sistema pode começar pequeno. As unidades móveis têm porte semelhante ao de colheitadeiras. Com mais produção, os custos tendem a cair, e a escala pode atender parte significativa da demanda.

Interesse do setor privado

A Charm Industrial, empresa voltada para soluções de captura de carbono, encomendou uma avaliação independente à Iowa State.

O objetivo era validar o potencial de sequestro e o custo-benefício da tecnologia. Para o CEO Peter Reinhardt, o bio-óleo oferece uma das opções mais seguras e acessíveis do mercado.

Ele afirma que grandes compradores de remoção de carbono valorizam essa solução porque ela combina eficácia e preço competitivo. Além disso, cria novas oportunidades econômicas em áreas rurais que fornecem a biomassa.

Comparação com outras tecnologias

A pesquisa comparou o bio-óleo com a captura direta de ar, sistema que retira dióxido de carbono da atmosfera. Embora ambos apresentem custos semelhantes por tonelada de carbono, a captura direta exige investimentos muito maiores e não oferece subprodutos como biochar.

Segundo Mba-Wright, não se trata de escolher apenas uma tecnologia. A remoção de carbono pode seguir várias frentes ao mesmo tempo.

O importante é ampliar as opções viáveis, sem descartar alternativas que tragam benefícios adicionais.

Potencial para comunidades rurais

Além de reduzir emissões, a proposta abre novos mercados para agricultores e comunidades florestais. A venda de resíduos agrícolas, que muitas vezes ficam sem uso, passa a ter valor econômico. Isso cria uma nova fonte de renda e movimenta a economia local.

Especialistas da Iowa State destacaram que o sequestro de bio-óleo feito com palha de milho pode gerar um produto de alta qualidade.

Esse resultado ajuda a compor portfólios de emissões líquidas zero em empresas que buscam cumprir metas ambientais.

Caminho em construção

Embora a tecnologia já exista em escala limitada, a pesquisa mostra que a expansão é tecnicamente viável. Falta vencer barreiras logísticas e garantir que o bio-óleo seja transportado e armazenado com segurança.

O próximo passo depende de investimentos e políticas públicas que incentivem o uso em grande escala.

O estudo reforça que resíduos de lavouras e florestas, vistos como descartáveis, podem ganhar um novo papel.

Eles não apenas reduzem riscos ambientais como também transformam poços abandonados em instrumentos de combate à mudança climática.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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