Empresa alemã enfrenta litígios bilionários nos Estados Unidos, queda drástica no valor de mercado e amplia cortes em sua força de trabalho como parte de um plano global de reestruturação anunciado junto ao balanço do segundo trimestre.
A Bayer anunciou na última quarta-feira (06) a demissão de 12 mil funcionários em tempo integral como parte de um amplo plano de reestruturação global.
A medida, confirmada pela agência Reuters, ocorre em meio à pressão financeira e jurídica gerada pelos processos contra o herbicida Roundup, adquirido junto com a Monsanto em 2018 por US$ 63 bilhões.
A aquisição, que visava ampliar a liderança no mercado agroquímico, resultou em um passivo bilionário e na perda de cerca de 80% do valor de mercado da companhia.
-
Em grande jogada, a China funde duas empresas e agora terá o maior estaleiro do mundo e vai bater de frente com os estaleiros dos EUA
-
China manda parar usinas de aço para limpar o ar — e decisão já mexe com preços do minério de ferro pelo mundo
-
Brasil bate recorde de exportações ao Canadá em 2025 com alta de 25% e amplia pressão sobre acordos com outros mercados
-
Nunca tanta gente investiu em renda fixa no Brasil: 100 milhões de pessoas aplicam no segmento em 2025
A multinacional alemã enfrenta atualmente mais de 67 mil ações judiciais nos Estados Unidos que associam o glifosato, ingrediente ativo do Roundup, a supostos riscos de câncer.
Tribunais norte-americanos têm condenado a empresa a indenizações milionárias e questionado a segurança do produto, apesar de pareceres favoráveis da Agência de Proteção Ambiental (EPA).
Cortes e reorganização administrativa
Segundo a Bayer, os cortes atingem principalmente cargos administrativos e de gestão.
O objetivo é acelerar decisões internas e reduzir custos fixos, estratégia considerada fundamental diante da concorrência de genéricos asiáticos e da queda nos preços do glifosato.
Desde o início do programa de reestruturação, em 2024, cerca de 7 mil postos já haviam sido eliminados.
Ao final de junho de 2025, a empresa contava com aproximadamente 90 mil empregados no mundo.
A companhia ressalta que a reorganização também busca simplificar sua estrutura gerencial, encurtando a cadeia de comando para reagir com mais rapidez às mudanças do mercado e ao andamento dos processos judiciais.
Provisões bilionárias e prejuízos acumulados
O impacto das ações judiciais já custou à Bayer mais de US$ 10 bilhões em indenizações.
Recentemente, a empresa reservou US$ 1,37 bilhão adicionais (cerca de € 1,2 bilhão) para cobrir novas demandas, elevando o montante total destinado a essas provisões para US$ 7,4 bilhões.
Em 2024, a Bayer registrou prejuízo líquido de € 2,55 bilhões.
O desempenho negativo, aliado à deterioração da confiança de investidores, aumentou a pressão sobre o CEO Bill Anderson e sua equipe de gestão.
Estratégias para conter a crise
A companhia avalia duas alternativas para tentar encerrar ou reduzir a enxurrada de processos.
Uma delas é negociar um novo acordo coletivo nos Estados Unidos, com atenção especial aos casos pendentes no estado do Missouri, onde fica a sede da Monsanto.
A outra opção em análise é recorrer ao Chapter 11, mecanismo equivalente à recuperação judicial norte-americana, mas restrito à subsidiária Monsanto.
Essa medida permitiria concentrar as ações em uma única jurisdição e suspender temporariamente novos julgamentos.
Estratégia semelhante foi tentada sem sucesso por empresas como Johnson & Johnson e 3M.
Condenações recentes e riscos futuros
Em janeiro de 2024, um júri da Pensilvânia determinou que a Bayer pagasse US$ 2,25 bilhões a um cliente que alegou ter desenvolvido câncer devido ao uso do Roundup.
O caso reforçou o temor de novas condenações bilionárias e aprofundou a incerteza sobre o futuro da empresa.
O glifosato é amplamente utilizado em lavouras de soja, milho e algodão.
A Bayer defende sua segurança e afirma que pesquisas científicas e avaliações regulatórias comprovam que o herbicida não oferece riscos à saúde humana quando usado corretamente.
Expectativa por decisão da Suprema Corte
Nos próximos meses, a Suprema Corte dos EUA deve decidir se aceitará um novo recurso relacionado ao glifosato.
Paralelamente, a Bayer intensifica sua atuação junto ao Congresso americano para tentar aprovar leis que limitem sua responsabilidade em ações futuras.
Rodrigo Santos, presidente global da divisão agrícola, declarou que a meta é resolver ou estabilizar os litígios em até 18 meses, evitando que o passivo jurídico comprometa a viabilidade do grupo.
O caso Bayer-Monsanto expõe um dilema que vai além do setor agroquímico: até que ponto uma aquisição bilionária pode se transformar em um passivo estratégico irreversível?