A bandeira vermelha em patamar 2 pressiona as contas de luz e atinge em cheio quem tem carro elétrico, elevando o custo das recargas residenciais em meio ao baixo nível dos reservatórios e acionamento de termelétricas.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) confirmou que, no mês de setembro, a conta de luz continuará sob o peso da bandeira vermelha em patamar 2. A decisão ocorre em razão da escassez de chuvas, que deixou os reservatórios das hidrelétricas abaixo do esperado e forçou o acionamento das termelétricas, que possuem custo de geração mais alto.
Com isso, cada 100 kWh consumidos terão acréscimo de R$ 7,87, além da cobrança de cerca de R$ 0,08 por kWh adicional. Embora a tarifa atinja todos os consumidores, os mais prejudicados são aqueles que possuem carro elétrico ou híbrido plug-in, já que a recarga desses veículos demanda volumes expressivos de energia elétrica.
Carro elétrico sofre impacto direto com bandeira vermelha
As baterias de carros elétricos variam bastante, mas muitos modelos comercializados no Brasil possuem capacidade de 60 kWh a 100 kWh. Em termos práticos, uma ou duas recargas completas já são suficientes para que o consumidor sinta com força o impacto da bandeira vermelha na conta de luz.
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Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo médio de uma residência brasileira gira em torno de 180 kWh por mês. No entanto, apenas um carro elétrico pode facilmente ultrapassar esse patamar.
Um exemplo prático: motoristas de aplicativo que rodam 2.000 km por semana necessitam de aproximadamente 309 kWh nesse período, o que representa 1.235 kWh em um mês. Sob a bandeira vermelha patamar 2, esse condutor pagará R$ 191,68 a mais apenas pela taxa adicional. Considerando o preço médio de R$ 1 por kWh, a conta total de energia chegaria a R$ 1.426 em setembro.
Comparação entre carro elétrico e veículos a combustão
Mesmo com a alta do custo de recarga, o carro elétrico ainda oferece vantagem econômica em relação aos modelos a combustão. Para efeito de comparação, o mesmo motorista de aplicativo que roda 2.000 km semanais gastaria R$ 3.656 em gasolina, tomando como base o consumo médio de um Volkswagen Polo Track.
Já um motorista comum, que percorre aproximadamente 1.000 km por mês, terá impacto bem menor. De acordo com estimativas da KBB, o acréscimo em sua conta de luz seria de apenas R$ 23,96. Ou seja, mesmo em meio ao cenário de bandeira vermelha, o carro elétrico continua sendo uma alternativa mais barata quando comparada ao combustível fóssil.
Apesar da vantagem financeira no comparativo com carros a combustão, a recarga residencial sob bandeira vermelha evidencia um desafio estrutural. Grande parte dos consumidores ainda depende da tomada doméstica para abastecer seus veículos. Esse modelo, embora mais acessível, é também o que mais expõe o motorista aos aumentos tarifários da energia elétrica.
Em contrapartida, pontos de recarga rápida instalados em shoppings, estacionamentos e rodovias oferecem velocidade superior no carregamento, mas geralmente têm custos ainda mais elevados. Dessa forma, muitos donos de carros elétricos acabam sem uma alternativa viável para escapar do impacto da bandeira tarifária.
Energia solar como alternativa sustentável
Com a conta de luz em alta, cresce o interesse pela energia solar fotovoltaica como forma de reduzir os gastos. Um estudo da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de São Paulo mostra que, para um motorista de aplicativo abastecer seu veículo apenas com energia solar, seria necessário instalar um sistema de 10,3 kWp.
Segundo o Radar Solfácil, que monitora o preço médio de projetos no país, essa instalação custaria mais de R$ 25 mil. O retorno financeiro, no entanto, pode ser alcançado em cerca de três anos, prazo considerado curto diante da vida útil dos equipamentos, que pode ultrapassar 20 anos.
Essa estratégia tem atraído consumidores que desejam não apenas economizar, mas também alinhar seu estilo de vida a práticas mais sustentáveis. Afinal, ao recarregar um carro elétrico com energia solar, o motorista reduz emissões de carbono e neutraliza parte do impacto ambiental causado pela geração termoelétrica.
Motivo da tarifa extra e previsão para os próximos meses
De acordo com a Aneel, a manutenção da bandeira vermelha está ligada ao baixo nível de chuvas em agosto e setembro. Com as hidrelétricas comprometidas, as termelétricas foram acionadas para garantir o fornecimento de energia, mas a um custo muito mais alto, que é repassado ao consumidor.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) projeta que setembro siga dentro da média histórica de precipitações. Caso se confirme, a expectativa é que, a partir de outubro, o regime de chuvas aumente e possibilite o retorno a uma bandeira mais barata, como a verde ou a amarela.
Vale destacar que, desde a criação do sistema em 2015, os meses de agosto e setembro têm sido campeões em aplicação da bandeira vermelha. Por outro lado, entre janeiro e abril quase nunca houve registro desse patamar tarifário, o que pode trazer alívio aos consumidores no início de 2026.
Apesar do impacto da bandeira vermelha, especialistas afirmam que o carro elétrico segue em expansão no Brasil. O crescimento das vendas nos últimos anos mostra que o consumidor já considera fatores de longo prazo, como economia de combustível, isenções fiscais em algumas cidades e menor custo de manutenção.
Além disso, há expectativa de que a expansão da matriz renovável — incluindo energia solar e eólica — reduza gradualmente a dependência das termelétricas, diminuindo a exposição do setor elétrico a crises hídricas. Se confirmada, essa tendência pode tornar a recarga de veículos elétricos cada vez mais barata e previsível.
Enquanto isso, no curto prazo, motoristas precisam lidar com o efeito imediato da bandeira vermelha sobre a conta de energia, adaptando hábitos de consumo ou investindo em soluções alternativas para reduzir o impacto no orçamento doméstico.