Em 2024, uma falha no Commercial Bank of Ethiopia permitiu saques indevidos de milhões de birrs, provocou caos nas agências e entrou para a história como o maior erro bancário da África.
Na manhã do dia 17 de março de 2024, o Commercial Bank of Ethiopia (CBE), maior instituição financeira estatal da Etiópia, enfrentou um dos incidentes bancários mais caóticos já registrados no continente africano. Uma falha no sistema de transações instantâneas fez com que milhares de clientes recebessem depósitos indevidos em suas contas, permitindo saques e transferências de valores inexistentes durante várias horas, antes que o erro fosse detectado.
O episódio, confirmado oficialmente pelo próprio banco e divulgado pela agência de notícias AP News e pela BBC África, desencadeou uma corrida sem precedentes às agências e caixas eletrônicos de todo o país. Durante cerca de 5 horas, estudantes universitários, comerciantes e cidadãos comuns conseguiram sacar valores muito acima de seus saldos reais.
Como a falha começou
De acordo com o relatório divulgado pelo governador do Banco Nacional da Etiópia, o erro ocorreu após uma atualização de rotina no sistema de gestão digital do CBE, que processa milhões de transações diárias. Um bug na integração entre o sistema central de dados e a plataforma de mobile banking provocou um descompasso no registro de saldos e autorizações de saque.
-
Funcionária acha larva na comida servida pelo Carrefour e Justiça do Trabalho decide que ela tem direito a indenização de R$ 50 mil
-
A cidade brasileira que importou casas de Michigan e um campo de golfe para a Amazônia, mas viu seu império da borracha ser destruído e engolido pela floresta
-
No interior do Ceará, quintal de uma casa guarda uma cabeça gigante há 40 anos — o chamado “santo sem corpo” atrai visitantes e inspira obras literárias e cinematográficas há décadas
-
Construída sobre o gelo e localizada a menos de 1.300 km do Polo Norte, esta cidade resiste a temperaturas de –30°C, tem prédios elevados, túneis subterrâneos e abriga mais de 2.000 pessoas que vivem o desafio diário de sobreviver no fim do mundo
O problema passou despercebido durante parte da manhã, até que funcionários de agências começaram a perceber que os caixas estavam sendo rapidamente esvaziados.
Em alguns campi universitários, como o da Universidade de Haramaya, jovens formaram filas de centenas de metros para sacar o dinheiro. Segundo estimativas do próprio banco, mais de 490 milhões de birrs etíopes (aproximadamente US$ 8,7 milhões) foram retirados de forma irregular durante o período da falha.
Corrida aos caixas e caos nas ruas
Vídeos publicados nas redes sociais mostram filas longas em caixas automáticos, pessoas comemorando transferências inesperadas e até relatos de pequenos comércios que passaram a aceitar pagamentos imediatos via aplicativo antes que o sistema fosse corrigido.
Em comunicado oficial, o CBE confirmou que o bug atingiu “menos de 1% das contas ativas”, mas que o impacto social foi gigantesco devido à velocidade da disseminação da notícia. A polícia e o exército foram acionados para controlar aglomerações e impedir saques em massa.
Em questão de horas, o sistema bancário nacional foi temporariamente suspenso, e o acesso digital às contas foi bloqueado para todos os usuários até a conclusão da verificação.
A resposta do banco e o pedido de devolução
No dia seguinte, 18 de março de 2024, o presidente do Commercial Bank of Ethiopia, Abie Sano, fez uma declaração pública pedindo que os cidadãos devolvessem voluntariamente o dinheiro recebido indevidamente. Em tom conciliador, ele afirmou que o banco não responsabilizaria judicialmente quem devolvesse os valores de forma espontânea, mas que os casos de retenção intencional seriam tratados como fraude.
Segundo a AP News, milhares de estudantes universitários devolveram as quantias retiradas após apelos públicos. Outros, no entanto, tentaram ocultar os valores, transferindo-os para parentes ou comprando bens antes que o rastreamento digital fosse concluído.
O banco afirmou ter recuperado cerca de 80% do total perdido dentro de uma semana, mas as investigações sobre o restante continuavam até o final de abril.
Repercussão internacional e lições deixadas
O incidente do CBE ganhou repercussão internacional, sendo comparado pela imprensa estrangeira a outros grandes erros de sistemas financeiros, como o colapso do sistema de pagamentos do TSB Bank no Reino Unido, em 2018, e o erro de US$ 900 milhões do Citibank, em 2020.
Especialistas em segurança bancária apontaram que o caso etíope expôs falhas críticas em protocolos de redundância de dados e autenticação em tempo real. Segundo o Instituto Africano de Finanças Digitais, o erro foi resultado de uma combinação entre “software desatualizado, integração mal testada e ausência de travas automáticas em fluxos de crédito”.
O governo etíope afirmou ter criado uma comissão especial de auditoria para reforçar os sistemas de segurança digital do país. Em comunicado ao parlamento, o primeiro-ministro Abiy Ahmed declarou que “o caso servirá como marco para modernizar os sistemas financeiros nacionais e preparar o país para a digitalização total do setor bancário”.
O caos bancário de 2024 na Etiópia entrou para a história como um dos maiores erros de transação financeira já registrados na África.
Em poucas horas, um simples bug de software provocou prejuízos milionários, abalou a confiança no sistema financeiro e mostrou ao mundo o risco de falhas em redes bancárias digitais de larga escala.
Ainda que a maior parte do dinheiro tenha sido recuperada, o episódio se tornou um alerta global sobre os limites da automação e da segurança digital — lembrando que, em tempos de alta tecnologia, um simples erro de código pode desencadear uma crise nacional.