Banco estatal enfrenta cenário de incertezas com inadimplência elevada no agronegócio, provisões bilionárias e possíveis sanções externas. Projeções da XP Investimentos indicam lucros menores e recuperação lenta até 2026, com impacto direto na rentabilidade.
O Banco do Brasil deve atravessar trimestres de resultados pressionados, segundo relatório da XP Investimentos, que reduziu o preço-alvo das ações de R$ 32 para R$ 25 e manteve a recomendação neutra.
A avaliação considera a combinação de risco regulatório externo, inadimplência elevada — sobretudo no agronegócio — e necessidade de provisões adicionais, fatores que, de acordo com os analistas, tendem a afetar o lucro até 2026.
XP revisa preço-alvo e projeções de lucro
A equipe de análise formada por Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães afirma que a trajetória de recuperação deverá ser lenta.
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Com os obstáculos previstos, a instituição teria pouco espaço para acelerar rentabilidade no curto prazo.
Por isso, além do corte no preço-alvo, a XP revisou para baixo as estimativas de lucro e de retorno sobre o patrimônio (ROE) para os próximos anos.
O documento menciona ainda possíveis sanções dos EUA como fator de incerteza adicional, o que reforça o tom conservador do relatório.
Inadimplência do agro pesa nos resultados
A XP aponta a inadimplência do agronegócio como “grande vilã” do desempenho no segundo trimestre e prevê que a normalização da carteira levará tempo.
Mesmo com alguns sinais pontuais de melhora, margens comprimidas ainda afetam produtores menores ou mais alavancados, o que tende a manter a pressão sobre atrasos e renegociações.
Além do agro, outras linhas de crédito devem contribuir para o aumento do risco.
A avaliação da XP é que a taxa de inadimplência agregada permanecerá em patamar elevado no curto prazo, exigindo reforço de provisões e prudência na originação.
Provisões bilionárias e custo de risco em alta
Pelas contas da XP, a combinação de risco de crédito e ambiente macro mais desafiador exigirá um esforço adicional de cobertura.
“Consequentemente, no segundo semestre, projetamos uma provisão para perdas esperadas de R$ 33 bilhões”, diz o relatório, o que levaria o total anual acima do limite superior do guidance de R$ 51 bilhões a R$ 56 bilhões.
Paralelamente, o custo de risco associado ao crédito deve subir.
A XP estima avanço do indicador dos 3% observados em 2024 para 4,5% em 2025.
Esse movimento, caso se confirme, tende a reduzir margens e adiar a recuperação dos resultados.
Margem financeira e eficiência sem avanços
No documento, os analistas também destacam obstáculos para a margem financeira líquida (NII).
A expectativa é de continuidade da pressão sobre spreads e menor espaço para expansão de volumes nos segmentos mais rentáveis.
O índice de eficiência, por sua vez, deve permanecer estável, sem ganhos relevantes de produtividade capazes de compensar a piora do risco de crédito.
Esses fatores embasam a reprecificação do banco no modelo da XP, com menor geração de capital orgânico e resultados mais fracos do que os registrados em 2023.
Estimativas de lucro e ROE em queda
Com as novas premissas, as projeções foram recalibradas.
A XP reduziu em 21% a estimativa de lucro líquido de 2025, para R$ 20,6 bilhões.
Para 2026, a previsão caiu 16%, para R$ 23,3 bilhões.
Em 2024, o Banco do Brasil havia reportado lucro próximo de R$ 38 bilhões.
“Como resultado, agora esperamos um ROE de 11% para 2025, com retornos se aproximando do custo de capital (Ke) apenas nos próximos anos”, registram os analistas.
Dividendos limitados e múltiplos considerados caros
No campo de remuneração ao acionista, a XP trabalha com payout de 30% no ano, o que implicaria dividend yield de 4,8% nas cotações consideradas no relatório.
Os analistas também destacam que os múltiplos atuais indicam avaliação menos atrativa.
De acordo com a XP, nas novas projeções, o Banco do Brasil negocia a 6,1 vezes o P/L e 0,7 vez o P/B para 2025, e a 5,4 vezes o P/L e 0,6 vez o P/B para 2026.
“Em nossa visão, esses níveis de P/L ainda parecem caros, com prêmio em relação às médias dos últimos anos”, diz o relatório.
Comportamento recente das ações
No pregão citado no relatório, por volta do meio-dia, as ações do Banco do Brasil registravam alta de 0,27%, a R$ 22,28.
No acumulado do ano, o papel aparecia com queda de 6,86%, levando o valor de mercado a R$ 128,1 bilhões.
Esses números ajudam a contextualizar a distância entre a cotação corrente e o novo preço-alvo.
Principais riscos mapeados pela XP
Entre os riscos mapeados, a XP destaca a evolução da carteira do agronegócio como principal ponto de atenção.
A materialização de perdas adicionais ou uma normalização mais lenta poderiam exigir revisões de provisões.
Entram no radar, ainda, a margem financeira líquida, a estabilidade do índice de eficiência e eventuais impactos de decisões regulatórias externas — entre elas, possíveis sanções dos EUA.
Uma melhora mais rápida do ciclo de crédito, associada a um ambiente macro favorável e a ganhos operacionais, também é considerada pelos analistas, mas com menor probabilidade no curto prazo.
Assim, a XP sustenta a avaliação de que o banco enfrentará um período prolongado de resultados sob pressão.
Com esse cenário, a questão que permanece é: até que ponto os riscos já estão refletidos no preço das ações, ou se ainda há espaço para ajustes adicionais por parte do mercado?