Após ataque que desviou R$ 710 milhões via Pix, Banco Central determina que bancos bloqueiem transferências a contas suspeitas de fraude e fortaleçam sistemas antifraude em todo o sistema financeiro nacional.
Nos últimos anos, o Brasil assistiu a uma escalada nos crimes digitais envolvendo o sistema financeiro. O Pix, que se tornou a forma mais popular de transferência do País desde sua criação em 2020, trouxe agilidade inédita, mas também abriu espaço para novas modalidades de fraude.
Entre 2020 e 2024, golpes ligados ao Pix cresceram de forma exponencial, indo de pequenas quadrilhas locais a redes organizadas de criminosos digitais que utilizam contas de passagem para lavar dinheiro. Essas contas são abertas em nome de laranjas e usadas por curto período antes de serem abandonadas.
Com esse contexto, o Banco Central (BC) vem ampliando seu arsenal regulatório. A mais recente medida, publicada em setembro de 2025, é a Resolução BCB nº 501, que exige que bancos e instituições financeiras rejeitem transferências destinadas a contas com fundada suspeita de envolvimento em fraudes.
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Como funcionará a nova regra
A resolução, que tem efetividade obrigatória até 13 de outubro de 2025, determina que os bancos utilizem sistemas eletrônicos de combate a fraudes e bases de dados públicas e privadas para monitorar em tempo real transações suspeitas.
Caso identifiquem indícios de fraude, as instituições deverão bloquear a transferência e notificar imediatamente o titular da conta envolvida.
Embora o foco principal seja o Pix, pela sua capilaridade, a medida se aplica também a outros métodos de pagamento, como TEDs. Assim, toda movimentação financeira passa a estar sujeita ao escrutínio de ferramentas antifraude.
Repercussão imediata entre bancos e especialistas
Para bancos tradicionais, a medida reforça a necessidade de investir em tecnologia avançada de monitoramento. O consultor bancário André Castro explica que o desafio será integrar sistemas já existentes a novas plataformas de inteligência artificial capazes de identificar movimentações incomuns em frações de segundos.
Segundo ele, “a decisão do BC cria um padrão mais rígido, que pode aumentar a confiança do público, mas vai exigir investimentos altos em tecnologia e treinamento”.
Fintechs, que cresceram oferecendo serviços digitais ágeis, também precisarão se adaptar. Especialistas apontam que startups do setor terão custos extras para seguir as novas regras, mas que isso é inevitável para garantir competitividade no mercado.
Medidas complementares do Banco Central
A Resolução BCB nº 501 não surgiu isolada. Poucos dias antes, o Banco Central já havia anunciado uma limitação importante: transferências via Pix ou TED realizadas por instituições não autorizadas ou conectadas ao Sistema Financeiro Nacional por meio de prestadores de serviços de tecnologia (PSTIs) ficam restritas a R$ 15 mil.
O objetivo é coibir o uso dessas instituições intermediárias para movimentação de grandes valores de forma anônima. Com a restrição, fraudes milionárias ficam mais difíceis de serem executadas sem que haja detecção.
O gatilho: ataque de R$ 710 milhões
O pano de fundo para essas medidas é um episódio recente que abalou o setor financeiro: um ataque cibernético que desviou cerca de R$ 710 milhões de duas instituições financeiras via Pix.
O caso, ainda sob investigação, expôs a vulnerabilidade de determinados pontos da rede e mostrou que, mesmo após anos de operação, o sistema ainda é alvo prioritário de criminosos digitais. A repercussão foi imediata: analistas pediram mais rigor regulatório, e o BC reagiu com uma série de medidas emergenciais que agora começam a ganhar forma.
Impactos para os clientes
Na prática, os correntistas poderão se deparar com a rejeição de transferências quando tentarem enviar dinheiro para contas identificadas como suspeitas. Embora isso possa gerar desconforto inicial, a medida é vista como fundamental para proteger usuários de golpes.
A rejeição imediata deve atingir principalmente contas usadas por esquemas de pirâmide financeira, sites falsos de investimento e quadrilhas que aplicam o “golpe do falso funcionário do banco”.
O BC reforça que, caso uma transferência seja bloqueada, o usuário receberá explicações e poderá contestar a decisão junto à instituição. A expectativa é que a transparência evite desgastes excessivos e mantenha a confiança do público no sistema.
Por que 2025 marca uma virada
O ano de 2025 já se desenha como um ponto de virada na política de segurança do Banco Central. Desde janeiro, foram editadas três resoluções com foco no combate a fraudes.
A ênfase agora é equilibrar rapidez e conveniência do Pix com camadas robustas de segurança. Isso significa que o sistema continuará gratuito e instantâneo, mas passará a operar sob regras mais rígidas. Se bem-sucedida, a estratégia pode consolidar o Pix não apenas como ferramenta popular, mas também como padrão internacional de segurança em transferências digitais.
Desafios para implementação
Apesar do avanço, especialistas alertam que a implementação exigirá integração entre bancos, fintechs, órgãos de segurança e o próprio BC. Sistemas antifraude precisam ser constantemente atualizados para lidar com novas técnicas de lavagem de dinheiro e engenharia social.
Outro ponto é a necessidade de educação financeira. Sem usuários mais atentos e informados, criminosos continuam encontrando brechas, mesmo em sistemas altamente monitorados.
O futuro da segurança bancária no Brasil
Com a Resolução nº 501, o Banco Central deixa claro que está disposto a apertar o cerco contra o crime organizado no sistema financeiro.
O desafio será garantir que a experiência do usuário não seja comprometida por bloqueios indevidos ou burocracia excessiva.
Ainda assim, a medida representa um avanço importante no esforço de proteger tanto os R$ trilhões movimentados anualmente no sistema quanto a confiança da população em um dos métodos de pagamento mais revolucionários da história recente.