Banco Central destaca que uma política de contenção de gastos públicos pode ser um indutor do crescimento econômico no Brasil. A estratégia, defendida pelo Copom, propõe uma redução estrutural das despesas para amenizar juros e incentivar o desenvolvimento a longo prazo. A resistência, contudo, persiste entre áreas políticas do governo.
É possível que uma mudança no comportamento dos gastos públicos possa impulsionar o crescimento econômico brasileiro de maneira mais efetiva do que outras medidas isoladas.
Com cortes de despesas permanentes, o Brasil teria mais capacidade de incentivar um cenário de expansão econômica. Isso é o que o Banco Central (BC) sinaliza em seu mais recente relatório do Comitê de Política Monetária (Copom), sugerindo que o controle fiscal pode beneficiar o país nos próximos anos.
O BC destaca que a contenção estrutural das despesas pode ter efeitos positivos no risco-país, nas condições financeiras e na alocação de recursos, influenciando de maneira decisiva o ritmo da economia.
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Esse tema é particularmente relevante, já que o governo federal discute internamente como proceder em relação aos gastos públicos, um assunto que gera debates entre os ministérios e encontra resistência de alas políticas e setores ligados a programas sociais.
Como o BC justifica a contenção de gastos
A análise do Banco Central faz parte da ata da última reunião do Copom, realizada em 6 de setembro. Nesse encontro, o comitê decidiu aumentar a taxa Selic para 11,25% ao ano – o segundo reajuste consecutivo.
Conforme o Copom, a diminuição de gastos pode aliviar as taxas de juros bancárias, o que ampliaria o crédito disponível para o consumo e para investimentos empresariais.
Com isso, os setores produtivos teriam mais acesso a financiamentos, um fator que poderia contribuir para a expansão econômica no médio prazo.
Para o Banco Central, o crescimento econômico ocorreria graças à redução da pressão sobre o endividamento público e às melhorias nas condições financeiras, no prêmio de risco e na alocação de recursos.
A conclusão do órgão é que, com gastos mais controlados, o país poderia evitar altas adicionais na Selic, dando um fôlego para o crescimento.
Política fiscal e combate à inflação
Outro ponto levantado na ata do Copom é a relação entre gastos públicos e inflação. De acordo com o Banco Central, a elevação dos gastos exerce pressão inflacionária ao lado de um cenário de atividade econômica aquecida e de um mercado de trabalho dinâmico.
O Copom argumenta que, para combater a inflação de maneira eficaz, é necessário que o governo adote uma política fiscal previsível e transparente, reforçando o compromisso com as metas fiscais.
“O cumprimento do arcabouço fiscal e das regras de superávit são elementos importantes para ancorar as expectativas de inflação,” destacou o Copom.
Esse controle das contas públicas, conduzido pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério do Planejamento, busca evitar descontrole fiscal e um crescimento excessivo da dívida pública – o que poderia exigir novos aumentos na taxa de juros.
Endividamento e taxa de juros alta no Brasil
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, que deixa o cargo no final de 2024, já destacou que o alto nível de endividamento do Brasil é um dos fatores que influenciam as taxas de juros.
Campos Neto afirma que o elevado endividamento brasileiro, em comparação com outras economias emergentes, contribui para que o custo do crédito seja mais alto.
Conforme ele explicou, essa situação faz com que o BC precise adotar uma política de juros mais restritiva para controlar a inflação e manter o mercado financeiro estável.
Decisões sobre a Selic e o impacto na economia
As decisões sobre a taxa Selic, influenciadas pelas projeções de inflação futura, refletem o papel do Banco Central em antecipar tendências econômicas.
Esse efeito antecipado é necessário porque mudanças na Selic levam de seis a 18 meses para impactar a economia completamente.
A meta de inflação estabelecida para 2024 é de 3%, e o BC está de olho no cumprimento desse índice para os próximos anos. Estimativas recentes do mercado financeiro, segundo o Portal G1, projetam que a inflação de 2024 alcance 4,62% – uma taxa acima da meta central.
A partir de 2025, a meta de 3% permanece, com uma tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o que permite uma variação de 1,5% a 4,5% sem descumprimento.
Cenário desafiador no curto prazo
Ainda segundo o Banco Central, o cenário inflacionário para os próximos meses apresenta desafios adicionais. A estiagem prolongada que afeta o preço dos alimentos e a valorização do dólar são alguns dos fatores que pressionam a inflação de forma consistente.
O BC também observa que a inflação nos serviços, setor de maior inércia inflacionária, permanece acima do ideal. Essa realidade, associada ao ritmo aquecido da atividade econômica, torna ainda mais difícil alcançar a meta de inflação.
Incertezas internacionais
O Copom também apontou que o cenário internacional permanece instável. A economia dos Estados Unidos, por exemplo, ainda enfrenta incertezas quanto à desaceleração e ao ritmo de desinflação, o que influencia a política monetária global e afeta o Brasil.
Se o Federal Reserve decidir manter os juros altos nos EUA, o dólar tende a se valorizar frente ao real, impactando negativamente o controle da inflação no Brasil.
A valorização do dólar no mercado brasileiro, a volatilidade da bolsa de valores e o aumento do prêmio de risco refletem essas incertezas.
Assim, o Banco Central permanece atento ao ritmo da atividade econômica doméstica e às políticas internacionais, buscando ajustar a Selic conforme a evolução do cenário.
O papel da atividade econômica e do mercado de trabalho
A análise do BC ressalta ainda a influência do mercado de trabalho no comportamento da inflação. Com um mercado de trabalho aquecido e a expansão do crédito às famílias, o consumo e a demanda agregada se mantêm fortes, favorecendo o crescimento econômico.
No entanto, a entidade reforça que esses fatores também trazem desafios ao controle inflacionário, pois geram pressões sobre os preços de serviços e produtos.
Com base em todos esses pontos, o Banco Central continuará a acompanhar atentamente as dinâmicas econômicas, especialmente no que se refere ao ritmo de crescimento e à convergência da inflação para a meta estabelecida pelo governo.
A expectativa é que a combinação de uma política fiscal crível e uma política monetária assertiva possa estabilizar a economia nos próximos anos.
E você, acredita que o controle dos gastos públicos pode ser a solução para o crescimento econômico e a redução da inflação?