Estatais brasileiras registraram em julho de 2025 o maior déficit da história para o mês, enquanto a dívida bruta do governo avançou e o setor público consolidado apresentou o segundo pior resultado da série histórica.
As estatais brasileiras fecharam julho de 2025 com déficit de R$ 2,1 bilhões, o maior já observado para esse mês.
O dado aparece no relatório “Estatísticas Fiscais” do Banco Central, divulgado na última sexta-feira (29), e evidencia a deterioração recente das contas públicas.
No mesmo levantamento, o setor público consolidado — que engloba União, Estados, municípios e empresas estatais — somou déficit primário de R$ 66,6 bilhões, o segundo pior desempenho da série para julho.
-
Trabalhadores que começaram antes de 1988 podem pedir até R$ 600 mil do Banco do Brasil no PIS/PASEP; prazo de 10 anos só corre após acesso às microfichas
-
O Brasil agora vai vender ingredientes para ração ao Japão, um mercado que já importou US$ 3,3 bilhões do nosso agronegócio em 2024
-
Construção 5× mais rápida e 50% mais barata: blocos de 0,5 m², argamassa 90% menor e vigas sem madeira transformam obra; pedreiro chega a 100 m²/dia
-
Brasil envia aviões cargueiros com Gir Leiteiro para país vizinho e inaugura nova rota de genética leiteira na América do Sul
Déficit recorde das estatais brasileiras
O saldo negativo superou o recorde anterior, registrado em 2024, quando o déficit havia sido de R$ 1,7 bilhão.
Nos anos anteriores, o resultado de julho alternou entre superávits e déficits, com forte oscilação.
Em 2020, por exemplo, houve superávit de R$ 789,8 milhões, seguido por R$ 785,6 milhões em 2021.
O ano de 2022 trouxe déficit de R$ 1,3 bilhão, enquanto 2023 apresentou superávit de R$ 904,4 milhões.
Esse histórico reforça o caráter instável da série e ajuda a dimensionar a gravidade do número de 2025.
Diferentemente de outros períodos, quando o saldo variava pouco, o dado mais recente rompeu o padrão e consolidou o pior desempenho já anotado em um mês de julho.
O acumulado do ano, que também tem mostrado resultados negativos sucessivos, amplia a preocupação com a trajetória das estatais.
Setor público consolidado em julho
O déficit primário de R$ 66,6 bilhões registrado no setor público consolidado só perde para julho de 2020, ano marcado pelos impactos da pandemia.
A maior parte do rombo veio do governo central, mas Estados, municípios e estatais também encerraram o mês no vermelho.
Na soma de 12 meses até julho, o consolidado acumula déficit de R$ 27,3 bilhões, equivalente a 0,22% do PIB.
O dado mostra enfraquecimento em relação a resultados recentes e reforça a pressão sobre as contas públicas.
Além do primário, o resultado nominal — que considera os juros — manteve-se pressionado pela despesa financeira elevada e pela necessidade de financiamento.
Esse cenário, ainda que secundário no relatório, ajuda a compreender a dinâmica da dívida.
Dívida bruta encosta em R$ 9,6 trilhões
A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) alcançou 77,6% do PIB em julho, o equivalente a R$ 9,6 trilhões.
O índice subiu 0,9 ponto percentual em relação a junho.
Segundo o Banco Central, o avanço foi resultado principalmente dos juros nominais apropriados, das emissões líquidas de títulos e de variações cambiais, suavizados apenas pelo efeito do PIB nominal.
Na prática, a dívida manteve tendência de alta e consolidou-se como um dos principais pontos de atenção do quadro fiscal.
A elevação não se explica apenas por julho.
A combinação de gasto com juros elevados e necessidade constante de rolagem de papéis pressiona o estoque mês a mês.
Com isso, a piora do resultado primário contribui menos para segurar o avanço da relação dívida/PIB.

Fatores que explicam o resultado de julho
Parte do déficit de julho decorreu de efeitos específicos.
No governo central, os pagamentos de precatórios, concentrados no mês após adiamentos anteriores, ampliaram o volume de despesas.
Ao mesmo tempo, a arrecadação perdeu fôlego diante da desaceleração da atividade econômica.
Já nos entes subnacionais, a menor entrada de transferências somou-se à sazonalidade de despesas para pressionar as contas.
As estatais, por sua vez, foram impactadas tanto pelo desempenho de empresas individuais quanto por investimentos e desembolsos concentrados no período.
O resultado final ficou acima das oscilações comuns ao histórico da série e estabeleceu novo recorde negativo para julho.
Impactos para a política fiscal
O desempenho das contas adiciona dificuldades à execução das metas fiscais e ao funcionamento do arcabouço.
Com a DBGG em 77,6% do PIB e um déficit elevado em julho, a necessidade de reforço do primário volta ao centro do debate.
Além do efeito pontual dos precatórios, a trajetória do gasto obrigatório e a eficiência das medidas de aumento de arrecadação serão determinantes para o segundo semestre.
A relação dívida/PIB também depende diretamente do custo da rolagem da dívida.
Com juros ainda altos, o Tesouro enfrenta despesas mais pesadas, o que retroalimenta a trajetória de crescimento da DBGG.
Esse círculo exige maior esforço do lado fiscal para evitar que a dívida siga em expansão acelerada.
O relatório do Banco Central, divulgado mensalmente, funciona como sinal de curto prazo sobre a evolução desses indicadores.
Histórico das contas públicas em julho
O comparativo entre 2024 e 2025 mostra salto expressivo. No ano passado, o déficit havia sido de R$ 21,3 bilhões.
Agora, em julho de 2025, chegou a R$ 66,6 bilhões. Embora fatores extraordinários expliquem parte do aumento, o dado reforça a deterioração fiscal recente.
No caso das estatais, a diferença também impressiona. De R$ 1,7 bilhão negativos em julho de 2024 para R$ 2,1 bilhões em julho deste ano.
Dois anos antes, o saldo havia sido positivo, o que mostra a forte variabilidade do setor.
Perspectivas para os próximos meses
Os números seguintes indicarão se o desempenho de julho representa apenas uma exceção ou se inaugura uma tendência de maior fragilidade.
Medidas de recomposição de receitas, controle de despesas obrigatórias e eventuais ações extraordinárias terão papel decisivo nesse desfecho.
No caso das estatais, o comportamento operacional das grandes companhias e o calendário de investimentos podem suavizar ou ampliar a pressão.
A pergunta que se impõe é: com déficit recorde nas estatais, rombo de R$ 66,6 bilhões no consolidado e dívida em 77,6% do PIB, qual estratégia terá força suficiente para restaurar o equilíbrio das contas públicas sem comprometer a atividade econômica?