Cientistas chineses identificam a cepa Niallia tiangongensis, adaptada ao ambiente espacial e com propriedades bioquímicas inéditas
Uma nova bactéria capaz de sobreviver aos extremos do espaço foi descoberta por cientistas chineses na Estação Espacial Tiangong. Batizada de Niallia tiangongensis, a cepa apresenta mutações incomuns que podem transformar o estudo da biotecnologia em ambientes extraterrestres. O achado foi descrito por pesquisadores do Instituto de Engenharia de Sistemas Espaciais de Pequim em artigo publicado no International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology.
A amostra foi coletada em 2023 por taikonautas (como são chamados os astronautas chineses) com um método improvisado e engenhoso: lenços umedecidos esterilizados foram utilizados para limpar superfícies internas da estação. Os materiais foram então congelados e devolvidos à Terra para análise detalhada.
Parente terrestre com mutações surpreendentes
A nova bactéria é geneticamente relacionada à Niallia circulans, espécie comum encontrada em solo, esgoto, alimentos e até fezes humanas. No entanto, a versão encontrada em órbita apresenta mutações significativas que afetam sua estrutura e funcionamento.
-
Existe um tesouro de US$ 20 milhões por quilo escondido na Lua — e estamos prontos para extraí-lo
-
O “Ozempic brasileiro” chega às farmácias com um preço mais acessível. Veja mais sobre
-
Novo relógio atômico é tão exato que pode mudar a forma como o mundo conta o tempo
-
Carregar o celular na cama pode custar caro: risco de incêndio aumenta com lençóis, cobertores e colchões inflamáveis
De acordo com os cientistas chineses, a Niallia tiangongensis demonstrou uma habilidade única de hidrolisar gelatina, o que indica que consegue utilizar esse composto como fonte de energia em ambientes com poucos nutrientes — uma vantagem crucial para a sobrevivência em missões espaciais de longa duração.
Resistência extrema e potencial biotecnológico
A bactéria também revelou alterações em duas proteínas essenciais, responsáveis por reforçar a formação de biofilmes, estruturas bacterianas que garantem maior proteção contra agentes externos como radiação cósmica e estresse oxidativo. Tais características são fundamentais para que um organismo sobreviva nas condições hostis do espaço sideral.
Segundo o artigo, essas mutações conferem à bactéria uma impressionante capacidade de reparo celular, o que pode representar um marco para pesquisas em engenharia genética, fabricação de medicamentos e até na criação de sistemas de reciclagem biológica em ambientes fechados, como futuras colônias em Marte ou na Lua.
Outras descobertas espaciais recentes
Essa não foi a única bactéria resistente identificada em órbita. Em 2023, cientistas da NASA relataram a descoberta de uma versão mutante da Enterobacter bugandensis na Estação Espacial Internacional — uma cepa resistente a múltiplos antibióticos, normalmente encontrada no intestino humano.
Esses achados reforçam a teoria de que o ambiente espacial funciona como um acelerador evolutivo, forçando micro-organismos a desenvolverem mecanismos de sobrevivência nunca observados na Terra.
A China e o avanço na biologia espacial
A descoberta da Niallia tiangongensis destaca o papel da China como protagonista em pesquisas de biologia espacial aplicada. Além de explorar a presença da vida no espaço, o país demonstra interesse em utilizar essas descobertas em projetos de sustentabilidade fora do planeta.
O estudo da bactéria pode servir de base para a criação de sistemas autossustentáveis em estações espaciais, produção de energia biológica e até soluções para descontaminação ambiental em missões de longa duração.