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Avanço de energia solar e eólica traz riscos para a estabilidade da matriz elétrica

Escrito por Paulo H. S. Nogueira
Publicado em 17/09/2025 às 08:13
Painéis solares instalados em campo verde sob céu parcialmente nublado ao meio-dia.
Painéis solares captando energia sob um céu de meio-dia parcialmente nublado.
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Entenda os riscos do crescimento de solar e eólica e os desafios para a estabilidade da matriz elétrica no Brasil.

O Brasil se destaca no cenário internacional por possuir uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo. Além disso, entre os países do G20, o país ocupa posição de liderança graças à predominância de fontes renováveis em sua produção de energia.

Essa transformação energética ocorreu de forma significativa ao longo das últimas décadas; portanto, é essencial analisar seus impactos. Especialmente a partir de 2010, quando o crescimento das fontes solar e eólica começou a se consolidar, o avanço trouxe desafios importantes. Principalmente em relação à estabilidade da matriz elétrica, tema que exige atenção de investidores, reguladores e consumidores.

Historicamente, as hidrelétricas dominaram a matriz elétrica brasileira. Em 2010, cerca de 78% da energia gerada no país vinha dessas usinas, que ofereciam uma produção estável e despachável. Ou seja, podia ser ajustada conforme a demanda.

Entretanto, com o passar dos anos, a necessidade de diversificação, aliada à pressão internacional por fontes mais limpas, impulsionou o investimento em energia solar e eólica.

Assim, em 2024, essas fontes já representam aproximadamente 24% da matriz elétrica brasileira, enquanto a participação das hidrelétricas caiu para 56%. Portanto, embora o Brasil se consolide como referência em energia limpa. Também surgem desafios centrais: garantir a estabilidade da matriz elétrica diante da intermitência das novas fontes renováveis.

Além disso, o crescimento acelerado das energias renováveis trouxe mudanças na economia e na dinâmica do setor elétrico. Como consequência, o aumento da oferta de energia limpa abriu oportunidades para novos modelos de negócios. Como o mercado livre de energia, e estimulou a inovação tecnológica.

No entanto, esse crescimento rápido exige ajustes regulatórios constantes e políticas públicas que incentivem não apenas a expansão da capacidade instalada, mas também a segurança operacional do sistema.

Avanço das renováveis e seus impulsionadores

O avanço da energia solar e eólica ocorreu devido a diferentes fatores. Primeiramente, incentivos governamentais, como benefícios fiscais, crédito subsidiado do BNDES e, mais recentemente, apoio do Fundo Clima, estimularam a expansão dessas fontes.

Além disso, a queda nos custos de painéis solares e turbinas eólicas, resultado de avanços tecnológicos globais, tornou esses investimentos economicamente viáveis.

Ao mesmo tempo, a confiança crescente dos investidores, refletida no aumento do fluxo de capital privado, acelerou a implantação de parques solares e eólicos em várias regiões do país.

Portanto, esses elementos criaram um ambiente favorável ao crescimento rápido das renováveis; no entanto, também levantaram questões sobre a capacidade do sistema de manter o equilíbrio entre oferta e demanda.

Outro ponto relevante é que a expansão dessas fontes impacta diretamente a infraestrutura de transmissão. Como as usinas solares e eólicas estão distribuídas em regiões distantes dos grandes centros consumidores, o setor precisa investir em linhas de transmissão mais longas e sofisticadas.

Assim, esse fator reforça o desafio de manter a estabilidade da matriz elétrica, pois falhas na transmissão podem comprometer todo o sistema e gerar custos adicionais para a sociedade.

Além disso, a principal característica que torna solar e eólica desafiadoras para a estabilidade da matriz elétrica é a intermitência. Diferentemente das hidrelétricas e das termelétricas a combustíveis fósseis, essas fontes não podem ser acionadas sob demanda.

Elas dependem diretamente do sol e do vento, que nem sempre aparecem na intensidade necessária. Quando a geração dessas fontes excede a demanda, os operadores precisam descartar a energia excedente, um processo conhecido como curtailment.

Como resultado, esse fenômeno gera perdas financeiras para as empresas e aumenta os custos para os consumidores, evidenciando a complexidade de integrar grandes volumes de energia intermitente sem comprometer a confiabilidade do sistema.

Intermitência e custos adicionais ao sistema

O problema se agrava quando a produção de energia solar e eólica cai repentinamente.

Nesses momentos, o sistema elétrico recorre a fontes despacháveis capazes de responder rapidamente, normalmente termelétricas a gás ou carvão.

No Brasil, grande parte desses contratos inclui uma remuneração fixa, o que mantém os custos altos mesmo quando a energia não é gerada.

Assim, paradoxalmente, quanto maior a dependência de fontes intermitentes, maior pode ser a participação de combustíveis fósseis, tornando a matriz elétrica mais vulnerável e, em certos períodos, menos limpa.

Além disso, a intermitência complica a operação do sistema elétrico. Como a previsibilidade diminui, os operadores precisam realizar investimentos adicionais em transmissão, monitoramento e equipamentos de estabilidade.

Esse desafio não é exclusivo do Brasil; de fato, em abril deste ano, a Península Ibérica sofreu um apagão que deixou 57 milhões de pessoas sem energia.

Consequentemente, a dificuldade em equilibrar a geração de fontes intermitentes com a demanda real mostrou que a estabilidade da matriz elétrica é uma preocupação global à medida que o mundo avança na transição energética.

Também é necessário considerar os impactos sociais e econômicos de falhas no sistema. Por exemplo, apagões e restrições na oferta de energia podem afetar hospitais, indústrias e serviços essenciais, gerando prejuízos e descontentamento social.

Portanto, a preocupação com a estabilidade da matriz elétrica envolve planejamento estratégico, políticas públicas e conscientização de todos os atores da cadeia energética.

Caminhos para a estabilidade da matriz elétrica

Para enfrentar essas questões, o Brasil precisará buscar soluções que aumentem a confiabilidade do sistema.

Entre as alternativas estão o armazenamento em larga escala por meio de baterias e a expansão da energia nuclear, capaz de fornecer energia estável e despachável.

Além disso, a combinação dessas estratégias com a energia solar e eólica poderia permitir que o país mantenha sua matriz limpa sem comprometer a segurança do fornecimento.

É importante destacar que a questão não se limita ao fornecimento imediato; portanto, a estabilidade da matriz elétrica também exige planejamento de longo prazo, investimentos em transmissão e políticas públicas que considerem tanto a expansão das renováveis quanto a manutenção de fontes confiáveis.

Historicamente, o setor elétrico brasileiro enfrentou desafios significativos que moldaram a forma como a matriz opera atualmente.

Os apagões de 2009 a 2011 marcaram a vulnerabilidade do sistema diante de variações na oferta e na demanda.

As mudanças regulatórias implementadas naquela época abriram caminho para a entrada de novas fontes de energia e para o crescimento do mercado livre de eletricidade; contudo, também destacaram a necessidade de equilíbrio entre inovação e confiabilidade.

Esse equilíbrio continua sendo o maior desafio na integração de energia solar e eólica à matriz elétrica.

O futuro da estabilidade da matriz elétrica também dependerá da integração de tecnologias digitais, como sistemas inteligentes de monitoramento, redes elétricas interconectadas e previsão meteorológica avançada.

Consequentemente, esses recursos ajudam a reduzir riscos operacionais e permitem ajustes em tempo real, tornando o sistema mais resiliente frente à intermitência das renováveis.

Estabilidade da matriz elétrica: Desafios e oportunidades para o futuro

O crescimento das fontes renováveis merece celebração, pois contribui para a redução de emissões de carbono e posiciona o Brasil como líder em energia limpa.

No entanto, comemorar não significa ignorar os riscos. De fato, a experiência internacional mostra que a expansão rápida de energias intermitentes sem planejamento adequado pode gerar crises, apagões e aumento de custos para a sociedade.

Por isso, políticas públicas, investimentos privados e pesquisa tecnológica devem caminhar juntos para garantir que a transição energética não comprometa a estabilidade da matriz elétrica.

Em resumo, o Brasil vive um momento de grande transformação energética.

A participação crescente de solar e eólica coloca o país na vanguarda da energia limpa; no entanto, também exige atenção constante à intermitência, curtailment, necessidade de fontes de backup e complexidade operacional do sistema.

Garantir a estabilidade da matriz elétrica será essencial para que a expansão das renováveis continue a gerar benefícios econômicos e ambientais, sem criar vulnerabilidades que comprometam o fornecimento de energia no futuro.

Portanto, com planejamento estratégico, investimento em tecnologia e políticas adequadas, é possível conciliar crescimento das energias renováveis e confiabilidade do sistema elétrico, assegurando que o Brasil continue a liderar a transição energética de forma sustentável.

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Paulo H. S. Nogueira

Sou Paulo Nogueira, formado em Eletrotécnica pelo Instituto Federal Fluminense (IFF), com experiência prática no setor offshore, atuando em plataformas de petróleo, FPSOs e embarcações de apoio. Hoje, dedico-me exclusivamente à divulgação de notícias, análises e tendências do setor energético brasileiro, levando informações confiáveis e atualizadas sobre petróleo, gás, energias renováveis e transição energética.

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