Venezuela acusa Washington de usar o combate ao narcotráfico como pretexto para mobilizar aviões furtivos e navios de guerra, enquanto Nicolás Maduro responde com manobras, milícias e decretos de emergência nacional
A tensão entre Estados Unidos e Venezuela voltou a escalar após a denúncia de que caças F-35 norte-americanos teriam invadido o espaço aéreo venezuelano. De acordo com declarações do ministro da Defesa, Vladimir Padrino, transmitidas pela TV estatal, o sistema de defesa aérea da Venezuela detectou mais de cinco vetores, identificados como aviões de combate.
Segundo informações divulgadas pelo G1, os Estados Unidos mobilizaram 10 caças F-35 em Porto Rico há quase um mês, reforçando sua presença militar no Caribe. Além disso, Washington enviou oito navios de guerra, em uma operação que oficialmente estaria voltada para o combate ao narcotráfico. Para Caracas, no entanto, trata-se de uma clara provocação.
O presidente Nicolás Maduro classificou a ação como um “cerco militar” e uma ameaça direta à soberania venezuelana. Em suas palavras, o “imperialismo norte-americano ousou se aproximar das costas da Venezuela”, mas garantiu que o país não se intimida com a movimentação de forças inimigas.
-
Prevenção de desastres em Minas Gerais fortalece municípios com geologia aplicada, mineração sustentável, energia integrada e defesa civil estruturada em projeto pioneiro nacional
-
Recorde de brasileiros deportados dos EUA em 2025
-
Venezuela em colapso: como a crise econômica e política expulsou mais de 8 milhões de pessoas desde 2014 e por que quase nenhum imigrante escolhe as Guianas como destino?
-
Tridente: militares da Argentina e dos EUA planejam exercícios militares em Mar del Plata, Ushuaia e Puerto Belgrano em meio a acordos políticos
Maduro denuncia “provocação imperialista” e reage com militares
Padrino reforçou o tom de denúncia internacional, alegando que a presença dos caças representa não apenas uma provocação, mas também uma ameaça real à segurança nacional. Ele afirmou ainda que pilotos de voos comerciais avistaram aeronaves militares próximas às rotas aéreas.
Nas últimas semanas, operações americanas já haviam resultado em bombardeios contra quatro lanchas de supostos narcotraficantes. Caracas, entretanto, acusa os EUA de usar o combate ao tráfico de drogas como pretexto político para tentar desestabilizar o governo Maduro e se apropriar das maiores reservas de petróleo do mundo.
Em resposta, o presidente venezuelano ordenou a mobilização de tropas, navios, helicópteros e veículos anfíbios, realizando grandes exercícios militares em La Orchila, no norte do país, em 20 de setembro. Segundo o governo, cerca de 2.500 militares participaram das manobras, que incluíram simulações de emergência e treinamentos da Milícia Bolivariana, composta por civis armados.
Maduro prepara decreto de estado de comoção e antecipa o Natal
Além das manobras militares, Nicolás Maduro anunciou que possui pronto um decreto para declarar estado de comoção exterior, medida que ampliaria seus poderes diante da crise com os Estados Unidos. Apesar disso, o alcance jurídico ainda é incerto, já que o dispositivo nunca foi aplicado na Venezuela e poderia até suspender garantias constitucionais.
Em paralelo à tensão, o presidente tomou uma decisão inusitada: adiantou o início do Natal para 1º de outubro, afirmando defender “o direito à felicidade” do povo. A ação repetiu o movimento de 2024, quando, após protestos que deixaram 28 mortos e 2.400 presos, o governo também antecipou as festividades. O regime chegou a iluminar prédios públicos e lançar fogos na sede do serviço de inteligência, o temido Helicoide, onde há denúncias de presos políticos.
Venezuela amplia combate ao narcotráfico e ataca grupos armados
Enquanto denuncia os EUA, o ministro Vladimir Padrino apresentou um balanço das operações internas contra o crime organizado. Segundo ele, forças venezuelanas destruíram acampamentos de narcotraficantes, além de posições atribuídas ao ELN e a dissidências das Farc que operam na fronteira.
Com tom desafiador, o ministro afirmou que a Venezuela está “disposta a defender sua soberania e espaço geográfico diante de qualquer intruso”. Ele enviou ainda um recado direto: “Quem estiver operando por ali, narcotraficantes, saia do território venezuelano, vá delinquir em outro lugar”.
Escalada de tensões no Caribe preocupa a comunidade internacional
O episódio mais recente ocorreu na quinta-feira, 2 de outubro, quando Caracas afirmou que cinco caças americanos se aproximaram da costa venezuelana. O anúncio reforçou o clima de hostilidade e aumentou a preocupação internacional sobre um possível confronto direto entre as duas nações.
De acordo com o governo dos EUA, as operações no Caribe seguem justificadas como parte de uma estratégia de combate ao narcotráfico transnacional. Para a Venezuela, no entanto, trata-se de um disfarce para intervenções militares e tentativas de desestabilizar o regime de Nicolás Maduro.
Conforme reportado pelo G1, os próximos meses prometem novos capítulos de tensão, já que Washington mantém tropas, aviões e navios na região, enquanto Caracas intensifica seus exercícios militares e reforça o discurso de resistência contra o que chama de “ameaça imperialista”.