Especialista em regulação e mercado de petróleo e derivados que as áreas mais impactantes são as refinarias, a questão do PPI e diminuição dos dividendos
Muito provavelmente você, leitor, se lembra do filme com o Bill Murray, chamado Feitiço do Tempo; filme em que seu personagem fica preso em uma armadilha temporal que o faz reviver o mesmo dia vezes sem fim. Esse é o cenário econômico atual quando falamos do mercado de petróleo e derivados no Brasil.
Colocando partidarismos e vieses ideológicos de lado, e, se realizando uma análise fria do comportamento do mercado, claramente o comportamento demonstrado desde a declaração dos resultados para presidente, confirmando o retorno de Lula ao poder central, é de agitação e a incerteza com o futuro que apresenta em um horizonte extremamente próximo. Ao menos é o que se tem percebido ao se observar as movimentações dos mercados de petróleo, especialmente os relacionados à Petrobras.
Grau de incertezas referente a Petrobras
O alto grau de incertezas acerca do futuro deste segmento em específico, encontra amparo nas ocorrências passadas em outros governos petistas em relação aos seus escândalos, e que tem impacto nos papéis da Petrobrás, que registrou desde o final da última semana uma perda acumulada de ao menos 10.00% no valor dos seus papéis (PETR3, PETR4) desde a confirmação da vitória do ex-Presidente da República.
- Vitória do petróleo e gás? Empresas petrolíferas estão se afastando da energia verde e faturando BILHÕES com combustíveis fósseis
- Petrobras choca o mundo ao prometer TRANSFORMAR o Brasil com investimento de US$ 111 BILHÕES e geração de milhares de empregos! Será a virada do país?
- Petrobras tem plano audacioso de investimentos: a área de exploração e produção contará com um orçamento de US$ 77 bilhões (R$ 440 bilhões), enquanto US$ 20 bilhões (R$ 114 bilhões) serão destinados ao refino
- Brasil e Argentina fecham mega-acordo para importar gás natural barato e revolucionar a integração energética na América do Sul!
Ao que tudo indica, o governo futuro já tem o possível nome para assumir o cargo de presidente da estatal e para tanto já sonda o nome de Jean Paul Prates, ex-suplente de Fátima Bezerra e atual senador pelo Rio Grande do Norte, para esta cadeira. Jean Paul Prates é uma figura pouco conhecida do Sudeste brasileiro, mas muito conhecida no Estado do Rio Grande do Norte, onde tem uma longa carreira como consultor nas áreas de energia e petróleo, inclusive ocupando cargos de confiança, tanto na ANP quanto em secretariados potiguares.
Principais preocupações do mercado de petróleo brasileiro
Mas o que inquieta o mercado nesse momento, não se refere à capacidade técnica de seu potencial “futuro” presidente, mas sim, o pensamento intervencionista que acompanha o partido o qual lhe pretende indicar como presidente. Tal pensamento já se apresentou ao mercado, ainda que de forma acanhada. Entre as suas possíveis ações como o chefe da estatal, pode-se listar as mais impactantes, e que talvez coloque o mercado com sentimento de viver o enredo do filme com Bill Muray. São elas:
- Recompra “equilibrada” das refinarias privatizadas;
- Upgrade e expansão das refinarias em expansão;
- Trocar o PPI por preço mercado regional;
- Diminuir os dividendos para investir mais;
Vale ressaltar que as políticas de preços da estatal estão baseadas em práticas mercadológicas que visam o abastecimento do mercado através de equilibração de preços em “pari pasu” com os custos envolvidos na importação de combustíveis, em especial o óleo diesel. Pois diferente do que se é sempre bradado pelos políticos, o Brasil, devido à deficiência na capacidade produtiva de suas refinarias, não consegue refinar todo o petróleo que produz, e, por isso, importa cerca de 60.00% de todo o óleo diesel consumido no país.
Desta forma, ao se revogar a regra do PPI e tornando os preços equiparados regionalmente, pode demonstrar a prática de intervencionismo ante ao mercado. E assim a regra de ouro do mercado será aplicada, tornando desinteressante a competição dada a sua baixa lucratividade ou oportunidade de ganho. E, muito provavelmente, resultará em escassez de produtos no mercado, refletindo futuramente nos preços que serão pressionados a subirem porque haverá alta demanda e baixa oferta.
Outro efeito negativo desse tipo de gestão em relação às políticas internas da estatal, sem dúvida alguma pode ter efeitos danosos, principalmente nos relacionados ao posicionamento de mercado e valuation da companhia. Muito embora a BR seja tratada como estatal, ela na realidade é uma empresa de economia mista que possui papéis nas principais bolsas de valores no mundo e logo seus investidores visam lucratividade.
Obviamente ao saber que seu principal acionista e controlador pretende reduzir sua lucratividade com vistas a manter suas políticas populistas, naturalmente seus papéis podem perder valor, e, por conseguinte, suas ações se tornariam desinteressantes.
Para alguns, essas ações foram surpreendentes, já para outros, trata-se de ações totalmente previsíveis. Vamos aguardar o desenrolar das coisas com muita cautela.
*Antonio Ticianeli é engenheiro químico, especialista em regulação e mercado de petróleo e derivados (Este artigo não represente necessariamente a opinião do Click Petróleo e Gás)