Rota terrestre de 6 200 km conecta Copacabana ao Pacífico em cinco dias de ônibus, cruzando Amazônia e Andes por tarifas a partir de R$ 1 000
O passageiro que embarca toda quinta-feira, às 13 h, na rodoviária Novo Rio encara a façanha de atravessar o continente em cinco dias e meio até o Terminal Atocongo, em Lima, sem trocar de veículo.
Desde março de 2023, a Viação Trans Acreana mantém o trecho Rio de Janeiro ⇄ Lima, reconhecido pelo Guinness World Records como “a maior linha rodoviária regular do planeta”. O percurso tem 6 200 quilômetros, cruza seis estados brasileiros, penetra na Amazônia peruana, escala a Cordilheira dos Andes e termina às margens do Pacífico — tudo por a partir de R$ 1 000 na tarifa promocional.
Como nasceu a rota interoceânica
O corredor terrestre entre Atlântico e Pacífico já existia, mas perdeu força quando a peruana Ormeño suspendeu a lendária linha Rio–Bogotá em 2020. Um vazio parecia definitivo até que, três anos depois, a Trans Acreana assumiu parte da Rodovia Interoceânica, ligando Copacabana às falésias limeñas.
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A retomada recolocou a América do Sul no mapa das maratonas terrestres e atraiu aventureiros de várias nacionalidades. “É a maior linha rodoviária regular do planeta”, reafirma o Guinness World Records, que atualizou o registro em 2023.
O caminho por dentro do continente
A viagem atravessa Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre antes de alcançar a tríplice fronteira em Assis Brasil. No lado peruano, a carreta passa por Iñapari, Puerto Maldonado, Cusco, Abancay, Nazca e Ica até desembocar em Lima. São cerca de 30 paradas oficiais que servem para abastecimento, embarque ou refeição; algumas duram poucos minutos, outras chegam a uma hora. O ponto mais alto está próximo a Cusco e ultrapassa 4 000 metros de altitude — convém preparar o fôlego para o ar rarefeito.
Tempo total de estrada
Em condições climáticas normais, o relógio marca aproximadamente 120 horas entre saída e chegada. Chuvas na Amazônia ou nevascas nos Andes reduzem a velocidade média e podem esticar o cronograma; ainda assim, o atraso raramente passa de dez horas, segundo dados da empresa e relatos de viajantes de 2024 e 2025.
Horários, frequência e preço
O ônibus parte quinzenalmente nas manhãs de quinta-feira do Rio e retorna da capital peruana na quinta seguinte, também às 13 h. A Trans Acreana pretende aumentar a oferta para saídas semanais em feriados prolongados e férias escolares.
A passagem padrão custa R$ 1 350 no site ou em plataformas como ClickBus, mas promoções digitais reduzem o valor a R$ 1 000. Nos guichês físicos não se cobra taxa de serviço. Cada cliente pode transportar 50 quilos de bagagem despachada sem custos adicionais.
O que existe dentro do double-deck
O veículo é um double-deck semi-leito com 50 lugares. As poltronas reclinam 160 graus e contam com porta-USB, cortinas blackout e apoio de pernas. Ar-condicionado funciona durante todo o trecho; entretanto, passageiros relatam temperatura interna baixa, por isso um cobertor leve ajuda.
No piso inferior ficam o banheiro, o filtro de água gelada e um compartimento para mochilas. Wi-Fi depende de sinal 4G ao longo da rodovia e, como frisa a companhia, “funciona de forma intermitente”. Sem serviço de bordo, mantas, travesseiros e fones devem ser levados de casa.
Rotina a bordo e alimentação em terra
Os motoristas — sempre dois, que se revezam — realizam três paradas diárias em restaurantes simples de postos de estrada. Café da manhã, almoço e jantar custam entre R$ 30 e R$ 40 no lado brasileiro. No Peru, o gasto médio fica entre 25 e 35 soles, algo próximo a R$ 35. Em alguns pontos há quartos e chuveiros; um banho quente normalmente sai por cerca de R$ 10. Como obras ou deslizamentos podem alterar horários, recomenda-se levar garrafa térmica, lanches secos e lenços umedecidos.
Documentos e imigração
Brasileiros viajam apenas com RG emitido há menos de dez anos ou passaporte válido. O controle de saída é feito pela Polícia Federal em Assis Brasil; a entrada no Peru ocorre dez quilômetros depois, em Iñapari.
Não há exigência de visto nem de comprovante de vacinação contra Covid-19 em setembro de 2025. A fila costuma ser rápida, mas a empresa aconselha portar caneta e preencher com antecedência o cartão migratório local.
Quando colocar o pé na estrada
Entre abril e setembro, período seco na Amazônia, as vias de terra ficam mais firmes e o céu nos Andes aparece sem nuvens, reduzindo o risco de bloqueios. De outubro a março, as chuvas engrossam as cachoeiras ao longo da Interoceânica, porém aumentam a chance de barreiras caírem. Nos meses de julho e agosto, a altitude leva os termômetros a marcar valores negativos perto de Cusco; leve casaco pesado e luvas.
Truques para cinco dias de movimento constante
Variar o começo das observações ajuda o leitor tanto quanto o viajante:
Primeiramente, chip internacional ou e-SIM garantem internet quando o Wi-Fi falha.
Depois, folhas de coca ou pastilhas de soroche aliviam o mal-de-altura acima dos 3 500 metros.
Em seguida, um travesseiro inflável e um carregador USB-C extra tornam as noites mais confortáveis.
Por fim, dinheiro vivo em soles facilita o pagamento de refeições no Peru, onde muitos estabelecimentos não aceitam cartão.
O espetáculo das janelas panorâmicas
Poucas passagens terrestres oferecem tanta diversidade de paisagens no mesmo bilhete: os edifícios art déco de Copacabana desaparecem para dar lugar às fazendas paulistas, que cedem espaço ao Pantanal, seguido pela mata densa de Rondônia.
Horas depois, o ônibus corta a Floresta Amazônica peruana, sobe encostas nevadas nos Andes e, perto de Nazca, encontra o deserto costeiro antes de avistar o Pacífico. Em qualquer estação, o celular vira uma espécie de diário visual — vale economizar bateria para registrar onças-pintadas, picos brancos e geoglifos milenares.
Vale o investimento?
O trajeto de avião entre Rio e Lima dura pouco mais de cinco horas, mas custa em média R$ 2 500 ida e volta. Pelo ônibus, a economia ultrapassa R$ 1 000 e, em contrapartida, adiciona um mosaico de cenários que mudam a cada novo fuso, vegetação ou relevo.
Quem não tem pressa e procura colecionar experiências — não apenas deslocar-se — encontra na linha Rio–Lima uma aula geográfica a céu aberto. Quantas estradas no mundo ainda permitem cruzar florestas tropicais, campos alagados, altiplanos andinos e desertos costeiros em um único banco reclinável?
Você se arriscaria a trocar o embarque rápido do avião por quase uma semana de janela infinita para viver essa travessia continental sobre rodas?